43. Queda livre (Por Isabela).

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            Em muitos momentos da nossa vida a espera é algo insuportável. Quando criança, não há nada mais agoniante do que esperar que a fila da sorveteria diminua ou que o tempo do castigo passe voando. Quando a gente cresce, pensamos que essas agonias vão desaparecer, mas existem situações onde a calma nem se dá a preocupação de aparecer.

Já se faziam cinco horas que Otávio havia sido levado para a sala de cirurgia mais uma vez. Depois das últimas coisas que ouvi, ninguém falou uma única palavra ao sair da sala, empurrando-o na maca pelo corredor. A enfermeira sardenta nem olhou para mim. Desapareceram pelo corredor, deixando-nos desamparados até que uma médica jovem e bonita aproximou-se de onde estávamos.

─Vocês são os familiares de Otávio Cruz?

Marina assentiu.

─Somos.

Em seguida, ela começou a explicar o que tinha acontecido. Organismo incapaz de enviar oxigênio para o cérebro ou algo do tipo. Eu escutava palavras como aquela todos os dias, mas naquele momento não faziam o mínimo sentido. Não podia ser Otávio naquela situação. Não era possível que fosse.

Quando a médica se afastou, prometendo nos manter informados sobre o procedimento, Melinda desatou a chorar. Dona Ana, que naquele momento não possuía mais forças para chorar, apenas abraçou a filha, consolando-a carinhosamente. Marina olhou para mim, os olhos brilhando fortemente.

─Ele vai ficar bom, Bela? Você entende essas coisas. Por favor, me diga.

Balancei a cabeça.

─Não sei dizer. Não sei o que vai acontecer.

Ela continuou triste, mas assentiu, compreensiva.

Me sentei na cadeira de espera, omissa a qualquer movimento que acontecesse ao meu redor. Enquanto não houvesse mais uma notícia sobre Otávio, eu continuaria desligada do mundo. Tudo o que importava é que ele saísse bem daquela sala de cirurgia. Era um milagre, mas eu acreditava em milagres. Eu realmente acreditava.

Estávamos quase em estado de pânico quando o cirurgião-chefe finalmente vinha em nossa direção. O cansaço em seu rosto já deixava claro que aquelas oito horas de cirurgia não haviam sido fáceis. Ele enxugava o suor do rosto, enquanto aproximava-se de nós, numa lentidão que me fervia os nervos.

Nos levantamos rapidamente, agora Olívia e Mateus estavam com a gente. Senti a mão de Marina apertar a minha com força quando o médico estava a apenas dois metros de distância.

─Doutor! – Mateus explodiu, sem cerimônias. – Ele está bem? Otávio está bem?

Já é comum de médicos a expressão impassível. Não importa se a cirurgia tivera sido bem sucedida ou não, o cansaço era tão grande que nenhuma emoção podia ser decifrada através das sobrancelhas franzidas ou queixos rígidos. Isso me deixava ainda mais agoniada.

Aquele intervalo de tempo foi como ir ao inferno e voltar. A tortura mais dolorosa do mundo, só não tão grande quanto aquelas palavras que machucam a alma de qualquer ser humano.

─Sinto muito...

E então não foi preciso mais nenhuma palavra. Senti meu coração se espremer como se estivesse sendo esmagado gradativamente, ao mesmo tempo em que minha cabeça latejava como se pregos fossem martelados em minhas têmporas. Não sei se foram essas dores, o coração acelerado, o grito de dor de Dona Ana, ou o choro desesperado de Mateus o estopim para meu desligamento, mas em poucos segundos eu estava ao chão e nada mais no mundo fazia sentido.


Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora