17. Formatura - Parte III (Por Otávio).

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Eu fiquei sentado enquanto o via se aproximando de Olívia. Ela continuava sorrindo com as amigas, completamente dispersa do que estava prestes a acontecer. Bruna já devia ter conseguido acessar o meu e-mail porque a primeira música da seleção começou a tocar. Era uma versão de estúdio de No such a thing, do John Mayer. Era irônico porque a música dizia "Eles amam dizer: Fique dentro dos limites" e era exatamente o contrário do que Mateus estava fazendo. O que seria os limites? Ter toda uma vida que foi planejada pra você desde que você nasceu? Terminar o ensino médio, ir à faculdade, se formar, arranjar um emprego, casar e ter filhos? Por que era depositadas tantas imposições sobre o que precisávamos fazer? Eles determinavam até a ordem que as coisas deviam acontecer. Por que não podíamos sair dos limites? Será que era tão perigoso assim?

As amigas de Olívia, e até ela mesma, continuaram agindo normalmente até que Mateus se aproximou. Ela ficou nas pontas dos pés para lhe dar um beijo e as amigas conversavam entre si. Foi nesse momento que Mateus se ajoelhou e um gritinho agudo chamou a atenção de todas as pessoas ao redor.

Olívia levou as mãos à boca; seus olhos estavam tão arregalados que vi a hora de eles pulares para fora para ter certeza de que aquilo realmente estava acontecendo. Atrás dela, as amigas davam saltinhos animados e gritinhos de euforia. Olívia continuava completamente atônita.

Eu estava longe demais para ouvir o que Mateus estava dizendo, mas eu já podia imaginar. Primeiro, começaria dizendo que ela foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida. Que se apaixonou desde o primeiro momento que colocou seus olhos sobre ela e que, desde então, seu coração não pertenceu a ninguém mais. Continuaria o discurso dizendo que ela o fazia se sentir o homem mais feliz do mundo e que ver o seu sorriso era a maior alegria de seus dias. Embora ele tenha me contado, anos depois, que aquelas foram as suas palavras, eu podia dizer mesmo que não soubesse. Não por ser um clichê de filme de comédia romântica, mas porque era exatamente a maneira que Mateus se sentia em relação a Olívia. Continuava sendo um clichê, mas isso não impedia que fosse verdadeiro.

Em seguida, ele falou que gostaria que aquele sorriso fosse a primeira coisa que visse todas as manhãs. Acompanhado dessa declaração, veio a frase:

─Olívia Alcântara. Quer casar comigo?

As garotas foram à loucura. Olívia tentava sorrir, mas começava a chorar. Tentava falar, mas começava a soluçar. Quando viu que qualquer palavra que tentasse falar seria em vão, balançou a cabeça veementemente, assentindo com o pedido. A galera que parou para observar o pedido, explodiu em aplausos e gritos de apoio. Mateus e Olívia se beijaram e os dois comemoraram, sendo cumprimentados pelas pessoas ao redor. A formatura mal havia começado e eles já traçavam seus destinos. Era assim que a vida tinha que ser. Loucuras, improvisos, atos impulsivos. Uma vida toda planejada não era emocionante. Sequer era vida.

Mateus olhou para minha direção e eu o cumprimentei balançando a cabeça. Teríamos muito tempo pela frente pra comemorar aquilo. Aquele momento era unicamente dos dois.

Virei-me para voltar para a salinha de sonoplastia, mas percebi quando Bruna passou pela porta da saída. Andava apressada, enxugava algumas lágrimas que escorriam do seu rosto. Seu vestido arrastava pelo chão e ela parecia não se importar. Algo estava errado.

Logo atrás, André corria em sua direção com o meu notebook nas mãos.

─Bruna, espere!

Tentei alcança-la, mas ela se afastou mais rápido. Algumas pessoas estavam no estacionamento – fumando, bebendo ou se pegando. Corri entre eles para ver se a alcançava. A sola dos meus sapatos ecoava contra o chão, algumas poças de água espirravam gotículas no meu terno. Quando cheguei à saída, era tarde demais. Bruna havia virado a esquina e se misturado à escuridão.

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora