10. Otávio: cake boss e uma dose de tédio.

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Cinco semanas e doze encontros depois, Bruna e eu estávamos namorando. Eu não encontrei com seu pai – e não planejava encontra-lo por, no mínimo, mais cinco meses de namoro. Os dois tiveram uma conversa amigável e ele não apresentou nenhum empecilho. Estabeleceu horários, limites e, como acontecia com todos os pais, pediu que ela fosse extremamente cuidadosa em tudo o que fizesse. Todos nós sabemos ao que exatamente ele se referia ao falar esse "tudo" e, quanto a isso, até então, não havíamos tido nenhum problema.

Ao contrário de mim, ela já havia conhecido minha família. Se dava muito bem com as gêmeas e a mãe não economizava elogios. No domingo passado, havíamos almoçados juntos. Quando Bruna revelou que Arroz à grega era seu prato favorito, minha mãe literalmente bateu palminhas de animação. Em seguida, já convidou – ou melhor, estabeleceu – que Bruna e seu pai viessem à nossa casa para um almoço. Claro que Bruna ficou felicíssima com o convite, mas logo avisou que seu pai estaria viajando e não poderia comparecer. Quanto à isso, fui eu quem fiquei felicíssimo.

As gêmeas também ficaram muito animadas. Passavam o tempo falando sobre coisas de cabelos, músicas pop, sapatos e essas coisas. Uma vez ou outra, Bruna olhava pra mim e sorria. Enquanto isso eu assistia a um episódio de Law&Order com a mãe e seu namorado fitness, embora ela estivesse com um ouvido na conversa das garotas e um sorriso abobalhado no rosto.

Eu pensava que o almoço seria muito estranho, devido a toda a história com Isabela, mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, foi bem agradável. Exceto a parte que precisei sentar ao lado do namorado novo da minha mãe e ouvir milhares de histórias de suas viagens à exposições de suplementos alimentares. Felizmente, minha mãe e Bela era muito melhores em trazer assunto à mesa.

─Então, Bruna, com o quê seu pai trabalha? – A mãe perguntou quando eu já estava prestes a empurrar a cabeça sem miolos daquele cara no prato.

─Ele é empreiteiro. – Bruna respondeu. – É um bom trabalho com um bom salário, mas exige muitos sacrifícios. Nos vemos muito pouco e fico sozinha a grande parte do tempo.

Minha mãe pareceu se comover.

─Nossa. E sua mãe, o que acha disso?

Senti um peso de culpa na consciência por não ter falado à ela sobre a mãe de Bruna. Bruna e eu não conversávamos muito sobre isso, eu não sabia se era um assunto que conversava facilmente ou se ainda era algo difícil de se lembrar. Eu torcia para que fosse a primeira opção.

─Minha mãe faleceu quando eu era criança. – Bruna disse normalmente. Acho que a primeira opção era a correta. – Faz tanto tempo que não me lembro muito bem dela. Mas sei que era uma mulher muito bonita.

─Oh, querida. – A mãe falou. – Tenho certeza que sim. Assim como você.

Depois minha mãe começou a falar sobre minha versão na infância e foi quando a conversa se tornou constrangedora. Eu era uma criança feliz, mas bastante estranha em comparação às outras crianças.

No momento que ela começou a falar sobre meu imenso desejo em ser o Capitão América, minha vontade era sair correndo daquela cozinha. Porém me segurei e sorri como se estivesse achando toda aquela situação engraçada. Admito que ter Bruna segurando minha mão o tempo todo e sorrindo pra mim com doçura ao ouvir aquelas histórias me fazia feliz. Mesmo tendo minha mãe me constrangendo e seu namorado mané falando mais baboseiras do que um adolescente.

Quando Bruna foi embora, minha mãe me abraçou e sorriu.

─Ela é ótima.

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora