003

6.8K 392 51
                                    

Marina

Sai já vestida após o banho e desci as escadas, indo em direção a cozinha que o cheiro entregava que o café estava sendo feito. Me escorei na porta observando a cena e soltei um sorriso de canto, sem ser vista. Helena no colo de Richard enquanto eles tentavam cozinhar algo. Essas horas o Bernardo provavelmente está dormindo. Meu celular vibrou e eu peguei o mesmo, torcendo a boca ao ver a mensagem.

── Mamãe! — Helena correu até mim e abraçou minha perna. ── Você tá triste?

── Claro que não, neguinha. — Falei a pegando no colo e beijando seu rosto. ── Semana que vem você viaja? — Encarei Richard, que negou com a cabeça.

── Só a partir do próximo sábado que começa a Champions, por quê? — Se aproximou.

── Por que você não vai lá ver se o seu irmão já acordou? — Sugeri a soltando no chão e ela concordou, correndo em direção as escadas. Ô bichinha para ter energia!

── O que aconteceu? — Perguntou com um tom mais sério.

── Talvez eu precise ficar fora por um tempo, pouco tempo.

── Você disse que ia se afastar do seu emprego! — Argumentou e eu desviei o olhar.

── Richard, tem muita gente morrendo. Muita criança morrendo! — Encarei seus olhos. ── Me desculpa, eu não consigo simplesmente deixar isso acontecer sabendo que eu posso ajudar!

── Onde?

── Sul do Brasil. — Me escorei. ── Aparentemente um desastre natural, não sei ao certo, solicitaram médicos voluntários no grupo, aparentemente os hospitais de lá ou fecharam ou não estão dando conta da demanda de gente.

── Mas é voluntário, você não vai receber por isso. Por que não ajuda doando ou divulgando? — Franziu o cenho e eu rolei os olhos.

── Por que se eu posso ajudar colocando em prática o que eu estudei todos os anos da faculdade? — Enrolei meus braços ao redor do seu pescoço. ── Não vou ficar muito tempo, eu prometo!

── Você vai se arriscar, não acho que seja uma boa idéia. — Resmungou antes de roubar um selinho e eu deitei meu rosto na curva do seu pescoço.

── Só o fim de semana. — Falei o encarando. ── Eu não vou me arriscar, Richard, eu já enfrentei situações bem mais perigosas.

── Tipo a que você quase morreu no tsunami de Hunga quando estava grávida? — Relembrou com tom de repreensão e eu ri. ── Marina, eu sei que você ama a sua profissão mas você leva isso a sério demais! Não pode se arriscar para salvar os outros.

── Eu sei o que eu tô fazendo! — Falei me sentando na bancada. ── E quando eu voltar, eu me afasto oficialmente.

── Até solicitarem mais voluntários em outro desastre natural. — Resmungou e eu o encarei. ── Por que não volta a trabalhar como modelo?

── Porque eu tô gorda. — Ele me encarou, incrédulo.

Realmente, ganhei muito peso após a segunda gravidez, meu corpo mudou muito e o que antes era o que eu mais gostava em mim, virou uma insegurança horrível. Tentei fazer dieta e academia e até perdi um pouco, mas não recuperei meu corpo antigo e sei que não vou.

── Gorda tá a sua avó.

── Abel descobre que tu tá xingando a mãe dele... — Encarei minhas unhas e o encarei após pensar em algo. ── Vamos para o Brasil juntos!

── Ih, vou me meter no meio de enchente não, Marina, eu não sei nadar. — Falou e eu rolei os olhos.

── Não brinca com coisa séria. — Puxei sua orelha e ele gemeu de dor. ── Você volta a jogar só o próximo fim de semana mesmo, essa semana a gente fica no Brasil e já aproveita para rever o pessoal.

── A Ceci? — Dei um pulo de susto após ouvir Helena falar ao meu lado e a olhei. A mesma estava com os braços para trás enquanto esfregava o pé no chão me encarando.

── Tá ai a quanto tempo, Helena?

── Nós vamos ver a Cecília? — Perguntou com um tom de esperança e eu respirei fundo, olhando meu marido.

Agora ele topa, quer ver?

── Sim! — Falou a pegando no colo. Não falei?! ── Tá com saudades dela?

── Sim, da tia Duda e do tio Jorge também. — Falou sorrindo e eu ri leve. Uma vez chamamos o Joaco de Jorge na frente dela, desde então ela só o chama assim.

Cecília é filha única do casal anterior citado e também minha afilhada, tem a mesma idade dela. As duas são grudadas, viviam juntas quando morávamos no Brasil!

── Só se você se comportar. — Falei mexendo nos mini projetos de cacho dela. ── Seu irmão acordou?

── Não!

O que essa menina tem de arteira e diabinha, felizmente ele tem de calmo. Não sei como vou fazer com onze horas de vôo com duas crianças, vai ter que ser noturno!

── Vou arrumar as coisas minhas e do Bê, arruma as da Helena. — Falei descendo e Richard arregalou os olhos.

── Nós vamos hoje?

── Surpresa, Ríos! — Respondi alto por já estar longe.

dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora