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Marina

── Por que o pai e o Richard brigaram? Tava um climão entre os dois. — Mariana perguntou sentando ao meu lado na cama do meu antigo quarto enquanto eu segurava o filho dela. Essa fase é tão boa!

── Por causa minha, o pai acha que o Richard é o culpado de todos transtornos psicológicos que eu tenho! — Rolei os olhos. ── Não acho certo isso.

── Olha, eu nunca te vi chorando igual você chorou aquela vez lá. Mas eu não sei, eu não vivo a vida de vocês. Por que não acha certo?

── Porque eu sei que eu sou uma pessoa difícil de lidar, eu sou infantil, eu realmente sou mimada para caralho e isso não é certo, eu já sou adulta e tenho que mudar mas muitas vezes só acontece. Não consigo julgar ele por ter sido babaca algumas vezes comigo! — Falei rápido e ela ficou me encarando, desacreditada.

── Quem foi que te fez acreditar que você é uma pessoa difícil de lidar?

── Ele se apaixonou por você assim, ele tem que lidar e só aceitar e não tentar te mudar. Qual que era o maior estopim para ele te chamar de mimada e infantil? Ou de difícil de lidar, sei lá.

── Porque eu não sei lidar com meus sentimentos, isso é algo que eu não aprendi até hoje. — Desabafei. ── Eu não brigo, eu fujo e depois ajo como se nada acontecesse e quando as crianças choram, eu choro junto. Poucas brigas nossas eu briguei de volta, ou eu choro ou eu fujo!

── E a quanto tempo você tá fazendo terapia? Você tá, né?

── Tô. O diagnóstico veio uns meses antes de eu ficar grávida, mas só comecei a terapia no final da gravidez porque eu queria ser uma mãe saudável para criar uma filha saudável, mas nem isso eu consegui porque a Helena tem TDAH e o próprio Richard não quer que eu medique ela, aí eu não medico, aí ela fica agitada o que para mim não é problema nenhum mas para algumas pessoas é. Ai eu tive que ouvir da própria ex dele chamando ela de pestinha e de encrenqueira, mesmo depois dela ter apanhado para caralho e ele ainda ficou bravo porque eu quis bater nela de novo! — Fui falando tudo rápido enquanto sentia meu coração acelerar e a raiva tomar conta de mim. ── Desculpa, Mari, tô sobrecarregada.

A vontade de chorar novamente se fez presente, mas eu segurei. Fechei os olhos e fiz o exercício que me ajudava a me acalmar mentalmente e quando abri, minha irmã me encarava preocupada.

── Marina, você não tem culpa do diagnóstico da sua filha! TDAH é algo normal, muitas crianças tem e isso não é culpa da criação. — Falou me encarando e foi então que a minha ficha caiu: eu também me culpo pelo diagnóstico dela e nunca tinha percebido. ── E quanto a ex do Richard, me diz que você bateu nela!

── Bati uma vez só, infelizmente ele não deixou eu fazer a segunda. Eu também me descontrolei um pouco.— Contei insegura com a mão na nuca sem fazer contato visual.

── Você não tá nada bem! — Pontuou. ── Mas provavelmente só tá sobrecarregada, você deveria tirar um tempo para você, sem crianças e sem Richard. Sei lá, viaja, tenta experimentar a sensação de poder dormir a hora que quiser sem precisar ter um horário para acordar de novo.

── É, talvez você tenha razão, acho que vou fazer isso. — Falei me dando por vencida. Ela não tá errada! Eu tô realmente sobrecarregada de tudo, amo minha família mas preciso de um tempo para mim.

── E quanto ao Richard, eu acho que vocês dois tem alguns assuntos pendentes. Não que eu seja intrometida mas eu mexi no celular do Gustavo e vi ele contando no grupo de WhatsApp deles que antes você era uma pessoa muito aberta mas que agora você se fechou emocionalmente para ele.

── Ele tá exagerando.

── Eu acho que ele não tá não! Tem algo que você fala que perdoou mas lá no fundo ainda te incomoda? — Perguntou e eu desviei o olhar, lembrando. Ainda me machuca tudo o que ele me falou todas aquelas vezes, mas eu deixei para lá só para reinar a paz um pouco.

── Tudo que ele disse antes da gente terminar de verdade, eu juro que eu tava tentando perdoar isso junto do acontecido que envolveu a Helena e eu pedi um tempo justamente para isso, porque eu precisava perdoar mas ele brotou do nada falando que ou a gente terminava de vez ou voltava ali, e eu amo ele então eu voltei. Já fazia um tempo que tinha acontecido também então eu tentei entender o lado dele!

── Tudo que fez você chorar no colo do pai aquela vez? — Perguntou e eu concordei com a cabeça. ── E você ainda acha que o pai tá errado de ficar bravo com ele? Foi mal, Marina, sabe que eu apoio vocês dois juntos mas imagina um cara falar que prefere vocês na época de namorados porque convivia menos com tua personalidade. É foda, né?!

── É! Eu não superei isso cem por cento, eu não superei ele reclamando e me chamando de infantil e de mimada.

── Eu sei que você ama ele, mas você precisa se amar primeiro. Você era a pessoa mais bem resolvida emocionalmente que eu conhecia e agora você tá jogando tuas emoção para baixo do tapete? Conversem sobre isso.

── Eu vou fazer isso. — Falei enquanto Heitor se mexia sobre minhas pernas, ainda com sua mão segurando meu dedo. ── E se não resolver?

── Você já morreu de amor?

── Não, né.

── Então você sabe o que fazer se isso não se resolver.

dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora