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Marina

── Pneumonia? — Perguntei encarando a médica e em seguida encarei meu marido por uma fração de segundos. Eu sei exatamente quais as causas de uma pneumonia!

── Sim, quadro de insuficiência respiratória considerável, vai precisar de ventilação mecânica. Pelos exames, Helena tem a imunidade baixa, mais do que o esperado para a idade dela e teve algum fator que contribuiu para isso!

── Não vai ser necessário internação, né? — Perguntei, por mais que eu presumisse que sim, seria necessário. Só que eu sou preocupada demais quando se trata dela ou do irmão dela, então não confio em mim mesma e é por isso também que eu nunca tento diagnosticar eles.

── Se os pais autorizarem, sim, pode ser feita a internação e também é o recomendado. — Falou intercalando o olhar entre nós. ── Porém não é cem por cento necessário, a ventilação pode ser feita em casa e terão de ficar de olho o tempo todo.

── O que você acha? — Encarei Ríos, que negou com a cabeça.

── A médica aqui é você, o que você acha? — Me encarou.

── Eu não quero que ela fique internada.

── Então a gente cuida dela em casa! — Encarou a médica. ── Como que funciona a ventilação mecânica?

── Eu tenho em casa e sei como funciona. — Respondi. ── Só em casos de falta de ar ou em um prazo de tempo? — Questionei.

── Pelo estado dela, o recomendável é, no mínimo, três vezes ao dia mais em casos de falta de ar. — Me encarou. ── Ai se não funcionar é porque evoluiu demais e vai ser necessária internação, aí tem que trazer ela novamente!

( • • • )

── Sabe como pega pneumonia, Ríos? — Falei a ajeitando no meu colo, que dormia. Tinha o rosto inchado de tanto ter chorado!

── Virose?

── Imunidade baixa, sabe como se baixa a imunidade de uma criança? Que já tem ela baixa!

── Tá bom, já entendi que foi o banho de chuva. — Respondeu e eu neguei com a cabeça. Acho incrível que só me da razão quando a coisa fica tensa! ── Como funciona o ventilador mecânico?

── A ventilação mecânica era o que a gente fazia no Bê logo que ele nasceu. — O encarei. ── O aparelho tá no quarto dele, já separa lá.

E ele o fez. São aproximadamente três e trinta da manhã e eu não consigo pregar o olho com medo dela parar de respirar, nem a tirei do meu colo ainda. Minha cabeça dói de tanto ter chorado quando eu a vi chorando, lógico que eu não fiz isso em público, a plateia que eu tive foi o meu marido. Ele disse que eu sou infantil ainda simplesmente porque eu não consigo segurar meu choro quando qualquer um dos dois choram.

Tanto faz, talvez eu seja.

Me escorei na parede e a ajeitei no meu colo, arrumando seu cabelo. Tão delicada e tão pequena, ter um filho é uma sensação surreal, um misto de sentimentos, por mais que eu sinta saudades de quem eu era antes de ser mãe, eu prefiro mil vezes quem eu sou hoje. Não me vejo sem nenhum dos dois! Com o Richard pode até ser que um dia o nosso amor acabe, mas com eles eu tenho a plena certeza que não.

Senti um peso sobre meu ombro e foi então que eu sai do transe, Ríos já havia voltado com o aparelho e estava com a cabeça deitada no meu ombro, encarando a mini versão dele um pouco mais tóxica.

── Me da ela, você precisa dormir!

── Não! — Neguei com a cabeça. ── Ela pode acordar a qualquer momento e eu quero cuidar dela. Apaga lá a luz e deixa só a luminária, ela tem medo do escuro!

── Algo ela tinha que puxar a você. — Ironizou levantando.

Quando apagou a luz a mesma começou a se mexer e a falhar a respiração, e então acordou e começou a chorar enquanto me abraçava. Notei seu coração acelerado, provavelmente estava com medo, fiz sinal para o meu marido e ele acendeu novamente a luz, voltando até nos. Liguei o aparelho e posicionei na mesma, talvez por ter visto o irmão dela usando várias vezes ela não ficou receosa e só aceitou.

── Tá com dor? — Perguntei e ela negou com a cabeça.

── Existe algum remédio para isso? — Richard perguntou enquanto brincava com o pé dela e eu neguei com a cabeça.

── Não para a idade dela.

── Ela vai melhorar?

── Vai! — Afirmei tirando o aparelho do rosto dela. ── Melhorou?

── Sim. — Falou afundando o rosto no meu peito.

E é sempre assim, por mais grudada que ela seja com o pai dela, quando tá doente é só comigo que ela fica. O sono tá me consumindo por inteira, eu preciso fazer alguma coisa.

── Me faz um favor? — Olhei Ríos, que concordou com a cabeça. ── Tem um energético na geladeira, pode me alcançar ele?

── Alcanço! — Falou levantando.

Ultimamente, nosso casamento é mais crise e briga do que paz e tranquilidade, como se fosse intercalado, porém algo que eu não posso reclamar dele é o fato dele ter mudado comigo. É o mesmo desde que começamos o namoro, tudo que eu peço ele me dá, literalmente tudo, é prestativo e enfim. O que tem nos atrapalhado são desentendimentos relacionados a criação da Helena e do Bernardo, nossas ideias não batem e isso gera muita briga, porém nós conversamos sobre e chegamos ao acordo de que é melhor para ambos terem pais unidos e juntos.

E é assim que temos feito, ou tentado.

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dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora