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Marina

── Não vai! — Helena pediu agarrada no meu pescoço entre soluços e eu me controlei para não chorar junto, a abraçando.

── Mas semana que vem eu tô aqui de novo! — Prometi e ela negou com a cabeça, chorando.

Ser mãe, muitas vezes é abrir mão do que eu quero e até mesmo do que eu preciso para atender meus filhos, qualquer um dos dois, mas já tá tudo pago, reservado e eu tô necessitando disso. Não posso voltar atrás!

── Não vai não! — Respondeu passando a mão no olho e encarou Ríos, que estava em silêncio no meu lado. ── Fala para ela não ir, pai.

── Mas ela vai voltar, meu amor! — Falou tentando a pegar no colo, porém ela se debatia toda vez que ele tentava. Não queria sair dos meus braços.

── Olha para mim! — Pedi e assim ela fez, acariciei sua bochecha e sequei seu rosto com a própria mão. ── Eu prometo que semana que vem eu tô aqui, e quando você sentir saudades você pode me ligar a hora que for. Eu amo você! — Reafirmei encarando seus olhos e ela resmungou, deitando a cabeça na curva do meu pescoço e me abraçando novamente. ── Você é a minha princesa, por que esse choro todo? Não precisa disso!

── Porque você não vai voltar. — Falou firme segurando minha corrente, ainda com a voz embargada. ── Não é para você ir!

── Eu vou! Acha que eu te abandonaria? Olha só! — Puxei de leve o rosto dela e ela me encarou com aqueles olhos gigantes que, geralmente transmitiam felicidade mas hoje ele chega tá vermelho e triste. ── Vou te dar uma missão, tá bom?

── Uhum.

── Você vai ir para a escola direitinho, vai cuidar do seu irmão e do seu pai para mim porque o seu pai não sabe fazer nada, então você vai ser a dona esse tempo que eu vou ficar fora, pode ser? — Sugeri com um tom animado e ela brotou um sorriso nos lábios.

── Sim!

── Me da um beijinho então! — Apontei para a minha bochecha e assim ela fez. ── Linda da minha vida! — Falei a deitando no meu colo e enchendo seu rosto de beijinhos, enquanto ela só ria.

Senti um braço na minha cintura e notei que era da benção que eu casei, deitei minha cabeça sobre o ombro dele e o mesmo ficou de frente, me abraçando e eu correspondi. Ficou um abraço meio apertado porque tinha duas crianças no meio, mas tudo certo. Soltei a Helena e peguei o Bernardo do colo dele.

O maior sonho da minha vida sempre foi ser mãe de menino, não que eu ame menos minha filha, claro que não, mas quando isso se realizou foi como se uma chama que estivesse apagada dentro de mim há muitos anos tivesse reascendido. Esse menino é tudo para mim, eu olho para ele e lembro do pai dele na época em que nos conhecemos, talvez pela aparência, não sei explicar.

── Bêzinho! — O apertei contra mim e ele resmungou. ── O moleque, não resmunga para mim não, sou sua mãe! — Falei fingindo estar brava e ele começou a rir, e eu ri junto.

Como será que vai ser quando eles crescer? A Helena eu tenho a plena certeza que vai me dar umas boas dor de cabeça quando chegar na adolescência, mas ele, algo me diz que não! Só sinto que ele vai ser igual eu era.

── Eu amo tanto tanto você! — Falei apertando as bochechas dele e enchendo de beijos ao redor do rosto dele, e novamente ele resmungou. ── Que isso? Adolescência chegou mais cedo?

── Não, você só é chata mesmo! — Ríos falou me abraçando por trás.

── E daí? Você me ama! — Falei me virando de frente.

── Amo, né? Fazer o que se Deus quis que a mulher da minha vida fosse meio dodói da cabeça. — Beijou minha testa. ── Eu vou sentir tanto a sua falta!

── São literalmente apenas seis dias, minha vida, qualquer coisa me liga. Mas eu também vou sentir saudades!

── E se você não atender?

── Eu vou atender! Só se eu estiver dormindo que não! — Falei sentindo o mesmo me abraçar.

Era para ser um momento entre nós dois, mas como nada é mais como antes a nossa filha entrou no nosso meio e Ríos a pegou no colo. Já foi feita a primeira chamada do meu vôo, queria poder ficar mais um tempo mas eu não posso.

── Fico feliz que você esteja bem. — Falou mexendo no meu cabelo. ── Vai ser difícil ficar longe fisicamente, mas se é para o seu bem. Independente, irmão! — Falou e eu dei risada.

── Você é o amor da minha vida, te amo como eu nunca amei nenhuma outra pessoa! — Falei segurando seu rosto e senti seu olhar encarando minha boca, em seguida desviou para o meu olhar. ── Tá?!

── Eu também te amo, Fiona, você me bate as vezes mas tá tudo certo porque você é bonita. — Falou me abraçando com força e eu ri, correspondendo. Grudei nossas bocas em um selinho mas separamos em seguida porque nossa filha lançou um "eca" enquanto nos olhava com cara de nojo.

── Eca o que, danada? — Perguntei apertando as bochechas dela e ela riu. ── Ó? Quem pode beijar o rosto do papai? De mulher?

── Eu, você e a vovó.

── E a boca?

── Você!

── E bater na mão?

── Os amigos dele!

── Mas você é uma ótima aprendiz mesmo, se qualquer pessoa quebrar essa regra nossa você me conta?

── Sim!

── Eu não mereço isso. — Richard falou, indignado e eu dei risada.

A última chamada ecoou pelos meus ouvidos, apertando meu coração. Não quero mais ir, mas sei que vai ser bom! Helena ainda tinha o rosto vermelho por causa do choro e meu filho continuava no meu colo, eu só não queria soltar ele por algum motivo! Encarei aqueles olhos negros gigantes e ele me encarou de volta.

No mesmo instante me veio na cabeça, como vai ser quando ele entrar na escola? Ele tem um ano ainda, vai demorar, mas será que o primeiro dia de aula dele vai ser legal? O da Helena foi horrível! Por que isso parou na minha cabeça?

── Gorduxo! — Dei um último beijo no rosto dele e Ríos o pegou, me entregando a mala.

Richard vestia uma camiseta preta, e preto cai muito bem nele. Esse cheiro que eu amo tanto, precisei fungar o cangote dele uma última vez e ele começou a rir.

── Maluca! — Falou com um sorriso de canto.

── Eu vou ir agora, senão eu perco o voo.

── Ainda bem que te perguntei!

Ele aprendeu essa expressão, não sei de onde ele tirou, e usa para tudo.

── Brincadeira! — Riu e me abraçou com força, beijando o canto da minha boca. ── Se cuida, amor. Me liga quando chegar!

── Vou ligar! — Falei me afastando e me virando.

dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora