046

3.2K 268 18
                                    

Richard

A Marina tá real ficando louca, fora de ironia! Ela fica descontrolada quando se trata das crianças, principalmente da Helena por causa do diagnóstico, e eu ainda fico no meio e ela briga comigo porque eu não deixo ela cometer um crime! Conheço a mulher que eu tenho, arrancar cabelo seria pouco perto do que ela estava capaz de fazer naquele momento de ódio dela. Desde que ela recebeu o diagnóstico de bipolaridade, que veio após dois anos de casados, a nossa vida virou uma loucura porque ela vive em mania ou em depressão, a terapia e os remédios ajudaram ela e eu chuto dizer que a Helena também, eu vi ela sair de um episódio depressivo quando a nossa filha nasceu e sempre que ela tem esses períodos, não adianta eu fazer nada, eu só apoio ela e a nossa primogênita que mete o dedo e vai encher o saco dela, aí ou ela se vê obrigada a reviver e entrar em hipomania ou a Helena realmente é a cura dela.

Eu entendo ela, também fico puto com essas coisas mas não surto. Não consigo surtar assim, não mais!

── Tá melhor? — Perguntei a abraçando por trás e apoiando meu rosto no seu ombro, a mesma passou a mão entre seus longos fios negros e enrolados e respirou fundo.

── Um pouco, tô estressada ainda. A Helena te ama, você é um pai incrível mas tem vezes que você só fica quieto e quem tem que agir sou eu!

── Do que você tá falando?

── Richard, a sua ex ofendeu a sua filha de graça. — Falou se virando e me encarando e eu torci a boca. Eu também fiquei bravo com isso mas eu precisava focar em controlar minha mulher primeiro. ── Você simplesmente agiu como se não fosse nada!

── Não é nada, vida, só que na hora eu precisava focar em te controlar e não em rebater ela. — Falei encarando seus olhos e ela desviou o mesmo, torcendo a boca.

Desde que terminamos pela última vez, ela nunca mais chorou na minha frente a não ser em casos extremos e eu sei que ela tá com vontade de chorar agora porque ela faz sempre a mesma cara, eu sei o que ela sente pela feição dela.

── Chora, vai aliviar o estresse! — Falei levando minha mão até o seu rosto porém ela abaixou a mesma com seu braço.

── Eu não consigo. — Respondeu seca e saiu do cômodo, me deixando sozinho.

Respirei fundo e me escorei na parede, passando as duas mãos pelo rosto. De uma pessoa que nunca escondeu sentimentos ou fraquezas de mim, Marina se tornou extremamente fria e distante emocionalmente e eu não tô falando do nosso sentimento, mas sim do emocional dela. As crises de ansiedades se tornaram frequentes, oscilações de humor direto. A admiro muito como mãe, ela se sobrecarrega sozinha e não deixa isso passar para nenhum dos dois, hoje foi a primeira vez que ela brigou ou surtou na frente de qualquer um deles, que no caso foi o Bernardo.

A essa hora, Helena ainda tá na escolinha e o Bernardo foi de berço há pouco. O menino que tem facilidade para dormir, nunca vi igual! Peguei meu celular e encarei aquele contato e aquelas mensagens, ela já havia sido bloqueada novamente mas eu não falei nada só porque eu não quero mais brigar, independente de quem seja.

Uma, duas, três horas.

O tempo fechou e armou para chuva, começou a ventar muito do nada, no mesmo instante Marina apareceu na cozinha com o cabelo meio úmido e penteado, porém bagunçado por causa dos projetos de cachos dela, uma roupa que definitivamente valorizava o corpo dela, calça larga combina muito com ela e ela sabe disso. Não sei como consegue odiar o próprio corpo, se tem mais linda eu desconheço!

── Vou buscar a Helena. — Falou pegando a chave do carro sobre a mesa.

── Deixa que eu vou. — Falei pegando a chave da mão dela e foi o primeiro contato visual que fizemos desde o ocorrido. Ela chorou e eu consigo ver isso pelos olhos dela. ── Vai começar a chover, você odeia dirigir na chuva.

── Tá, vai lá, eu fico com o café então.

── Não se preocupa, fica de olho no Bernardo, a gente pega algo na rua e traz! — Falei antes de beijar sua testa e sair.

Confio mais em mim dirigindo a 1000km/h do que na Marina dirigindo na chuva, tá maluco, não sabe nem fazer baliza e eu tenho minhas dúvidas que ela comprou a CNH dela. O caminho até a escolinha foi tranquilo, assim que me viu a minha filha correu para mim.

── Como foi seu dia? — Perguntei ajeitando o cabelo dela.

Cabelo dela sempre foi liso, agora tá criando umas ondas e é preto igual o da mãe dela, cor de pele igual a ela também. Essa menina tá ficando uma réplica da Marina!

── Chato! — Falou deitando a cabeça na curva do meu pescoço. ── Odeio a escola!

A abracei e beijei sua bochecha, só aproveitando o momento. As vezes eu queria congelar o tempo e pedir para ir mais devagar, ela já tem cinco anos e para mim parece que foi ontem que eu entrei no banheiro e vi minha mulher chorando porque descobriu que ia ser mãe e tava apavorada. Eu nunca fiquei tão feliz!

── Eu também odiava. — Falei a colocando no chão. ── Você prefere sorvete ou açaí?

── Açaí.

Tá aí o café, vai ser açaí. Passei no mercado mais próximo e comprei dois potes porque eu conheço a peça rara que eu casei e comprei os complementos que ela gosta, comprei também algumas coisas que a Helena foi pedindo pelo caminho, também comprei uma flor que é óbvio que quem vai entregar vai ser minha filha porque isso vai animar a mãe dela. Assim que chegamos em casa eu notei um silêncio, e foi então que eu vi o meu poço de raiva brincando com o Frederico na área coberta, já havia começado a chuva e pelo menos isso amenizou o calor.

── Entrega para a sua mãe e diz que ela tá linda! — Falei no ouvido da Helena, que concordou com a cabeça e saiu correndo em direção a ela.

Cruzei os braços e observei, o sorriso que ela deu quando pegou a flor e a carinha que ela fez e em seguida me olhou. Eu dei risada e me aproximei, vendo a mesma vir até mim e me abraçar. Já parecia bem mais tranquila e não tava mais com aquele olhar pesado e triste que ela estava quando eu sai de casa.

── Eu te amo, estressada. — Falei beijando o topo da sua cabeça enquanto seus braços continuavam rodeados em mim.

── Eu também te amo, insuportável!

dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora