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Marina

F l a s h b a c k

Ser mãe de primeira viagem é muito difícil, até contratei uma senhora para me ajudar só que tem vezes que eu preciso ser a mãe, tipo agora. Como eu queria a minha mãe ou até mesmo a Ana comigo agora, me dói não ter nenhuma das duas para me ajudar nesse momento que é tão importante.

── Não, vida, assim! — Ríos falou ajeitando a boca da nossa filha no meu peito e na hora meu olho lacrimejou. Dói muito!

── Como você sabe disso? — Perguntei com a voz embargada, é uma dor muito forte.

── Sou irmão mais velho e também tenho afilhado. — Falou com o tom de voz calmo e baixo e riu leve. ── Tá doendo?

── Muito, é normal?

── Não sei, vou perguntar para a minha mãe. — Falou pegando o celular e na hora eu comecei a chorar sem perceber ou controlar. Ríos soltou o aparelho e me encarou, assustado. ── O que foi? Tá chorando por que?

── Eu queria minha mãe comigo agora. — Falei sem fazer contato visual. Achei que eu tivesse superado a morte dela, mas eu não superei, e é em detalhes pequenos que eu sinto saudades dela.

Ela não viu eu me formar na faculdade, não viu eu noivar e nem casar, não me viu grávida e também não me viu sendo mãe. Me julgue de dramática quem quiser, mas é uma dor insuportável! Senti os braços de Ríos me enrolar em um abraço e eu fui me acalmando aos poucos com aquele cheiro familiar que eu amo e com o abraço que tem jeito de casa dele. Independente do lugar que eu estiver, se eu estiver nos braços dele eu vou sentir uma sensação de casa, de lar, conforto.

Inexplicável.

── Olha, não é muito mas você tem eu. — Falou ainda abraçado em mim e passou o dedo pelo rosto de Helena, que me encarava com aqueles olhos gigantes. ── Tudo bem que eu desmaiei no parto dela, mas eu tô aqui. — Relembrou e na mesma hora eu ri.

É verdade, ele desmaiou no parto da nossa filha e eu comecei a rir. Tava tendo uma contração desgraçada de dolorida, já nem tinha forças, esse infame desmaiou, eu ri e ela nasceu. Essa é uma história que talvez eu conte para ela quando ela crescer, ou não!

── Eu nem lembrava disso. — Falei desviando o olhar para ela.

O quanto ser mãe mudou minha vida é surreal, me tornei uma pessoa melhor para poder merecer ela e também dar o exemplo, mudei inúmeras atitudes por causa dela. Essa menina foi tão desejada por nós dois que eu já tô até vendo o quanto ele vai mimar ela! Eu prometo fazer de tudo para ver ela bem e feliz, pode estar adolescente ou adulta, nunca vou permitir ninguém fazer nada para ela porque eu sei que eu vou sempre enxergar essa versão nela, a versão bebê indefesa. Agora eu entendo tudo que o meu pai falava!

── Nós vamos ter outro bebê? — Richard perguntou e eu o encarei com tédio.

── Ríos, eu recém tô passando pelo puerpério do nosso primeiro filho e você já quer o segundo?

── Segundo filho. — Corrigiu. ── Da próxima vem um menino para jogar futebol comigo, tenho certeza disso.

── Só não mima ela. — Pedi. ── Odeio criança mimada!

── Eu vou mimar sim, meu maior sonho sempre foi ser pai e agora que eu sou eu vou aproveitar o máximo!

── Richard!

── Marina? — Me encarou. ── Que foi? Eu também mimo você, você é o amor da minha vida mas agora eu tenho dois amores, a diferença é que a mais velha gosta de brigar comigo e me bater as vezes. — Falou apertando minha bochecha e eu dei risada. Literalmente só ele para me fazer rir nessa situações!

o f f

── Eu quero um cavalo! — Helena pediu deitada no gramado e eu virei o rosto para ela.

── Você não vai ter um cavalo! — Olhei o celular de Ríos e vi que ele estava pesquisando por preço de cavalo de pelúcia no mercado livre. ── Richard?

── O que? — Soltou o celular e me olhou. ── Mulher doida! Já vai brigar comigo. Helena diz para sua mãe parar.

── Não briga com meu pai. Eu te defendo! — Falou se virando de costas para mim e abraçando Ríos, que fez cara de deboche para mim e eu rolei os olhos.

Tardinha de sexta-feira, calor insuportável. Passamos o dia na rua e agora de tarde resolvemos brincar um pouco com as crianças, mas é óbvio que o mais novo cansou e foi dormir, já a mais velha quis ficar no quintal. Tentamos jogar futebol e eu consegui marcar um gol no meu marido que é profissional, provavelmente ele deixou mas nada paga a felicidade que eu fiquei. Me senti a própria Marta!

── Ah, é? Você vai me pedir para deitar com você de madrugada, sua cretina. — Falei puxando de leve o cabelo dela e na mesma hora ela se virou, me abraçando.

── Tavo brincando. — Falou mexendo no meu cabelo e eu ri.

── Vocês estão tão parecidas. — Ríos falou e eu o encarei, não é a primeira pessoa que diz isso. ── Sério! Ela tá crescendo e ficando a sua cara.

── Meu Deus, ela já vai fazer seis anos, sete anos atrás eu estava em choque descobrindo a gravidez.

── Como eu nasci? — Ela perguntou e eu encarei o céu estrelado.

── Você não vai contar isso. — Ríos falou e eu ri.

── Seu pai, esse medroso, desmaiou.

── Era muita emoção, tá? — Se defendeu.

── Como é? — Ela perguntou.

── O que?

── Desmaiar!

── Estranho. — Richard respondeu e a encarou. ── Como é?

── O que?

── Receber um ataque de cócegas! — Respondeu se levantando e fazendo cócegas na mesma em um movimento rápido enquanto ela dava risada e pedia para parar. ── Só vou parar quando você falar assim: meu pai é incrível.

Eu ri e apoiei o rosto no braço, apreciando a cena.

── Não vou dizer isso! — Falou sorrindo e voltou a gargalhar após ele voltar a fazer cócegas nela. ── Mamãe?

── Deixa a menina em paz, Ríos.

Richard parou e me encarou, em seguida sussurrou algo no ouvido de Helena, que concordou com a cabeça. Franzi o cenho e em seguida senti uma agonia me invadir após os dois pularem em cima de mim. A vítima das cócegas agora era eu! Belisquei com força meu marido, que começou a gemer de dor e se afastou. Puxei Helena e a abracei com força, a imobilizando.

Na hora que eu a segurei naquela posição eu vi ela bebê, aqueles olhos continuavam do mesmo tamanho de quando ela era recém nascida. Passei minha mão pelo seu rosto e beijei sua testa.

── Amo você, danada!

── E eu amo vocês, por mais que você me bata. — Ríos falou me abraçando por trás e beijando minha bochecha.

dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora