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Richard

── Tô preocupado com a Marina. — Falei para Abel, que levantou seu olhar mais puro de raiva para mim, porém respirou fundo e se controlou.

── Por quê?

── Crises recorrentes e cada vez piores, hoje eu vi que ela tá se machucando e ela também começou a se isolar nesses momentos.

── Crises de que? Do que você tá falando, Richard? — Perguntou em um tom sério e então eu travei. Ela nunca contou disso para o pai dela?

Será que alguém sabia além de nós dois? E os médicos, é óbvio! Puta que pariu! Contei uma coisa que talvez ela quisesse segredo, é agora que eu tô fodido.

── Você começou você vai terminar! — Ele pontuou e eu assenti.

── Depressão e a ansiedade você sabia, né? — Perguntei e ele concordou com a cabeça.

── Sim! Ela desenvolveu após a morte da mãe dela, mas quando ela saiu da minha casa para morar com você ela estava bem.

── Bipolaridade? Ela contou? — Perguntei receoso.

── Minha filha é bipolar e eu não sabia? — Perguntou com mágoa. Puta merda! Eu não deveria estar contando isso mas eu tô preocupado, ela precisa de ajuda e não tá me ouvindo, talvez o pai dela ela escute. ── Por que ela nunca me contou?

── Enfim, a questão é que ela não tá nada bem, Abel, e eu tô bem preocupado com isso. — Falei e ele me encarou, prestando atenção. ── Ela tava fazendo uso de remédio, tava fazendo terapia mas ela piorou, piorou muito.

── Há quanto tempo sabem? Desde quando piorou?

── Sabemos desde um pouco antes da Helena, talvez... Seis anos? Não sei! — Chutei calculando mentalmente com a mão no rosto. ── Piora de quatro meses para cá.

── É! O tempo que vocês terminaram e ela chorou no meu colo por sua causa, Richard. — Respondeu com mágoa e eu me escorei na cadeira. Eu tenho culpa, será? ── Ela me contou que desde que ela virou mãe a cabeça dela se estragou toda mas eu não imaginei que fosse a esse nível.

── O que mais ela te disse?

── Que não se sentia feliz ao seu lado, que sentia como se você não a amasse mais ai eu falei que você estava traindo ela, e eu ainda desconfio isso! — Frizou a última parte com raiva e eu rolei os olhos. ── Mas a Marina, sendo a réplica da mãe dela é óbvio que fica cega quando tá apaixonada, aí disse que nunca desconfiou de traição!

── Abel, pelo amor de Deus, eu nunca trai a sua filha! — Me justifiquei sendo sincero. Essa opção nunca nem passou pela minha cabeça. ── Eu amo ela, eu errei com algumas atitudes porque eu... Não sei! Eu fiquei sobrecarregado, era a Helena fazendo birra e ela também, aí eu me sentia pai de três. Mas a gente já se entendeu sobre isso!

── Richard, quando você conheceu a minha filha eu te avisei. Ela sempre foi tratada igual uma princesa desde criança, e não é certo ela sair da casa dela, onde ela tem tudo e principalmente tem amor e compreensão, para ir morar com uma pessoa que vai destratar ela de graça. — Me deu um sermão e eu fiquei quieto. Nem era esse o assunto! ── Mas tá, vou fazer o que, né? Se ela te ama, infelizmente!

── Enfim, Abel, eu vim falar com você porque quero que você fale com ela. Ela não tá me ouvindo mais, ela oscila em depressão e hipomania e segundo a própria terapeuta dela isso não é algo bom.

── Eu vou falar! Sabe o que eu acho que ela precisa?

── O que?

── De um tempo! — Falou e eu fiquei em silêncio. Não quero terminar com ela. ── Suas atitudes mudam o seu futuro, Richard, mas não apagam o passado de vocês. Eu já fui você, eu fazia com a mãe dela o que você fez com ela, um pouco pior talvez, e sabe no que isso me resultou? Em ver a minha filha se afastando de mim e eu pagando isso anos depois vendo ela se casar com uma pessoa que causa problemas psicológicos nela! — Falou rápido e eu passei as duas mãos no rosto. Eu não tenho culpa disso!

Ou será que eu tenho?!

── Abel, eu não tenho culpa dos problemas psicológicos da Marina! — Me defendi.

── Parem de falar como se eu fosse louca. — Ouvi aquela voz suave e me assustei, direcionei o olhar e ela estava bebendo água escorada na porta. ── Richard tem que deixar de ser boca de sacola e o meu pai tem que perdoar o Ríos.

── Tá aqui há quanto tempo? — Perguntei.

── Bastante! Vocês são bem lerdos, meu Deus.

── Por que nunca me contou? — O pai dela perguntou e ela deu de ombros.

── Você já tinha problemas suficientes e eu já sou adulta, eu sei me virar.

── Marina, entenda, você pode estar uma velha capenga e caquética, o que não vai demorar muito, acredite, mas eu sempre vou te olhar e enxergar aquela gorducha que deixava minha casa de ponta cabeça! Não existe isso de problema suficiente, você não é um problema. — Falou com o tom de voz mais calmo e a mesma foi até ele, o abraçando por trás e então eu encarei a parede. Será que tudo que aconteceu que ocasionou nosso término, pode ter sido um estopim para o quadro da piora dela?!

Tô me sentindo mal.

── Eu te amo, pai, e tá tudo bem comigo, e se não estiver vai ficar! — Falou se afastando. ── Eu sei me virar, já passei por isso antes. Vocês dois estão fazendo tempestade em copo d'água.

── Você falou igualzinho a sua mãe agora. — Falou a encarando. ── O mesmo tom, a maneira de se expressar.

── Não, não te perdoei pelo que você fez com ela não, vamos com calma. — Falou vindo até mim e me abraçando por trás, senti seu toque suave e aquele cheiro adocicado que só me transmitia paz.

── Acredite, eu estou pagando! — Falou me encarando e eu desviei o olhar. Por que ele não supera logo essa história?

── Até sua filha perdoou e você não! — Me pronunciei já cansado. ── Eu me arrependo, eu tive meus motivos e nós já resolvemos isso.

── Vocês dois podem parando de graça, não vão começar a brigar agora que eu vou por os dois para fora de casa. Tô nem aí que a casa é do meu pai, eu vou colocar ele junto. — Falou ríspida se afastando. ── Juro por Deus! E eu vou pegar a chave do carro dos dois e vou deixar os dois na chuva conversando até se entenderem.

Me obriguei a ficar quieto, por mais que minha vontade fosse discutir e o meu sogro fez a mesma coisa. Vou deixar ela sentir que manda por causa do estado emocional dela.

Tá, ela manda na relação sim.

── Vocês conseguem agora, por favor, fingirem serem amigos e voltarem para onde tá todo mundo? Pai, sua filha acabou de ter um bebê e precisa mais de você do que eu. Richard, a sua filha tá fazendo os casais desistirem de terem filhos lá fora. Vocês dois tem coisas mais úteis para fazer agora do que ficarem discutindo!

dizeres, richard ríos. Onde histórias criam vida. Descubra agora