Capítulo 19

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Anastácia

Movimentei-me na poltrona, sentindo o meu corpo protestar
por estar a um pouco mais de uma hora naquela posição, e desviei
o olhar rapidamente para Cristhian , que conversava no telefone com
uma voz ríspida, provavelmente na sua língua natal.
Fiquei observando seu semblante tomado de frustração
enquanto resolvia um outro assunto que nada tinha a ver com a
nossa investigação. Ele estava a um bom tempo fazendo uma série
de ligações, digitando furiosamente no teclado do seu notebook, e
tudo em mim gritava que me levantasse e fosse massagear os
músculos tensos e rígidos, embora não soubesse se ele iria aceitar
tão bem tal carinho, já que quando perguntei se poderia ajudar em
algo, ele havia dito que não, então só cabia a mim trabalhar nas
informações sobre a compra e venda de matérias primas.
Mas, vez ou outra, meus pensamentos me levavam para os
pequenos momentos do dia de hoje, desde a animação do turco em
me mostrar a profusão de detalhes que tornavam de fato o
apartamento dele num lindo palácio, com uma profusão de cores
fortes, tapetes, arcos, móveis e objetos que remetiam ao design
turco, uma grande surpresa para um homem tão austero como ele.
Enquanto percorria os cômodos principais tinha sido impossível não

imaginar como seria viver naquele lugar que parecia proveniente de
um conto de fadas oriental, o que fez com que uma pontinha de dor
tivesse me acertado por saber que aquilo nunca iria acontecer.
Imagens da deliciosa brincadeira com Aylla, que agora descansava
nos meus pés e que parecia realmente estar encantada com a
minha presença, e os pequenos toques que Cristhian  me dava no
processo, até o almoço íntimo, na sala de jantar privativa dele,
regado a conversas que fugiam daquilo que nos unia, o trabalho,
voltaram a minha mente. Essas lembranças me fizeram emitir um
suspiro baixinho de deleite enquanto o encarava, principalmente a
dele me fitando e dizendo que “queria que eu passasse muito tempo
ali”.
Eu não era tola, sabia que aquilo significava um arranjo
temporário, mas não tinha forças mais para resistir. Quando estava
acariciando a barriga de Aylla com os pés, fazendo a cadela rolar no
chão, emitindo sons caninos, ele me encarou, brindando-me com
um sorriso suave que chegava aos olhos, revelando novamente o
seu lado capaz de sentir emoções como qualquer mortal, como
cansaço, frustração, desejo e carinho, e tudo ao mesmo tempo.
Olhando para ele, isso me deu a convicção de que mamãe
estava certa, que eu estava me machucando de todas as formas ao

negar-me aquela felicidade, mesmo que efêmera, nos braços de um
homem carinhoso, terno e que me queria com todo o seu ser,
mesmo que fosse por um curto prazo.
Encarei-o tempo o suficiente para que meu coração se
enchesse novamente de preocupação por ele, e uma vontade
enorme de poder remover aquele peso dos seus ombros, fazendo-o
esquecer todo o trabalho que o cercava, me tomou.
Balancei a cabeça quase que imperceptivelmente, mas logo
prendi o ar nos meus pulmões.
Amor.
Embora eu lutasse contra e tentasse negar, tinha certeza que
havia uma parte de mim com ele, mesmo que não quisesse. E
quanto mais o olhava, mais certeza tinha que que estava me
apaixonando por ele, pelo lado sensível, humano, que ele escondia
de todos, mas não de mim, e o sentimento de proteção não me
deixava negar.
Meu coração se apertou, se quebrando em mil estilhaços por
saber que nunca seria correspondida, por mais amável que ele
fosse.
Mas eu aceitaria qualquer migalha que me desse. O meu
coração seria o preço que pagaria para tê-lo.

Essa constatação dolorosa fez com que eu voltasse minha
atenção para o trabalho à minha frente e afundasse nas planilhas,
naquilo que eu era paga para fazer. Deixaria para lamber as minhas
feridas e tentar juntar os meus cacos quando estivesse sozinha, ele
não precisava de uma cena de uma amante apaixonada, não
quando parecia ter vários problemas para resolver. Seria injusto com
ele.
Deixando que Aylla cheirasse minha mão livre, quanto mais
analisava e comparava os valores gastos com as matérias primas
para a fabricação das diferentes peças automotivas, mais alguma
coisa eu sabia que estava errada. Não sabia se era uma suspeita
que teria fundamento, mas percebia uma pequena discrepância no
aumento de centavos no preço de cada unidade que utilizávamos
para produzir as peças, acréscimo que se tornava maior a cada mês
nos últimos dois anos, que, no fim, gerava um montante mais do
que razoável. Um valor que chegava a casa dos milhões, que
acrescido a uma má gestão durante esse tempo, fez com que
perdêssemos muitos clientes, poderia muito bem ter levado a
empresa a ruína …
Estava tão imersa nessas reflexões, em cálculos, tentando
descobrir aquilo que estava errado, que nem percebi que Aylla tinha

O Pai Do Meus Bebês É O CeoOnde histórias criam vida. Descubra agora