Cristhian
— Está se sentindo melhor, anne[28]?
Tirei uma mecha de cabelo escuro do seu rosto, algo que
raramente via por estar sempre coberto por um véu, e beijei a testa
da minha mãe. Usava todo meu controle para esconder a raiva que
sentia do meu pai, o causador desse sofrimento, ao olhar o rosto
pálido e magro dela, tomado pelas lágrimas.
Sabia que ela não iria falar livremente o que estava
acontecendo, então tive que insistir.
Dentre todos os problemas que imaginei, isso nunca me
passaria pela cabeça, que o meu pai pediria o divórcio pronunciando
três vezes a palavra "talaq" na presença dela, depois de trinta e
cinco anos de casamento, ainda mais que o triplo talaq[29] tinha sido
proibido em vários locais de tradição muçulmana. E fez isso para
poder se casar com outra mulher em um país pouco influenciado
pela religião. Foi um grande baque para minha mãe, que apesar de
tudo, o amava muito. Ela tinha fé que Allah o faria mudar de ideia.
Minha mãe não dependia dele financeiramente e não
necessitava seguir fielmente as regras conservadoras infligidas ao
sexo feminino do meu país, porque eu a protegeria. Essa seria a
chance de pôr um fim nas constantes humilhações, com meu pai atraindo e não fazendo questão de esconder isso de ninguém. Eu
queimava de raiva ao saber que a annemler[30]mesmo sabendo que
seria o melhor para ela, sofria pelo constrangimento do seu
casamento não ter dado certo, por ter sido trocada por outra, isso ao
ponto de passar mal.
A saúde dela era mais importante do que qualquer coisa no
momento. Por sorte, tinha sido apenas um susto.
— Sim, oğul[31]
, não foi nada, só um pequeno mal-estar. —
Sua voz melodiosa, com seu sotaque cipriota, era sempre delicioso
de ouvir, mas não quando estava repleta de tristeza. — Não
precisava ter vindo de tão longe só por causa disso — completou.
Bufei em exasperação.
— Eu te amo, mãe — sussurrei ao levar a mão dela aos
lábios, plantando um beijo no dorso carinhosamente, para depois
enxugar as lágrimas dela com o polegar — eu me preocupo com
você.
— Eu também amo você, Cristhian . — Acariciou a minha barba
suavemente.
— Quando minha avó ligou, confesso que tive medo de
perder você. — Não precisava esconder da mulher que tanto me
amava, que suportou tanta coisa por mim, aquilo que sentia.— Me desculpe por isso, sevgili.
Continuou a me afagar, como se me consolasse, sendo que
era ela quem precisava do meu conforto. Ver seus olhos vermelhos
e as olheiras dava um nó enorme no meu estômago e aumentava a
minha fúria. Ela sempre foi sorridente e alegre, mas agora estava de
coração partido, sofrendo por um homem que não a merecia. Ali,
olhando para ela e vendo seu estado lastimável, jurei que nunca
faria isso com uma mulher. Nunca.
— Não por isso.
Não dissemos mais nada um para o outro. Fiquei segurando
sua mão, observando-a em silêncio. Ela havia nos assustado ao ter
que ser levada para o hospital, quando foi encontrada desacordada
no banheiro de sua suíte. Estava de volta em casa, mas vendo-a ali,
tão frágil, sentia meu coração apertar com força por ela. Segurei
minhas próprias lágrimas, não iria desabar na frente dela.
— Você não deveria estar trabalhando, çocuk[32]? — O tom
suave ecoou pelo quarto, em uma mistura de repreensão e carinho
maternal, e eu sorri pela mulher tentar usar o meu vício em trabalho
contra mim. — Tenho certeza que há muitos relatórios que exigem a
sua atenção.— Sempre há, anne — respondi, traçando círculos lentos
com os polegares na mão que segurava entre as minhas.
— Pode cuidar dos seus negócios, oğul — murmurou —,
ficarei bem.
Arqueei a sobrancelha por alguns segundos, quando percebi
que ela emitiu um soluço baixo, e voltava a chorar.
— Não há pressa — apertei seus dedos —, o trabalho pode
esperar.
— Você deve estar cansado depois de tantas horas de
viagem — insistiu. — Não precisava ter vindo direto para cá. Acho
que gostaria de tomar um banho, não é?
— Dormi no voo e o banho pode ficar para depois. — Disse
que tinha descansado, para não a deixar preocupada comigo.
Passei o voo todo afundado em relatórios e planilhas, tentando
aquietar a minha mente.
— Te conheço bem demais para saber quando está
mentindo.
Pude ver por trás da mulher fragilizada, mesmo com o rosto
abatido pelo choro, uma força inata naqueles olhos escuros. Ela
poderia ser muitas vezes submissa, por conta da criação que teve,
mas havia determinação em suas feições.— Por favor, Cristhian — pediu em um tom que era frágil, mas,
ao mesmo tempo, não aceitava uma negativa —, quero ficar
sozinha.
Voltei a encará-la, sentindo meu peito se apertar novamente,
mas acabei assentindo em concordância. Sabia que que ela não
verbalizaria a sua dor mais do que já tinha feito. E na minha criação,
foi-me ensinado a sempre respeitar o desejo dos mais velhos,
principalmente da minha mãe. Abria uma exceção a essa regra
quando se tratava dos homens da minha família. Não tinha respeito
nenhum por eles.
— Tem certeza, annemler? — questionei ao erguer-me da
beirada da cama, hesitando.
— Feche a porta assim que sair e peça que nenhum
empregado me perturbe.
— No final, tudo dará certo — sussurrei antes de deixar outro
beijo na testa dela em demonstração de respeito.
Ela não respondeu, e sabia que não o faria, pois tinha certeza
que, no momento, ela não conseguia enxergar nada além da própria
dor e humilhação.
Fui com passos lentos até a porta, não querendo deixá-la.
Parando na porta, dei um último olhar, observando-a se encolhendo
nos lençóis, mas como um filho obediente, fiz o que ela pediu.Continua.....
Votem e comentem assim saberei se estão gostando da história.
Beijos até a próxima
![](https://img.wattpad.com/cover/355198387-288-k641121.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Pai Do Meus Bebês É O Ceo
FanfictionESSA HISTORIA NÃO ME PERTENCE Uma mocinha ferida, um milionário arrogante e uma gravidez acidental... Depois de flagrar o homem que achava que seria o seu príncipe encantado transando com uma colega em plena festa da empresa, Anastácia refugiou-se...