Capítulo 27

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Cristhian

— Está se sentindo melhor, anne[28]?
Tirei uma mecha de cabelo escuro do seu rosto, algo que
raramente via por estar sempre coberto por um véu, e beijei a testa
da minha mãe. Usava todo meu controle para esconder a raiva que
sentia do meu pai, o causador desse sofrimento, ao olhar o rosto
pálido e magro dela, tomado pelas lágrimas.
Sabia que ela não iria falar livremente o que estava
acontecendo, então tive que insistir.
Dentre todos os problemas que imaginei, isso nunca me
passaria pela cabeça, que o meu pai pediria o divórcio pronunciando
três vezes a palavra "talaq" na presença dela, depois de trinta e
cinco anos de casamento, ainda mais que o triplo talaq[29] tinha sido
proibido em vários locais de tradição muçulmana. E fez isso para
poder se casar com outra mulher em um país pouco influenciado
pela religião. Foi um grande baque para minha mãe, que apesar de
tudo, o amava muito. Ela tinha fé que Allah o faria mudar de ideia.
Minha mãe não dependia dele financeiramente e não
necessitava seguir fielmente as regras conservadoras infligidas ao
sexo feminino do meu país, porque eu a protegeria. Essa seria a
chance de pôr um fim nas constantes humilhações, com meu pai a

traindo e não fazendo questão de esconder isso de ninguém. Eu
queimava de raiva ao saber que a annemler[30]mesmo sabendo que
seria o melhor para ela, sofria pelo constrangimento do seu
casamento não ter dado certo, por ter sido trocada por outra, isso ao
ponto de passar mal.
A saúde dela era mais importante do que qualquer coisa no
momento. Por sorte, tinha sido apenas um susto.
— Sim, oğul[31]
, não foi nada, só um pequeno mal-estar. —
Sua voz melodiosa, com seu sotaque cipriota, era sempre delicioso
de ouvir, mas não quando estava repleta de tristeza. — Não
precisava ter vindo de tão longe só por causa disso — completou.
Bufei em exasperação.
— Eu te amo, mãe — sussurrei ao levar a mão dela aos
lábios, plantando um beijo no dorso carinhosamente, para depois
enxugar as lágrimas dela com o polegar — eu me preocupo com
você.
— Eu também amo você, Cristhian . — Acariciou a minha barba
suavemente.
— Quando minha avó ligou, confesso que tive medo de
perder você. — Não precisava esconder da mulher que tanto me
amava, que suportou tanta coisa por mim, aquilo que sentia.

— Me desculpe por isso, sevgili.
Continuou a me afagar, como se me consolasse, sendo que
era ela quem precisava do meu conforto. Ver seus olhos vermelhos
e as olheiras dava um nó enorme no meu estômago e aumentava a
minha fúria. Ela sempre foi sorridente e alegre, mas agora estava de
coração partido, sofrendo por um homem que não a merecia. Ali,
olhando para ela e vendo seu estado lastimável, jurei que nunca
faria isso com uma mulher. Nunca.
— Não por isso.
Não dissemos mais nada um para o outro. Fiquei segurando
sua mão, observando-a em silêncio. Ela havia nos assustado ao ter
que ser levada para o hospital, quando foi encontrada desacordada
no banheiro de sua suíte. Estava de volta em casa, mas vendo-a ali,
tão frágil, sentia meu coração apertar com força por ela. Segurei
minhas próprias lágrimas, não iria desabar na frente dela.
— Você não deveria estar trabalhando, çocuk[32]? — O tom
suave ecoou pelo quarto, em uma mistura de repreensão e carinho
maternal, e eu sorri pela mulher tentar usar o meu vício em trabalho
contra mim. — Tenho certeza que há muitos relatórios que exigem a
sua atenção.

— Sempre há, anne — respondi, traçando círculos lentos
com os polegares na mão que segurava entre as minhas.
— Pode cuidar dos seus negócios, oğul — murmurou —,
ficarei bem.
Arqueei a sobrancelha por alguns segundos, quando percebi
que ela emitiu um soluço baixo, e voltava a chorar.
— Não há pressa — apertei seus dedos —, o trabalho pode
esperar.
— Você deve estar cansado depois de tantas horas de
viagem — insistiu. — Não precisava ter vindo direto para cá. Acho
que gostaria de tomar um banho, não é?
— Dormi no voo e o banho pode ficar para depois. — Disse
que tinha descansado, para não a deixar preocupada comigo.
Passei o voo todo afundado em relatórios e planilhas, tentando
aquietar a minha mente.
— Te conheço bem demais para saber quando está
mentindo.
Pude ver por trás da mulher fragilizada, mesmo com o rosto
abatido pelo choro, uma força inata naqueles olhos escuros. Ela
poderia ser muitas vezes submissa, por conta da criação que teve,
mas havia determinação em suas feições.

— Por favor, Cristhian  — pediu em um tom que era frágil, mas,
ao mesmo tempo, não aceitava uma negativa —, quero ficar
sozinha.
Voltei a encará-la, sentindo meu peito se apertar novamente,
mas acabei assentindo em concordância. Sabia que que ela não
verbalizaria a sua dor mais do que já tinha feito. E na minha criação,
foi-me ensinado a sempre respeitar o desejo dos mais velhos,
principalmente da minha mãe. Abria uma exceção a essa regra
quando se tratava dos homens da minha família. Não tinha respeito
nenhum por eles.
— Tem certeza, annemler? — questionei ao erguer-me da
beirada da cama, hesitando.
— Feche a porta assim que sair e peça que nenhum
empregado me perturbe.
— No final, tudo dará certo — sussurrei antes de deixar outro
beijo na testa dela em demonstração de respeito.
Ela não respondeu, e sabia que não o faria, pois tinha certeza
que, no momento, ela não conseguia enxergar nada além da própria
dor e humilhação.
Fui com passos lentos até a porta, não querendo deixá-la.
Parando na porta, dei um último olhar, observando-a se encolhendo
nos lençóis, mas como um filho obediente, fiz o que ela pediu.

Continua.....

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Beijos até a próxima

O Pai Do Meus Bebês É O CeoOnde histórias criam vida. Descubra agora