Kai
Um, dois, três... Espera...! Um, dois, três, quatro...
Não. Onde está o quinto dedo? Um, dois... Merda!
Fica calmo, cara. Estão todos aí. Lá embaixo também, não importa a dor ferrada que está sentindo, isso é bom sinal, sinal de que está vivo e que tem coisas vivas da cintura para baixo.
— Olá...? — consegui falar, mas um ataque de tosse me fez desejar ter ficado calado. Tentei mais uma vez fazer o inventário das partes do meu corpo que eu tinha consciência de que estavam respondendo, mas esse ruído sinistro perto de mim roubava minha concentração.
Onde eu estava mesmo? Por que tentava descobrir o que estava fodido no meu corpo? Por que estava tão escuro e quente, e ainda tinha esse ruído por perto que mais parecia aquele dos pacientes que chegavam ao PS com ataque de asma?
Espera! Asma?
— Olá? Alguém? — Dessa vez não tossi. Tinha muito pó se movendo, mas ia se assentando aos poucos. Respirei devagar e ignorei a bigorna que apertava meu peito. Ou talvez fosse um pedaço de concreto... Uma viga de madeira? Não sabia. Não sabia de porra nenhuma, só que eu estava muito, mais muito mais fodido do que se ainda estivesse num plantão de mais de 20 horas.
A respiração ruidosa continuava. Eu podia ouvir algumas vozes agora, murmurejando, outras gritando, longe de mim. Um pedido de socorro, outro falando palavrões. Choro, identifiquei alguém chorando em alguma direção para baixo de onde minhas pernas permaneciam presas por sei lá o quê que tinha desabado em cima de mim. Todos os sons estavam distantes, exceto um.
Tentei me lembrar. Lílian tinha saído do lugar. Lembrei que ela tinha cruzado a maldita porta. Isso me deu um alívio fenomenal. Ainda que estivesse muito aborrecido quando ela foi embora, eu fiquei feliz por ela não estar enterrada nessa porra de túmulo quente dos infernos.
Espera... eu estava enterrado...? Estava mesmo enterrado?
Eu estava no inferno? Eu nem acreditava em inferno!
— Alô? Alguém? Ajuda! — O pânico começou a ganhar proporção. Acho que minha cabeça começou a pensar de novo, talvez a pancada tivesse meio que apagado minha capacidade de raciocínio, ou talvez tivesse sido outra coisa.
Sim. Foi uma imagem. Alguém. Eu olhava para alguém, e minha cabeça deu uma pifada. Um par de olhos claros...
Por que essa merda de ruído não parava?
Fica calmo, cara. Você é a porra de um médico. Você tem que saber o que fazer. Raciocina, caralho!
Esse som. Vento, chiado, vazamento de gás, pneu... Nada disso, era...
Respiração!
Alguém estava sufocando!
— Ei! Você! Pode me ouvir? Por favor! Responda! Consegue respirar mais devagar? Tem alguma coisa atrapalhando o ar de entrar? Preciso que você se concentre na minha voz e tente falar comigo!
— Gnhhh...
— Isso. Tenta falar comigo! O socorro já vem, ok? Só... Fica comigo! Fala alguma coisa pra eu saber onde você está!
— M-me...
— O que você disse? Consegue tentar de novo? — insisti com aquela voz que parecia ser masculina. Pela forma como saía áspera e rouca, era impossível saber mais. Eu precisava entender como ele estava, e onde estava.
Comecei a apalpar os escombros próximos; meu braço esquerdo estava preso, mas o direito podia se mover. Tateei na escuridão, mas não conseguia mexer mais nenhuma parte do corpo. Qualquer esforço que eu fazia, doía ainda mais minhas costas, onde provavelmente havia fraturas de costelas e, eu nem queria pensar, algum outro tipo de lesão. Eu tinha medo de mexer onde não devia e piorar nossa situação deslocando algo que não deveria ser deslocado.
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Indestrutível (Romance Gay)
Romance🌈 Romance Gay 🥇👬🏼 PRIMEIRO LUGAR NA CATEGORIA "MELHOR CASAL" - 3ª Ed.CONCURSO CÓSMICO 2024 🥈#2 em Novidade (Jun/2024) 🥈#2 em Bissexual (Jun/2024) 🥉#3 em Novo (Jun2024) 🏅#4 em Sensível (Jun/2024) Kai levava uma vida agitada. Residente no Hos...