10 - Medo

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Gustavo

Eu caminhava por uma nuvem cor de rosa. Era fofinha e quentinha e, por cima de tudo, havia luzes de todas as cores em fachos cintilantes.

Que porra de lugar era aquele? A versão Parada Gay do Paraíso?

Eu não gostei, mas não foi por eu ter relacionado o lugar à Parada Gay, afinal, cheguei a participar de algumas. Era porque parecia uma porra de um paraíso, e eu não queria estar ali.

Eu não merecia estar ali, caramba! E se eu estava, era porque tinha dado uma merda gigantesca!

Tentei me lembrar de alguma coisa. Qualquer coisa. Havia um branco na minha cabeça, e eu só me lembrava da tela do meu celular com o resíduo de coca. Nada mais.

Espera! Lembrei de outra coisa! Estava quente como o inferno. Lembrei de ter ejaculado em alguma boca aleatória num banheiro, depois eu vi um cara gostoso levando um fora de uma loira, então...

Então...

[...]

— Ele está acordando!

O quê? Quem falou?

Onde foi parar a nuvem quentinha e fofinha? Por que ta tudo tão escuro de repente e... Que porra de som é esse que fica apitando o tempo todo na minha orelha? E esse ruído esquisito fazendo contratempo com o apito? 

Estiquei meus dedos. 

Filho da puta do Kai que tirou a mão daqui! Ele tinha prometido! Ele falou que não ia soltar minha mão e eu...

Espera...

Eu estava ouvindo os apitos. E o ruído. E... estava tudo macio, morno e... seco.

Tentei abrir os olhos, mas por mais que eu abrisse, continuava escuro. Comecei a ficar apavorado, aquele bipe agudo voltou a disparar e tudo ficou muito acelerado ao redor.

— Ele está agitado!  a mesma voz que mandou a Parada Gay no Paraíso pra casa do caralho gritou de novo.

— Segura ele! — outro grunhiu.

— Ai, meu óculos, caramba... — acho que esmurrei alguém e...

Óculos?

Kai?

Tentei falar. Tentei chamar o nome do Kai, mas tinha um bagulho na minha boca que me dava ânsia de vômito.

— Segura o braço dele!

Não. Não era o Kai. Definitivamente essa voz não era a dele!

Eu não podia ver! 

Eu não podia falar!

Socorro!

— Segura as pernas! Vou tentar prender os braços...

— Calma gente! Tem que conversar com ele! Senhor! Por favor, pode me ouvir?

Era uma voz de mulher, agora. Ela chegou perto do meu rosto e falou comigo, e eu senti o hálito quente na minha bochecha. Senti a mão morna segurar meu braço, e meu coração palpitou com o susto.

— Você não pode falar porque tem um tubo na sua garganta. Fique calmo, ok? Você já foi resgatado, está num hospital e está seguro, agora.

Eu neguei com a cabeça. Eu não estava seguro porque o Kai não estava ali. Ele tinha soltado a minha mão, e agora eu estava com medo. Eu precisava avisar que ele estava lá, no buraco comigo, mas eu não podia falar. 

Indestrutível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora