Indestrutível (Romance Gay)

18 - Percepção

Gustavo

Quando minha língua entrou na boca do Kai, percebi o quanto a visão às vezes era superestimada. Ok, era importante enxergar, mas no momento, não enxergar era o menor dos meus problemas pois eu estava sentindo todo o resto com muito mais intensidade. Talvez essa fosse a razão que levava as pessoas fecharem os olhos quando se beijavam. Minha percepção parecia aguçada, apurada e direcionada aos meus outros sentidos como nunca antes.

Olfato. Eu sentia o cheiro do Kai. A fragrância cítrica do shampoo que emanava dos seus fios lisos e negros; o aroma que vinha dos seus lábios, menta e algo próprio, que produzia um tempero exclusivo e único; o cheiro de sua pele, sabonete e suor, mas não do tipo ruim, era o cheiro que emanava naturalmente por seus poros, algo indescritível e extremamente excitante. Além da pele, do suor e da saliva, havia a fragrância de suas roupas, o perfume que usava, seu hálito e a atmosfera da casa, e tudo entrava por minhas narinas criando uma memória olfativa para a posteridade.

Audição. Eu podia ouvir cada puxada de ar, cada expiração, cada soluço e os gemidos que lhe escapavam, estrangulados em sua garganta como se ele quisesse esconder o que sentia. Eu escutava o farfalhar de nossas roupas e o roçar de nossa pele, e o som que nossas línguas produziam enquanto dançavam dentro das bocas coladas, ruídos de sucção que nossos lábios faziam enquanto se chupavam com uma fome vampiresca. Por dentro, meu coração ribombava em meus ouvidos como um tímpano numa orquestra, ditando o ritmo acelerado das carícias, cada vez mais sôfregas, cada vez mais urgentes.

Paladar. Kai tinha um gosto incomparável. Vinha dos lábios, vinha da carne, vinha da saliva e do suor que brotava em seu buço, realçado pelo aroma que eu sentia enquanto lambia a linha de sua mandíbula, levemente salgada pela intensidade das carícias. Eu percebia uma pitada de tempero ferroso, como uma especiaria drenada por uma fissura causada em seu lábio inferior devido à intensidade de uma mordida. Um sabor exótico, uma iguaria ímpar. Era como degustar o primeiro prato de uma refeição ansiando pelo prato principal.

Tato. Seus cabelos eram macios como seda e algodão, espessos, fartos, mais compridos do que de costume e enchiam a palma da minha mão. Sua pele era lisa no pescoço e áspera na linha da barba, um contraste perfeito que provocava um atrito excitante e estimulante; os pelos curtos pinicavam meus lábios enquanto eu passeava com minha boca por todo o seu rosto, e a sensação me deixava abrasado e ansioso por mais fricção. Seu corpo era firme sob meu toque, músculos tesos sob minha palma que descia por suas costas, fazia o caminho em torno da cintura magra e se detinha nos gomos modestos de seu abdômen delgado. Mais acima, o bico de seu mamilo era como um botão túrgido e saltado, envolto por minúsculos pontos arrepiados que eu quase podia contar com a ponta dos dedos. Era como se estivessem gravados em braile, pedindo para serem mordidos, sugados e pressionados.

Meu corpo reagia a tudo ao mesmo tempo. Sintonizado com os sentidos que me restavam, eu podia contar cada saliência, registrar cada nota olfativa, degustar cada sabor e me deleitar com a melodia que produzíamos juntos. O conjunto de todas as impressões me levou a um estado de cartase nunca antes experimentado.

E tudo isso com apenas um beijo.

– Gustavo... – Ele gemeu, quando minha mão desceu de seu mamilo estimulado até seu umbigo, e mais embaixo. Meus dedos se apossaram do botão do seu jeans e o libertaram da casa, restando apenas um zíper que pressionava seu membro desesperado para se libertar das amarras.

– Kai... me chama de Gu...

– Eu, guhnnn... – Não foi bem o que pedi, mas foi o que saiu dos seus lábios quando minha mão o envolveu por dentro da cueca. Ele puxou o ar, e apertou meus braços com tanta força que chegou a doer. Movi minha mão para cima e para baixo, me deleitando na textura de sua pele, os pelos pubianos faziam uma carícia no meu punho conforme eu o acariciava lentamente e o sentia pulsar entre meus dedos.