31 - A três?

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Kai

Se houvesse uma forma de cortar o ar, seria preciso um machado para conseguir o intento naquele momento. A atmosfera da minha sala era tão pesada que quase dava pra ver as partículas de pó vagando lentamente pelo ar. Gustavo e Lílian se encaravam com tamanha tensão que me perguntei se eu havia tido uma boa ideia.

Era claro que minha ideia era ótima. O problema era fazer dar certo com um escritor que parecia ter 15 anos e uma desenhista que parecia ter 13.

Bem-vindos de volta à quinta série!

Eles já tinham trocado todo tipo de ofensa, depois bateram boca até que Gustavo começou com as piadas idiotas e ela se dividia entre ficar sem graça e responder à altura. Uma coisa que notei entre eles é que ambos tentavam chamar minha atenção de alguma maneira, como uma dança do acasalamento.

Era esperado que reagissem assim. Nenhum dos dois era maduro o suficiente e eu me senti o vovô da sala tentando pregar conselhos para os netos.

– Tá, mas como vai funcionar? A gente vai ter que se encontrar pra ver roteiro e essas paradas? – Gustavo perguntou.

– Primeiro eu preciso esboçar os personagens e ver o que você acha. Não que eu esteja me importando tanto com sua opinião sobre meu desenho.

– Como assim? É lógico que eu preciso aprovar o desenho! Foi eu quem idealizou cada um, preciso ver se você vai conseguir representar o que estava na minha cabeça quando escrevi! – Ele argumentou.

– Tá, e como eu vou ler sua mente, gênio? Você por acaso tem algum modelo, algo em que tenha se baseado para escrever?

– Não exatamente, mas tem tudo na minha cabeça!

– Tá, então pega um lápis e desenha o que tá na sua cabeça! Quem sabe fica melhor do que o meu? – Lílian desdenhou.

– Gente... – Interrompi.

Já tinha passado mais de duas horas e eles não paravam de trocar farpas. Definitivamente, não tinha sido uma boa ideia.

Eu não podia culpá-los. Lílian estava puta pelo rompimento do noivado e culpava o Gustavo, que estava puto comigo por ter envolvido a Lílian e eu, o centro de tudo, ficava assistindo como se eu fosse um osso puxado por dois cães numa rinha.

– Meo, não vai rolar... – Gustavo desabafou.

– "Meo?" – Lílian ficou me olhando. Gustavo me lançou um olhar ladino e eu lhe devolvi um olhar mortal advertindo para que ficasse de bico calado.

– É, Barbie! Ou vocês não tinham apelidinhos safados na cama? 

Ele me ignorou. Óbvio.

– O que a gente fazia na cama não levava pra fora dela, seu idiota! – Lílian ficou vermelha. Isso era novidade pra mim.

– Não tenho culpa que eram tão chatos na cama que nem brincavam com essas coisas fora dela...

– Ah, tá! Vai botar banca de comedor pra cima de mim, é?

– Você se surpreenderia...

– GUSTAVO! – Gritei.

Sério. Eu queria morrer.

– Ela quem começou – Gustavo apontou na direção dela, que o olhou de volta com uma expressão que eu podia jurar que era de quem se segurava para não rir.

Quê?

– Olha, vamos fazer assim: Você, Lílian, faz os desenhos do jeito que imagina. Gustavo olha e depois pede ajustes, se precisar! Não temos nada! É preciso começar de algum lugar.

Indestrutível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora