Gustavo
Meu coração ainda estava acelerado. Kai caminhava ao meu lado e, ainda que pela primeira vez em dias não precisasse do apoio para me locomover, caminhei apoiado ao seu braço e ele parecia não se importar. Um braço ele mantinha à disposição do meu, o outro segurava a guia do Chokito, como se fôssemos um casal caminhando pelas ruas do bairro.
A noite estava morna e pouco movimentada devido ao horário avançado, e eu senti a brisa delicada em meu rosto, envolvendo-me como um abraço. Aos poucos, fui me acalmando, e logo caminhava tranquilo, desfrutando daquele momento de pura paz.
Foi interessante me sentir dessa maneira. Especulei se em algum outro momento da vida me senti de igual modo, e não pude me lembrar de um sequer. Uma tranquilidade havia tomado o lugar do medo de há pouco, enquanto chorava nos braços do Kai, e a cada passo que eu dava, me sentia mais seguro com tudo à minha volta.
Eu percebi que eu estava... contente. Olhei pro Kai, vendo-o agora como se eu tivesse esquecido de por os óculos, e ele não parecia contente como eu.
— O que foi, Meo?
Ele soltou um suspiro, então falou de um jeito apreensivo:
— Vou te fazer umas perguntas, Gu, mas não quero que se aborreça, ok?
Fiquei meio confuso com o fato do Kai me alertar antes de fazer perguntas. Eu era tão chato assim?
— Pode fazer, Kai. Eu tô de boa.
— Você chegou a estudar alguma coisa depois que deixou a escola? Fez algum curso ou graduação?
— Não.
— Você... chegou a voltar a jogar, ou tentou algo na área do esporte?
— Não.
— Tem algo que você saiba fazer além de ser modelo?
— Você deve me achar um inútil irresponsável, não? Um vagabundo, talvez...
— Eu pedi pra você não se aborrecer...
Tarde demais. Esse era um assunto delicado para mim porque eu mesmo me sentia um merda na maior parte do tempo.
— Eu apenas... não tive as mesmas oportunidades que outros, e as que tive, não fui capaz de aproveitar.
— Existe algo que você ainda pense em fazer? Alguma paixão, algo que você se sinta encaixado?
— Eu gosto de escrever, mas não é nada demais.
— É mesmo? O que você costuma escrever?
— No geral, escrevo uns contos, umas paradas meio fantasia, coisas do tipo.
— Nunca imaginei que você escrevesse!
— É, ninguém imagina. Corpo grande, cérebro pequeno, lembra?
Kai ficou calado. Certamente se lembrou da ocasião, e dos óculos quebrados quando mandou essa na minha direção, no segundo ano. Eu era um tremendo babaca e não havia nada que pudesse desfazer o que fiz.
— Tem suas histórias em algum lugar? — perguntou, como sempre ignorando minha provocação.
— Tem um site onde publico. Mas não é nada demais, nem perca tempo lendo.
— Eu vou querer ler, Gu.
— Não preci...
— Eu quero ler! — sua voz saiu meio irritada.
Não sei se foi pelo que eu disse ou outra coisa, ele ficou meio amuado pelo restante do passeio. Quando estávamos perto de chegar ao apartamento, ele voltou a conversar.
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Indestrutível (Romance Gay)
Romantizm🌈 Romance Gay 🥇👬🏼 PRIMEIRO LUGAR NA CATEGORIA "MELHOR CASAL" - 3ª Ed.CONCURSO CÓSMICO 2024 🥈#2 em Novidade (Jun/2024) 🥈#2 em Bissexual (Jun/2024) 🥉#3 em Novo (Jun2024) 🏅#4 em Sensível (Jun/2024) Kai levava uma vida agitada. Residente no Hos...