Kai
Foi difícil me manter indiferente diante dos meus colegas de trabalho. Foi difícil demais! Lembram quando eu disse que eu não era de sentir coisas por ter desenvolvido controle emocional e tal? Então, com ele, tudo não passava de balela.
Sempre foi assim. Gustavo era o único que no passado me tirava do sério. Ele me tirava do prumo o tempo todo e interferia nas minhas emoções para qualquer lado.
Claramente a raiva era o que ele mais despertava em mim, mas também teve a mágoa quando ele começou a ser maldoso comigo depois do lance da denúncia. Eu me lembro que eu chegava a chorar, e não era só porque estava irado com ele, era por me questionar o que eu tinha feito para merecer tanta raiva e provocação.
Ele despertava a empolgação e até uma nesga de felicidade quando eu o via jogar. Era lindo de ver, mas isso acabou depois que ele quebrou o braço e desistiu dos treinos.
Ele despertou ansiedade quando desapareceu da escola, e eu chegava todo dia para a aula e ficava esperando ele aparecer. Duas semanas depois, quando achei que ele tivesse sido expulso ou transferido, eu fiquei amargurado a ponto dos meus olhos formarem lágrimas.
Ele me provocou ciúmes quando o vi pegando uma série de garotas, uma após a outra, depois de eu ter "presenciado" aquele momento íntimo no banheiro que me levou a uma punheta de emergência. Nunca na minha vida gozei com tanto prazer quanto naquela ocasião. Também nunca mais pensei em me masturbar pensando nele, e foi algo que me neguei propositalmente.
Não queria constatar que Gustavo era o único capaz de me dar tais orgasmos.
E por fim, ele despertou tristeza quando parou de mexer comigo no último bimestre. Quando ele confessou que ficou magoado porque achava que éramos amigos, fiquei mal uns dias, e quando ele não falou mais comigo ou fez qualquer provocação, eu senti que não merecia mais sua doentia atenção. Isso me deixou bem chateado, embora nunca tivesse admitido para ninguém, nem para mim mesmo.
Porém, há quatro dias, uma tragédia me jogou em uma cova coletiva ao lado dele. Desde então, cada uma das emoções reprimidas ao longo dos anos tem sido desembrulhada, uma a uma, e servida em uma bandeja de prata para minha introspecção: medo, raiva, desespero, esperança, tristeza, angústia, alegria...
Medo por nós dois; raiva pela impotência de não poder ajudar; desespero ao testemunhar seu sofrimento; esperança pelo resgate; tristeza ao perceber seus medos; angústia ao acreditar que ele estivesse morto; alegria ao descobrir que ele estava vivo e aquele sentimento inominável...
Eu não saberia explicar o que rolou naquele inferno, mas Gustavo foi me abrindo aos poucos, e agora, enquanto eu segurava sua mão sob o olhar curioso da minha equipe de trabalho, eu me sentia um nervo exposto. Tudo o que eu queria era que todos desaparecessem para que eu pudesse velar seu sono em paz.
Mas as coisas não eram tão simples. Gustavo estava numa UTI depois de ter sobrevivido quase que por milagre. Ele apresentara tantos danos internos que as cirurgias para intervenção das hemorragias, fissuras e fraturas chegaram a levar 14 horas ao todo. Foram três paradas cardiorrespiratórias, a terceira durou quatro minutos e todos pensaram que o haviam perdido.
Mas ele lutou. Assim como nos escombros, ele lutou e até o seu despertamento ocorreu antes do esperado, como se ele estivesse desesperado para sair da escuridão a qualquer custo.
Quando ouvi a agitação no quarto e os enfermeiros falando com ele, eu estava do lado de fora me informando sobre seu quadro de saúde. Entrei na unidade e ele se debatia, seus olhos muito verdes e muito abertos vertiam lágrimas de desespero, e precisei intervir.
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Indestrutível (Romance Gay)
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