2 - Calor Infernal

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Gustavo

Cruzei as portas do salão e um bafo quente atingiu meu corpo. Eu não esperava que estivesse tão quente ali, mas quando vi as garotas transitando com minúsculos pedaços de pano sobre peles cintilantes, não me importei mais.

Olhei a tela do celular, já passava da uma hora da manhã. Obviamente, não era o primeiro local que eu entrava, afinal, o "esquenta" havia começado horas antes num posto de gasolina. Diferente dos caras que me acompanharam no primeiro rolê, eu não precisava trabalhar no dia seguinte, então, era cedo para encerrar a noite.

Me aproximei do balcão do bar, e o bartender, um cara enorme de pele escura (preciso mencionar que tenho mais de 1,80m então o cara era grande mesmo) me cumprimentou com um sorriso que teria ofuscado meus olhos se eu não estivesse usando um par de óculos de lentes polarizadas.

Sim, eu não enxergava perfeitamente bem, mas gostava de botar banca que os óculos eram só para compor o visual. Tudo em mim, na verdade, era para mostrar aquilo que eu queria que vissem, ou esconder o que eu não queria mostrar. Uma carapaça muito bem talhada ao longo dos anos com o intuito de deixar do lado de fora os intrusos desbravadores de almas.

– O que rola com o ar-condicionado daqui? – Perguntei ao gigante cuja careca só não brilhava mais do que seus dentes por causa da luz negra.

– Deu um pau elétrico, tem uns caras trabalhando lá, logo volta ao normal. O que vai querer?

– Vou abrir com vodca. Pode servir duas doses. Quem mais tá servindo por aqui?

O barman obviamente entendeu a que eu me referia. Com um aceno sutil de cabeça, um rapaz loirinho e mirrado usando um boné de beisebol se aproximou para um toque de mãos.

– E aí "parça"! Tem tempo que não te vejo por esses lados!

Obviamente nunca havíamos nos visto antes. A conclusão disso estava implícita na segunda troca de mãos, quando ele me passou o "bagulho" e ficou com meu dinheiro. Mandei a vodca para dentro e me encaminhei para o banheiro.

Na cabine, despejei o pó na tela do celular e com um Valete de Copas que eu mantinha dentro da carteira, separei três carreiras e aspirei.

O motivo de eu ter uma carta de baralho velha e amarelada na carteira não vinha ao caso agora.

Senti o coração bombar o sangue para o cérebro e luzes piscaram diante dos meus olhos. Passei o dedo na tela do aparelho e massageei o resíduo na gengiva antes de deixar a cabine. As luzes que me atingiram quando saí do banheiro estavam muito mais fortes agora, a música mais alta e o calor, infernal.

Aos poucos, fui me entranhando entre os corpos que se moviam no pulsar da música e das luzes estroboscópicas. Meus óculos embaçaram, então os removi e enfiei no bolso de trás da calça. Minha camiseta de banda de rock já estava começando a grudar na minha pele, então eu a subi até o meio do peito e deixei o ar entrar e resfriar meu abdômen, uma sensação falsa que mais tinha a ver com a pele molhada do que com qualquer possibilidade de refrescância real.

Fechei meus olhos e me concentrei no rufar do coração. O sangue pulsava em minhas orelhas, e eu estava chegando ao ápice do barato. Uma gargalhada completamente sem-noção escapou dos meus lábios quando inclinei meu pescoço para trás e olhei o teto negro da pista de dança.

– Que tanquinho delicioso, playboy...

Olhei para baixo e me deparei com uma morena escultural. O cabelo preto chegava liso até a cintura, e a minissaia branca brilhava azulada pelas luzes que piscavam. Os peitos que não eram de verdade nem aqui nem no Nepal, saltavam redondos e lustrosos na minha direção.

Indestrutível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora