Capítulo 22: Construindo conexões.

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O amor vive de repetição. Cada um de nós tem, na existência, no mínimo uma grande aventura. O segredo da vida é reeditar essa aventura sempre que seja possível."— (Oscar Wilde)



Lorenzo era uma pessoa verdadeiramente enigmática. Com seu cabelo penteado para trás — ao contrário de Leonardo, que usava um topete caído para frente, algo que Emma adorava — e uma expressão quase sempre indecifrável, ele deixava Emma desnorteada, ansiosa por desvendá-lo ainda mais. Seu olhar, embora confuso e às vezes incomum, transmitia ocasionalmente uma certa ternura pela garota que agora dançava livremente com ele.

Durante a valsa, Emma pegava-se olhando furtivamente para o alto e bonito rapaz. Sua estatura era tão imponente em relação à dela que ela precisava inclinar a cabeça para cima para encontrá-lo, e assim via seus olhos observadores e calculistas a encarando. Por que um garoto tão bonito poderia ser tão rude às vezes? E como poderia um rosto angelical, tão bonito como de um anjo, ser tão enigmático? Havia momentos em que Emma se intrigava tanto com essas perguntas sobre Lorenzo que sabia que nunca teria todas as respostas.

— Vejo que a senhorita está pensando bastante. Arriscaria dizer que tem algo a ver comigo? — questionou ele, olhando para o rosto de Emma.

Às vezes, Emma sentia como se o garoto pudesse ler sua mente. Como ele conseguia fazer isso? Na verdade, com aquele olhar, parecia que ele podia ler sua alma!

“Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos” — refletiu Emma “Sejam eles mais obscuros, vazios, simples ou cheios de vida, sempre há alguém capaz de decifrá-los ou entendê-los.”  — Ela desejava ter o dom de compreender melhor o jovem de mente tão escapatória.

— Por que acha que estava pensando em você? — perguntou Emma, sem responder diretamente à pergunta dele. Ela não o questionou de forma rude ou desafiadora, mas sim com gentileza, buscando aprofundar a conversa entre eles.

— Era o que eu pensava. — respondeu ele simplesmente. — Eu nunca convivi muito com a sociedade — continuou enquanto conduzia a dança, levando-a a fazer um leve rodopio. — Sempre fui convidado para diversos eventos vespertinos e tive a oportunidade de conhecer várias pretendentes que meus pais arranjavam ao longo dos anos. No entanto, era difícil quando eu aceitava algum convite para festas ou encontros assim.

— Por que? — Emma perguntou, aproveitando o momento em que Lorenzo estava conversando com ela como um cavalheiro, apesar de ainda ter uma expressão um tanto inerte. A conversa estava fluindo.

— Quero dizer é um tanto difícil tentar mudar quando sua essência é ser diferente, estranho e vazio, por assim dizer. — Ele conjecturou, tentando não revelar seus pensamentos ansiosos e profundos. — Mas também percebo que não custa muito ser um pouco mais parecido com os outros, nem que seja para agradar.

— Bom... — começou Emma, olhando para os próprios pés enquanto dançavam silenciosamente juntos. Ela pensava que Lorenzo realmente era alguém que preferia estar sozinho, menos sociável, atento às coisas ao seu redor, mas que não se interessava por qualquer coisa. E, além disso, ela sentia que ele carregava algo profundo dentro de si, como uma culpa interna que ela não sabia o que era. — E eu confesso que sempre fui muito extasiada com as coisas. Porém, posso afirmar que sou alguém curiosa para descobrir coisas novas. — Ela afirmou, levantando a cabeça e encarando os perfeitos olhos cor de avelã dele. Aqueles olhos eram como os de uma rapina: observadores e misteriosos ao mesmo tempo. Como ela gostaria de entendê-lo!

— Vejo que a senhorita pode ser curiosa mesmo. — Ele disse, examinando-a cuidadosamente e vendo como ela tentava compreendê-lo

— O que posso responder é que você realmente sabe ler uma pessoa.

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