Através Do Espelho

Capítulo 41: Reflexões Espelhadas: explicações.

"Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito." — (William Shakespeare)

Por Emma.

Ter que retornar à minha realidade é algo bom, porém também aprecio estar aqui, neste mundo espelhado. Apesar de todas as adversidades que enfrentei naquele antigo galpão, ainda sinto um arrepio ao lembrar-me. Mas graças a Deus, estou segura e salva, e o problema com a fábrica foi resolvido. Hoje, tive um dia repleto de atividades: tomei café da manhã com meus pais, participei do penúltimo ensaio com as crianças no Prime Baile para a nossa apresentação amanhã na fábrica, que, aliás, está maravilhosa. No entanto, neste momento, estou me arrumando para fazer uma breve visita a Lorenzo. Ele me cobrou desde aquele dia em que mencionei que o visitaria, ele e Lou. Sinto saudades daquele vira-lata adorável!

Escolhi um vestido discreto, simples e leve, do jeito que eu gosto. Ele é de um tom roxo claro, com estampa aberta e mangas pequenas, sem volume. A parte de trás do vestido apresenta ondulações delicadas que vão até abaixo dos joelhos, enquanto a parte da frente é mais reta, ficando na altura dos joelhos. Completei o look com um sapatinho preto um pouco alto, confesso que amo esse estilo, e peguei uma bolsa preta de crochê para levar alguns agasalhos. Ganhei essa bolsa de presente de minha mãe ontem, durante o jantar em família.

— Boa noite, Srta. Ester. Vai sair? — Anastácia apareceu no batente da porta de repente, me olhando com curiosidade. Ri com a forma como ela me observava.

— Sim, e aliás, estou um pouco atrasada, Anastácia. — respondi, olhando para o relógio acima da minha penteadeira.

— Se me permite perguntar, para onde a mocinha vai em plena sete horas da noite? — perguntou ela, também olhando para o relógio acima.

— Prometi ao Sr. Lorenzo que iria visitá-lo hoje, e combinamos que sairíamos após eu ver o Lou.

— Hummm. — ela mostrou um sorrisinho no rosto — Espera, quem é Lou? Irmão dele? Não sabia que ele tinha um irmão. — perguntou, tentando se lembrar.

— Não, não, Anastácia. — corrigi-a — Lou é o cachorro dele, que aliás foi adotado há alguns meses quando eu e ele o encontramos na rua. Mas isso não é assunto para agora. — coloquei um casaco, pois a noite mostrava que ficaria mais fria com o decorrer das horas. — Agora eu preciso ir.

— Está bem, mas não tire esse casaco, o tempo pode esfriar e não quero te ver doente. — ela expressou sua preocupação.

— Tudo bem, agora tchau, Anastácia! — corri até ela e lhe dei um beijo no rosto direito, passando rapidamente pelos enormes corredores até finalmente chegar à escadaria.

— Saindo agora, minha querida neta? — perguntou meu avô, me vendo descer apressada. Ele e a vovó haviam vindo jantar conosco naquele dia, pois perceberam que fazia um tempo desde a última vez que nos visitaram. Agora que eu estava bem e segura, eles estariam mais presentes, para a minha felicidade em vê-los aqui. Porém, teria que decepcioná-los naquela noite, pois precisava visitar Lorenzo.

— Não irá jantar conosco? — ele perguntou com um ar desapontado. Fiquei triste por ter que sair naquele momento.

— Infelizmente, sim, vovô, mas amanhã estarei presente, prometo! — cruzei meus dedos nos lábios em forma de juramento — É que hoje também prometi a um colega que o visitaria, não quero decepcioná-lo... — expliquei, abaixando as mãos.

— Está bem, querida, mas amanhã o dia é com sua família, hein? — pediu, com um olhar esperançoso.

— Claro! — assenti, dando-lhe um abraço de despedida, e segui em direção à porta da frente.Caminhei apressada e pedi ao cocheiro que me levasse até a residência dos Diaz, que segundo ele, ficava a cerca de dez minutos de distância de carruagem.