Através Do Espelho

Capítulo 3: Novas descobertas.

“O que aprendemos com a amarga experiência é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário, quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora. Mas nunca se está mais só e abandonado do que quando se luta para ter a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso se – quando – a roda da fortuna começar a girar em outra direção”. — (Zigmunt Bauman).

Os lugares de Barcelona naquele mundo do século XIX eram verdadeiramente extravagantes, encantando Emma com sua beleza e grandiosidade. A jovem ansiava explorar cada recanto da cidade, maravilhando-se com a diversidade de locais e atividades que se desenrolavam à sua volta. Era um verdadeiro espetáculo para os olhos.

Havia uma agitação constante na localidade, com pessoas transitando por todos os lugares. Algumas se encontravam em pequenas e ilustres casas de chá, desfrutando de momentos de tranquilidade e elegância. Outras se deliciavam em docerias, saboreando iguarias requintadas e doces tentadores. Lojas elegantes exibiam suas mercadorias, atraindo olhares curiosos e desejosos.

As praças sofisticadas de Barcelona eram verdadeiros cenários de encantamento. Crianças corriam e brincavam, enchendo o ar com risadas e alegria. Algumas delas, vestidas com roupas finas e elegantes, destacavam-se pela postura impecável e pelos modos refinados. Pareciam estar acima das brincadeiras comuns, mantendo-se alheias às diversões que envolviam sujeira e suor. Era como se estivessem empenhadas em impressionar seus pais e preceptores, demonstrando seu conhecimento e obediência aos padrões sociais.

No entanto, Emma não podia deixar de sentir uma ponta de tristeza ao observar a desigualdade presente naquele mundo. A existência de famílias que se apegavam a rígidas regras de conduta e padrões sociais, mesmo em ambientes públicos, despertava um certo ressentimento na jovem. Ela já havia estudado sobre a desigualdade que persistia ao longo dos séculos, e era difícil para ela não sentir uma certa indignação diante dessa realidade.

Apesar disso, havia diversos lugares com suas particularidades encantadoras naquela Barcelona do século XIX. Ambientes que pareciam harmoniosos e agradáveis, onde as pessoas desfrutavam de momentos de prazer e cultura. E agora, Emma dirigia-se à famosa biblioteca de seu avô naquele mundo, Inácio Lemon. Ela havia visto um anúncio na revista, elogiando o enorme acervo de livros e sentindo-se emocionada ao ver a foto em preto e branco do seu querido avô.

Ao adentrar a biblioteca, Emma se sentia envolvida pela natureza do lugar. As enormes estantes repletas de livros, cada uma contendo histórias, relatos e narrações únicas, despertavam sua admiração. Ela compartilhava com seu avô de seu verdadeiro mundo o mesmo amor pela literatura.

E enquanto percorria os corredores da biblioteca, Emma se deixava envolver pela atmosfera do lugar, absorvendo a energia dos livros e das histórias que tinham para contar. E Emma continuava sua busca pelo avô, ansiosa para descobrir como vivia ele naquele mundo espelhado. Pelo visto, imerso nos livros.

— Veio ouvir outra história, querida Ester? — perguntou seu Inácio, observando Emma se encantar com os diversos corredores repletos de livros — Qual você gostaria de ouvir desta vez?

Emma, alucinada pela vasta coleção de livros e por ver seu amado avô naquele mundo também, respondeu fascinada — Sim, quero ouvir mais de suas histórias hoje, vovô.

Seu avô, radiante como seu verdadeiro avô em sua vida, vestia uma camiseta branca de mangas longas, uma calça com jardineira, botas pretas e óculos com colarinho. Sua aparência remetia aos senhores de épocas passadas, trazendo à tona uma nostalgia reconfortante.

E sentados perto da mesa onde seu avô organizava alguns livros, Emma e seu Inácio se entregavam às histórias, lendo, relendo, rindo e deixando a imaginação fluir livremente. O tempo parecia se desvanecer enquanto mergulhavam nas narrativas, perdendo-se em mundos fantásticos e emocionantes.