Capítulo 23: Forjando laços.

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“O bom de não parar planejando o futuro, é se divertir mais com cada inédita surpresa.”—(Leonardo)



“Lorenzo, acho que estou começando a me sentir confortável com a presença desse garoto. Preciso fazer algo a respeito disso. Ele é misterioso, suas atitudes às vezes são desconcertantes e seus olhares são difíceis de compreender. No entanto, decidi que não vou me deixar abalar novamente por suas atitudes frias em relação a mim. Farei o meu melhor para estabelecer uma amizade simples e sociável com ele. Quem sabe assim ele me trate com menos dureza e revele mais de seu lado gentil, lado esse que tive a oportunidade de presenciar em momentos breves de conversas e atitudes. Além disso, gostei da sensação de conversar mais com ele, de observar seus movimentos (mesmo não sendo tão boa em observar quanto ele). De certa forma, posso tentar entendê-lo, inclusive suas atitudes mais atrozes. E agora, neste exato momento, estou puxando-o para irmos em direção a algo desconhecido. Não sei onde isso nos levará, mas quero continuar essa aventura com o garoto enigmático ao meu lado. O que esperar disso?” — Emma estava determinada a mudar sua relação com o rapaz misterioso com quem se aventurava pelas ruas vazias e pouco iluminadas de Barcelona, enquanto o crepúsculo do dia se transformava na noite. O vento soprava uma brisa suave pelos galhos das árvores, criando uma atmosfera ainda mais fria. A garota estava grata e mais aquecida por usar o paletó de Lorenzo, e sorriu ao lembrar-se da gentileza dele.

Enquanto corriam, o cachorro ocasionalmente parava para verificar se os dois jovens estavam seguindo-o adequadamente. E estavam. Após um tempo de pura adrenalina, Emma notou que algumas pessoas olhavam para eles com julgamentos, como se estivessem pensando “Eles são loucos ou o quê?”. Mas Emma não se importava com a opinião dos outros, enquanto Lorenzo se envergonhava ao perceber os olhares questionadores dos transeuntes. O que um rapaz como ele estava fazendo? Imagine se seus pais, da alta sociedade, vissem seu querido filho correndo daquela forma em público, como se nunca tivesse recebido uma boa educação e comportamento. Certamente o questionariam incessantemente e o colocariam novamente em aulas de boas maneiras, como era comum na época. Às vezes, Lorenzo se sentia diferente dos outros rapazes, apesar de ter um título e tudo mais. Ele não tinha muitas amizades verdadeiras para se divertir ou ter conversas banais, como os jovens normais faziam no dia a dia. Apenas Thomas, um jovem médico da família, ainda era alguém que o agradava, mas que não mudava o que ele sentia com relação a novas amizades. Ele realmente não queria dar espaço para ninguém, porém Ester, para ele, estava sendo alguém que conseguia de alguma forma puxar aquela entocada alavanca que permanecia presa em seu coração.

— O cachorro parou! — gritou Emma, parando abruptamente em um local muito iluminado da cidade e fazendo Lorenzo sair de seus profundos pensamentos e logo em seguida a encarando. — O que é isso? — perguntou a ele, olhando para a placa iluminada do estabelecimento que continha a seguinte frase: “¡Que tu noche sea tan dulce como el algodón y tan feliz como un parque de diversiones!”

— Não está vendo que é um parque de diversões? — respondeu Lorenzo, com a voz cansada pela correria. Ao olhar para o lado, ele percebeu que ainda segurava firmemente as mãos da garota. Rapidamente, soltou-as, deixando em seu rosto uma expressão amarga e ficando levemente corado.

— Às vezes, eu juro que tento entender você — expressou Emma em um tom amargo, referindo-se à atitude abrupta do rapaz ao respondê-la.

— Desculpe, Srta. Ester, mas é impossível ser gentil depois de ter sido arrastado dessa forma, e sem contar que todos estavam nos achando crianças no meio da rua com a forma como viemos para cá — disse ele, atordoado.

— Tudo bem, desculpe. Não faz mais diferença agora, já estamos aqui mesmo — ela sorriu ao olhar novamente para a frente do lugar.

— Cadê aquele cachorro? E por que ele nos trouxe aqui? — perguntou Lorenzo, tentando avistar o cão pela calçada enquanto limpava, sem muito sucesso, o suor da testa.

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