Saliva doce, doce mel, mel de uruçu

844 81 163
                                    

Queria ser capaz de ter o entendimento do momento exato em que eu deixei de ser uma mulher toda certinha, regrada até umas hora, pra me tornar esse antro de devassidão. E o pior de tudo, preferir muito mais essa nova versão.

A minha antiga eu estava acostumada à vida monótona na capital mineira, ir e vir do trabalho todos os dias no mesmo horário, passar os finais de semana com a minha mãe ou com minhas amigas. Quando sobrava um tempinho, marcava alguma coisinha com Rafael pra aliviar a tensão iminente do meu corpo, mesmo que ele não fosse tão bom nisso.

Era tudo certo no certo.

Mas desde que aquele pedaço de mau caminho colocou os pés no Galilei, que tudo que eu acreditava ser, deixou de ser.

Giovanna deixou de ser Giovanna, a coordenadora. Pra virar Giovanna, a morena, pelos lábios soteropolitanos dele.

Era difícil demais não cair na lábia desse homem com esse sotaque, piorou se sussurrado no pé do ouvido como agora.

— Quero ver se tu sabe dançar agarradinha comigo sem se apaixonar, morena. — eu era forte, eu tinha que ser forte.

— Nó, Zé! Cê tá bem doido que eu caio nesse seu papo de larápio. — desconversei, sem me deixar abater pelo quente do seu hálito encostando no meu pescoço.

Mas era tudo muito difícil quando suas mãos grossas seguravam a minha cintura, me puxando para dançar em um canto só nosso. Rodeados por bandeiras de São João e uma luz baixa, deixando tudo ainda mais erótico.

A melodia tão conhecida de Xote da Alegria invadiu o ambiente, me obrigando a segurar um riso na garganta. O destino não brinca em serviço mesmo, nó que coisa!

— Essa aí foi especialmente pr'ocê, amarga. — zombou do meu sotaque, fazendo questão de me arrepiar todinha só de encostar em mim.

Entrelacei uma de nossas mãos ao lado do corpo enquanto a outra segurava em seu ombro, seguindo o movimento de vai e vém junto ao corpo dele. Nossos rostos ficaram frente a frente, me deixando ainda mais desestabilizada.

Não sei o que é pior nessa situação toda. Sua voz sussurrada em meu ouvido ou esse olhar matador que me come de todas as formas possíveis.

Iniciamos o xote mais sincronizados do que eu poderia imaginar, talvez essa vai se tornar mais uma das coisas que eu descobri que sabemos fazer juntos, e bem, muito bem.

— Até que tu tem gingado, ein! — elogiou, abrindo aquele sorrisão de orelha a orelha.

— Não é só você que é bom em todas as coisas, professor. — devolvi a provocação, sabendo que não havia pra onde correr.

A merda já tava feita mesmo, o melhor é se sujar de uma vez.

Alexandre puxou uma das minhas mãos para o alto, me rodando do meio do salão e trazendo de volta para o seu corpo, ainda mais perto que antes. Encaixou sua perna no meio da minha, ditando o ritmo que dançávamos a partir dali.

Me rodopiou mais uma vez, me deixando com as costas grudadas no seu peito, enquanto sua cabeça encostava na minha acima do meu ombro.

Posição maldita que me deixava sentir cada partezinha do seu corpo grudado em mim, dançando em uma leveza como se eu não sentisse a sua excitação começando a dar às caras.

Um garçom passou do nosso lado com uma bandeja e Alexandre pegou um dos copos, agradecendo ao rapaz que logo saiu dali. O sujeitinho deu um gole saboroso bem encostado em meu ouvido, estendendo o copo na minha direção.

— Tome! — ofereceu, e eu que estava quase salivando de vontade, tive que aceitar dividir.

Não é como se não tivesse provado do seu gosto em outra circunstância muito mais íntima do que essa.

ImponderávelOnde histórias criam vida. Descubra agora