O meu caminhar da vergonha ao chegar em casa com o dia já amanhecido, foi o que podemos chamar de adolescência tardia. Ainda mais se somado ao fato de que minha mãe estava na beira da janela só observando de canto de olho a forma que eu entrava dentro de casa.
Os cabelos mais embramado que ninho de passarinho, por todas as puxadas de cabelo pecaminosas que aquelas mãos enormes deram. A roupa totalmente amassada como se eu nunca tivesse visto um ferro de passar na vida, e talvez fosse a verdade.
Já entrei em casa sabendo tudo que eu teria que ouvir da boca de mãe, já que mesmo depois de adulta, ela ainda me dava uns puxões de orelha sempre que eu merecia.
O pior de tudo é que eu sequer me preocupava com isso, visto que a minha cabeça só pensava em tudo que tinha acontecido nessa madrugada. Esse deveria ser o momento que eu me sentiria verdadeiramente arrependida e passaria a me odiar para sempre por ter traído ainda mais o meu namorado, a quem eu devia o mínimo de fidelidade.
Mas não tinha uma gota do meu ser que tivesse qualquer arrependimento, e isso era o mais doído de tudo. A mulher que eu sempre acreditei ser, jamais se prestaria a esse papel.
Só conseguia pensar em como tinha sido bom, como nós tínhamos nos encaixado de uma forma que eu jamais imaginei que pudesse acontecer e porra... O baiano levava jeito pra coisa, para além do claro charme que ele possuí, ainda sabe muito bem o que fazer e como fazer.
É totalmente diferente transar com alguém que sabe te satisfazer, que sabe exatamente onde te tocar pra te levar ao delírio total. E se somado ao quão errado era aquilo, tudo fica ainda mais gostoso.
— Acho que é bom a senhorita ter uma boa explicação para chegar em casa essa hora da manhã, no estado que ocê tá. — a voz da minha mãe preencheu o silêncio que eu tentava fazer ao entrar em casa, mesmo sabendo que não teria escapatória.
Minha relação com a minha mãe sempre foi mais voltada à nossa amizade do que um laço maternal, talvez pelo fato de praticamente só termos uma a outra aqui nessa cidade. Ela sempre foi a minha pessoa para tudo, para desabafos, tristezas, alegrias e até mesmo para as broncas.
— Se eu disser que estava na Alessandra até agorinha, ocê acredita? — levantei os ombros, assumindo uma postura de quem sabe que é culpado.
De quem tem MUITA culpa no cartório.
— Só se eu me fizer de idiota, dona Giovanna. — o seu tom de voz não era rude, mas ela me olhava com aquele olhar julgador que toda mãe tem.
Aquele olhar que faz com que a gente automaticamente se sinta culpado por algo que não queremos nos sentir assim, mas é o poder que toda mãe tem, de fazer a gente sempre querer ser o melhor que podemos ser.
— Será que a gente pode conversar? — pedi, na verdade, quase implorei.
A única coisa que eu não admito nessa vida, é que minha mãe tenha uma visão de mim que não é real. Ou que ela acredite que eu sou algo que eu já deixei de ser, desconhecendo a própria filha dentro de casa.
Nós duas somos muito mais que isso, muito mais que essa bagunça toda que aquele professorzinho mequetrefe causou.
— Claro, fia. — ela se sentou no sofá da sala, fazendo sinal para que eu me sentasse do seu lado. — Senta e chora. — brincou, em uma clara tentativa de aliviar o clima entre nós.
A pergunta que fica é: como diabos eu vou contar para minha mãe que eu havia traído Rafael com um professor que mal chegou no colégio, e que eu tinha gostado e não me sentia nem um pouco arrependida, sem que ela achasse que eu enlouqueci?
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Imponderável
FanficMapas, clássicos, classes e conversas. Quando histórias tão diferentes se cruzam para serem escritas, o imponderável acontece. Uma coordenadora de um colégio tradicional em Belo Horizonte tendo que aprender a driblar as investidas do seu novo profes...