Se não eu, quem vai fazer você feliz?

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— Que. Semaninha. Interminável. INTERMINÁVEL! — falou Giovanna, arrancando a medalha de ouro do pescoço, jogando a bolsa dela na mesa da cozinha, e se esparramando na minha casa, como se fosse dela também.


Gostava da invasão. Ela dormiu por aqui quase todos os dias daquela semana, e começamos a dar sinais de que estávamos juntos pelo simples fato de que começamos a finalmente irmos juntos para o colégio.


Então a escova dela ficava junto com a minha, sutiã pendurado na cômoda, os livros e apostilas misturados com os meus, e o seu perfume exalando, vivo que só. Tudo era mais gostoso com ela por aqui.


— Tá cansada, coordenadora? Cansada da vitória? — provoquei, indo me jogar no sofá pós a semana cansativa de Gincana que acabou por dar a lógica: time Esparta foi o vencedor, como já era de se imaginar.


— De vencer não. Eu gostei da sensação, sabe. Os meninos indo à loucura, a cara dos outros professores indo no chão, a farra... Nó, foi bom demais da conta. — sorriu bonitinha, com o aspecto estafado, servindo um vinhozinho pra mim e pra ela.


Já éramos familiarizados o suficiente com o nosso cotidiano manso de fora da escola pra saber o que cada um gosta e quer. Não tinham questões que não fossem... matéria de telepatia, por assim dizer. E ela sabia tudo que eu queria.


— Pô, dos anos que eu trabalho com colégio... Eu acho que nunca me diverti tanto, sabe? Os meninos são ótimos. — respondi, bebericando a taça de vinho devagar enquanto que ela virava com tudo a taça dela. — Calma, Dionísio.


— Não, não. Me erra, baiano. Depois dos incidentes e soluções com... Paolla e companhia limitada, eu preciso desse tempo. — reclamou, com cara de dor.


— Venha cá, vá. — disse, segurando ela nos meus braços enquanto que seus cabelos faziam uma bagunça danada sobre o meu corpo.


Giovanna tinha dessas: era a menina mais mulher que eu conhecia. Na verdade, ela era tão menina, com sentimentos puros de uma menina, que por vezes as pessoas confundiam essa bondade e boniteza do seu coração com uma fragilidade de caráter. Não é bem por aí.


Acho que nunca tinha me deparado com essa fragilidade antes de todos os maus acontecidos. Antes desse sufrágio com Paolla, desse desgaste com o cargo na escola, dentre todas as coisas que me faziam desentender a vida como era.


E ao me deparar com a fragilidade de uma mulher tão forte, que é tão forte ao ponto de se fragilizar só pelo que sente e não controla, eu me vi amarrado, ou melhor, apaixonado.


Estava loucamente apaixonado por ela, loucamente convencido de que para mim, só poderia haver ela. E a certeza que eu tinha, ultrapassava o medo por qualquer coisa.


— A gente tem que ir mesmo naquela festa da turma amanhã, Zé?


— Devemos. — disse, firme na queda com a afirmação. — Quero deixar tudo muito claro sobre eu e você lá. E você não vai poder recusar.


— Nero...


— O que foi agora, mulher?


— Que... adolescente em sã consciência vai querer ir pra uma festa com a coordenadora do colégio? Eu não sou legal, véi. Eu sou a carrasca do ambiente.


— Tu se acha o diabo encarnado né? — falei, arrancando uma revirada de olho dela.


— Para de tentar... fazer eu acreditar no contrário. É fofo da sua parte, mas eu sei bem do meu lugar.


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