É inacreditável o quanto tudo pode se tornar caótico em questão de segundos, de como a nossa vida consegue dar uma reviravolta sem que possamos nos preparar para isso.
Quando Alexandre me ligou dias atrás, aparecendo em casa com uma história sem sentido, eu achei que ele estivesse inventando alguma historinha boba por conta do meu sumiço.
Sumiço esse que tinha sido muito bem calculado e premeditado, já que hora ou outra o peso na consciência tinha que chegar e arrastar tudo por onde passava. Foram dias que eu precisei tirar pra mim mesma, pra pensar em tudo que vinha acontecendo.
Tudo que eu vinha fazendo, e que não condiz em nada com quem eu acreditava ser.
— Ocê tem certeza do que cê tá falando, trem? — resmunguei pela milésima vez, enquanto entrávamos em um motel dos mais baratos de BH.
Até pra isso essa desgraça de homem é pão duro, deuzulivre.
— Mandei tu confiar em mim, não foi? Só confia, oxe!
Alexandre também estava um pouco inquieto no banco do motorista, já que praticamente me obrigou a ir junto dele pra garantir que eu não fosse cometer uma loucura.
Logo eu, uma santa!
A princípio eu não tinha acreditado na barbaridade que saiu da sua boca, desacreditando real que toda aquela mornice de Rafael fosse capaz de fazer algo do gênero. Comigo ele era tão normal, comum, cômodo, que sequer passava pela minha cabeça que ele tivesse interesse nessas modernidades.
Talvez seu interesse fosse voltado a outras mulheres, e não a mim. O problema claramente era eu, total e inteiramente.
Só me convenci quando ele sacou o telefone e ligou para a tal Marina e eu reconheci o sotaque mineiro inconfundível, enquanto ela me detalhava tudo que aconteceu após nossa noite no bar.
Minha primeira reação foi ficar em choque, em completo estado de choque. Parecia um roteiro de uma novela das 9 aquela história toda, uma barbaridade sem fim. Depois veio a raiva, e eu deixei que esse sentimento se apoderasse do meu corpo.
Pouco me importava da hipocrisia de ficar puta da vida de ter descoberto uma das suas puladas de muro, enquanto eu passava mais tempo de safadeza com outro homem do que com ele. A hipocrisia é o que faz de nós humanos, e eu sou muito humana.
Assim que o carro do professor estacionou na garagem do quarto ao lado onde as safadezas se faziam, tudo acabou se tornando muito real pra mim.
Como reagir nessa situação sem parecer uma maluca desesperada? Era o que martelava na minha cabeça como o próprio diabo.
— Tu tá nervosa de verdade, véi? Mesmo tu já sabendo o que vai encontrar lá? — continuamos parados dentro do carro, apenas esperando o sinal de Marina.
— Uai, e daí que eu já sei o que vou encontrar lá? Tô nervosa mesmo assim.
Inquieta, nervosa, ansiosa e muitos outros sentimentos que eram maçantes demais para a minha mente raciocinar sozinha.
Maldita hora que eu fui dar trela pra um homem de beleza mediana, sexo mediano e papo mediano. No fim das contas a burra fui eu mesmo.
— As meninas estão do seu lado, eu estou do seu lado. Não tem o porquê ficar nervosa, nem se corroer por isso. — tinha que assumir que ele sabia ser fofo quando queria, e isso era péssimo. — Esse flagra é pra tu sair por cima, como se nunca tivesse sido uma safada que deu pro primeiro professor baiano que apareceu no Galilei.
Seu intuito era aliviar o clima tenso que estava dentro daquele carro, me obrigando a deixar um sorriso nascer no canto dos meus lábios de forma inevitável.
![](https://img.wattpad.com/cover/369392450-288-k229788.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Imponderável
FanfictionMapas, clássicos, classes e conversas. Quando histórias tão diferentes se cruzam para serem escritas, o imponderável acontece. Uma coordenadora de um colégio tradicional em Belo Horizonte tendo que aprender a driblar as investidas do seu novo profes...