Entre a cruz e a espada

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Macho, tô arriado. Arriado, de verdade. E ela passa e nem olha. – falei, tomando mais um gole de cerveja quente encostado com um dos únicos +18 do terceiro ano do Galilei, nesse sábado de carnaval caótico em BH.

— Nó, mai tu é mole também, professor–

Alexandre. Estamos fora do colégio, Renato. — relembrei, já que não queria responsabilidade solidária do que ele fizesse naquela festa da carne. – Não sou mole porra nenhuma, pivete.

— Tá esperando o quê pra correr pro abraço?

Verdade. Tava esperando o QUÊ pra me resolver com essa sem vergonha? Perguntas sem resposta.

Vocês não imaginam o quão custoso está me saindo ser um homem decente no carnaval mineiro. O quão custoso me vem sendo a vida desde o bendito e maldito dia que pisei naquele colégio. As coincidências passavam a se chamar de ofertas do destino, e os olhares que antes só tinham a vontade apenas pela vontade, passam a ter desejo. E o desejo é historicamente pior do que a vontade. A vontade você mata com o gosto, já o desejo.... ele perdura e aumenta com o gosto.

Entre a cruz e a espada, no meio do pêndulo de moralidade, ela fugiu de mim no carnaval da escola, quando o universo deu um gostinho de como poderia ser gostosa essa união de nós dois. Me deixou na vontade, no apego, na dor cristã de que vinham 5 dias de farra, carne e álcool, mas que a única coisa que eu poderia desejar era ser bem do monogâmico, com uma morena bem chata e sistemática, mas que virava o cão encarnado quando queria.

Né por nada não, mas passou dezembro, janeiro e fevereiro, e o fervo da minha cama só dava bom com uma mulher só. Não é como se essa bomba de sentimento fosse novidade também, né? São 3 meses de peleja, das intensas.

De todas as histórias que podem ocasionar a desgraça viva de um homem, fazia sentido a de Cleópatra e Julio César se assemelhar tanto com nós dois. Paixão maluca que vai me levar à ruína. Morte, quem sabe.

Cheguei em casa ariado das ideias: primeiro porque eu tive que passar umas 4h coberto de adolescentes na minha cola puxando meu saco pra acabar no grupo da gincana do primeiro semestre com eles, e segundo pra marcar alguma resenha no carnaval. Ignorei a primeira, e tô ativo na segunda com Renatão, marmanjo que repetiu 2x de ano que era bom em história e péssimo em todo resto.

Pra lá de Bagdá com n's convites pra ir em bloco de carnaval naquele sábado, eu fiquei em casa vendo a televisão, e encarando meu telefone, porque queria tá com ela. Não necessariamente pra sexo, mas também pra sexo, mas sim estar por cobiça. Pra fazer nada, ou fazer tudo. Estar por estar, nem que seja um dolce far niente, e a gente fique jogado no meu sofá assistindo algum talk show ruim, ou vendo escola de samba desfilar.

Dane-se. Vou mandar uma mensagem, eu pensei. E fiz também, porque sou um homem de verdade.

Alexandre: Acordada, deusa Isis?

Giovanna: Breeeeeeeeeega. Tenta de novo.

Alexandre: Tá, fia. Você sabia que Cleópatra marcou um encontro com César? Para conhecê-lo, do jeitinho egípcio dela. Deu a ele um tapete, como ato de cordialidade da época, ao desenrolar o tapete, ele se deparou com uma surpresa, Cleópatra em pessoa estava enrolada no meio do tapete. Maluco isso, né?

Giovanna: Rum. Onde você quer chegar com isso?

Alexandre: Quando é que tu vai me aparecer embalada pra presente na porta de casa, hein, morena?

Giovanna: Para de pedir coisa difícil...

Perco a paciência, disco os números do telefone dela. Já recebo reclamação bonita na linha.

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