O olho que tudo vê

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A experiência de dividir uma sala de aula com o homem o qual você divide a cama, é pra lá de esclarecedor. E também um pouco excitante.

Assistir Alexandre em toda a sua glória na frente da sala de aula enquanto ensina tudo que lhe foi ensinado um dia, sob os olhinhos brilhantes dos alunos que se empolgam de verdade em suas aulas, foi algo bem bacana.

Bacana também foi sentir o seu olhar em mim quando foi a minha vez de falar, enxergar o orgulho dentro da sua íris me olhando como se eu fosse detentora de toda a sabedoria do mundo.

Era um olhar de admiração mútua, de mim para ele e dele para mim.

É assim que as coisas devem ser em um relacionamento romântico, um sempre admirando o que o outro tem de melhor.

Mas essa admiração toda se transformou em ódio puro ao visualizar aquele projetinho de sirigaita se aproximando dele toda na intenção, puxando-o para um canto mais reservado.

Eu deveria ter me mantido passiva, mas o meu sangue ferveu na mesma hora e eu não conseguia mais desviar meu olhar dos dois. Nunca fui mulher insegura, que precisa ficar marcando território igual bicho em cima de homem.

Porém, essa mulherzinha descarada atiça em mim sentimentos que nem sei de onde surgem.

Me permiti ficar puta da vida e com ciúmes de alguém que já era meu, que fazia questão de ser. Mas minha insegurança em relação a Paolla sempre existiu porque eu sei muito bem o que eles devem ter feito antes de mim.

Não posso mudar o passado e nem devo ter ciúme de algo que aconteceu antes de mim, porém, o próprio ciúme é hipócrita.

Então, por que eu não seria também?

Assim que a aula daquela manhã de sábado acabou, saí quase como um foguete em direção a minha sala. Não queria papo com ninguém, só queria poder dormir as horas de sono que não dormi naquela noite.

— Ei, ou! Tá fugindo de quem? — o diabo do meu ódio apareceu do meu lado, entrando na minha sala junto de mim.

Não era o melhor momento pra conversar cara a cara com ele, porque uma mulher no auge do seu ciúme misturado ao ódio, nunca é muito delicada nas palavras.

E eu, que já não era delicada nem em meu estado normal, tenho medo do que pode sair disso aqui.

— Tô fugindo não, uai. Vim pegar minhas coisas pra ir embora. — quando eu minto, minha voz fica até mais fina que o normal.

Talvez seja o nervosismo.

— Quer ir lá pra casa? A gente faz um programinha juntos, podemos ir em um barzinho à noite... O que acha? — chegou já encostando em mim, sem se preocupar que a escola ainda estava lotada tanto de alunos, quanto de professores.

Mas não demorou muito para que fôssemos lembrados disso, pelo barulho de alguém batendo na porta e pedindo licença.

Em um rompante, joguei o seu corpo para o mais longe possível de mim, tão rápido que o bichinho deve ter ficado até zonzo.

— Gio? — a cabeça de Paolla se fez visível para nós, abrindo levemente a porta. — Ah, não sabia que você tava ocupada.

Não sabia o caralho, que ela bem deve ter visto quando Alexandre me seguiu até aqui depois das aulas. Pensa que eu sou burrinha e não pego suas intenções no ato.

— O professor Nero já está de saída, pode entrar.

Foi mais fácil expulsá-lo dali do que ter que lidar com todo o ciúme que ele fez queimar em mim, de uma forma nunca antes vista.

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