Amor purin

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Abraçados e trancafiados em um quarto em uma sexta-feira à noite, dia da bagunça, festividade e sair da toca. Para nós dois, dia de aproveitar a calmaria do silêncio que jamais existia em um colégio cheio de criança, ainda mais em semana de gincana.

A gente só queria um pouco de paz, de sossego, de vida normal.

E eu queria ele, totalmente. Acho que nunca quis algo na vida, tanto quanto quero Alexandre.

Às vezes até acho que é um sentimento sem sentido, porque é sim algo imponderável. Imponderável porque não se tem como explicar, talvez não existam palavras que expliquem o que a gente é.

Não é sempre que algo que começou na safadeza pura, vira algo tão bonito e cheio de carinho assim. Não é sempre que se ganha na loteria com um homem que além de toda a boniteza externa, ainda possuí um coração tão bonito, que chega a emocionar.

Digas o que quiser, mas Nero tem me trazido mudanças que eu nem mesmo imaginava que eu precisava sofrer. Comecei a dar valor a coisas mínimas, aprendi a pegar mais leve no trabalho e viver a minha vida fora do Galileu.

Para além das coisas óbvias, ele vem me ensinando que tá tudo bem sentir muito, tanto ao ponto de quase explodir. De amor, de afeto, de carinho.

E melhor ainda se a gente conseguir colocar todos esses bons sentimentos pra fora, em atitudes que eu jamais me imaginei tendo.

Veja só: onde eu conseguiria me imaginar sendo uma maricona completamente apaixonada por um baiano que chegou arrastando tudo que achava que era certo em mim?

Mas é assim que vejo: completamente apaixonada por esse homem. Apaixonada pelas suas qualidades, doida nos seus defeitos e totalmente fissurada em cada faceta que eu venho descobrindo a cada dia.

O amor nunca tinha sido assim pra mim, o único amor de verdade que eu sentia era pela minha mãe, por quem sempre cuidou de mim e esteve ao meu lado.

Bem que Alexandre disse que eu ia perder toda essa marra logo, e até que não demorou muito não. Ele soube me dobrar certin para que eu coubesse no seu colo e não quisesse mais sair dali.

Homenzinho desgraçado, viu?

— Que foi que tu ficou quietinha do nada, nega? — sua voz me tirou do meu momento de misturar todos os meus pensamentos, me trazendo de volta pra realidade.

— Tava pensando... na gente.

Deitados na cama dele, com o cheiro dele por toda a parte. Tudo aqui é dele, pertence a ele. Inclusive eu.

E ter esse entendimento é algo que me esmaga totalmente, me deixa quase ao ponto de desfalecer com falta de ar.

— Coisa boa ou coisa ruim? — perguntou carinhoso, me colocando deitada sob o seu peito enquanto fazia um carinho gostoso no meu cabelo.

— Na verdade, tava pensando em tudo que aconteceu, em como as coisas foram rápidas e agora a gente tá assim... vivendo essa vida boa. — deixei que alguns pensamentos tomassem forma e fossem compartilhados com ele.

Nero merecia entender um pouco mais como a minha cabeça funciona.

— Se arrepende? — não havia nenhum tom de julgamento nessa nossa conversa, era algo puramente leve.

Alexandre era tão bom pra mim que até em momentos que eu poderia colocar em cheque o que nós temos, ele mantém a calma e coloca o meu bem-estar em primeiro lugar.

Dá pra reclamar de estar vivendo algo assim?

— Não. — dei um risinho fraco, quase envergonhado. — Se tem uma coisa que eu não me arrependo nessa vida é de você, de nós dois, de tudo que a gente tá vivendo. — quebrei o contato visual com ele, deitando a cabeça no seu peito. — Acho que nunca me senti dessa forma com nenhum outro homem.

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