A rainha do Egito

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Época de carnaval é sempre uma loucura à parte, seja na vida, seja no colégio. É criança pra tudo que é lado fantasiada, é adulto se comportando como se voltasse a ser um jovem no auge dos seus 16 anos.

E tem eu: uma mistura perfeita de tudo.

Na sexta-feira, que marca o início da comemoração festiva dos adultos, também fazemos questão de montar uma festinha carnavalesca na escola, apenas pra não passar em branco a data.

Também serve para morrermos de amores com as fantasias criativas das crianças mais novinhas e também rir da cara de tédio dos pré-adolescentes que estão na fase de odiar tudo, inclusive o que há de bom no mundo.

E como é tradição por aqui, todo o corpo docente também acaba entrando no clima, havendo até disputas de melhor fantasia por parte dos professores, coordenadores e inspetores do Galilei.

Talvez por tudo isso, essa seja uma das minhas épocas favoritas do ano, só pela diversão.

— Uau, como tá linda essa coordenadora hoje! — a voz de Alessandra me tirou dos meus próprios pensamentos, me trazendo de volta para a sexta mais caótica do colégio. — Ocê ficou ainda mais matadora de homens com esse delineado puxadin assim, viu trem?

Dei risada da sua fala, me aproximando em um abraço apertado pela semana corrida, que mal tinha nos deixado ter nossos momentinhos de fofoca.

E olha... tinha muita coisa que eu precisava contar pra ela.

— Seria o meu sonho que todos os homens fossem para o raio que o parta. — brinquei de volta, parando pra olhar com um pouco mais de atenção sua fantasia da vez. — Cê que me perdoe, viu? Mai num consegui identificar essa sua fantasia, não. Que diabéisso?

— Cuca, meu amor. — ela deu uma voltinha, mostrando todo o lookzinho gótico que ela carregava consigo. — Uma Cuca bem moderninha, porque a de verdade é o horror de tão feia e eu linda desse tanto jamais poderia me submeter a esse papel.

Como pode essa mulher existir? Fala sério, véi!

— Ai, Lêssandra. Só ocê mesmo pra fazer piada com um trem desse. — falei rindo, dando um tapinha na sua bunda levemente. — Essa semana nem consegui falar c'ocê por causa da correria, mas tenho um tanto de coisa pra te contar.

— Vou te dizer que já fiquei sabendo que deu um pé na bunda do bundão e eu super apoiei essa atitude, agora... tem mais coisa escondida aí que eu sei, viu? Tenho olho em tudo que é lugar nessa escola. — minha amiga semicerrou os olhos, me olhando com aquele olhar de julgamento.

Ah, minha filha. Se você soubesse um terço de tudo que eu tenho feito, cê tava me era medindo minha temperatura pra ter certeza que eu não estou fora de mim.

— Pós carnaval cê vai lá em casa e a gente bota o papo em dia, pode ser? — fiz uma carinha de cão que caiu da mudança, tentando ganhá-la na manha mesmo. — Mãe faz o pão de queijo que cê mais gosta, vai!

Não precisei chamar duas vezes e a doida já confirmou presença, amiga boa é assim, interesseira até a última gota d'água.

Assim que o sinal do início das aulas tocou, nos despedimos com alguns beijinhos e a promessa de que nos cuidaremos nos quatro dias de caos e gritaria.

— Juízo viu, Cleópatra. Não faça nada que eu não faria nesse carnaval. — mandou um beijinho no ar, fazendo alusão à minha fantasia da vez.

Nesse ano quis inovar ao invés de usar a mesma fantasia de todos os anos: uma bruxa pra lá de esquisita que minha mãe tinha arrumado em um brechó fuleira por aí.

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