A rainha de copas

701 78 79
                                    

Posso dizer que talvez eu tenha atingido o auge da minha vida no dia de hoje, assistindo Alexandre aparecer no meio da cozinha de casa todo meio despenteado, tentando parecer arrumadinho.

Esse encapetado não sabe obedecer uma ordem, seguir as coisas do jeitinho que eu pedi. Com calma, paciência, no nosso tempo.

É tudo do jeito mais bagunçado possível, com aquela cara lavada de quem nunca fez nada de errado na vida.

Quem não te conhece, que te compre, baiano.

Ouvir Nero se intitulando como meu novo namorado foi algo pra lá de esclarecedor, deixando um quentinho bem bom dentro do peito. Uma sensação que eu sequer tinha imaginado precisar tanto sentir, algo muito acolhedor.

Todo o susto e o ódio que eu senti quando o vi descumprindo meu pedido, entrando na cozinha já cumprimentando minha mãe como se fosse de casa, foi embora com um simples adjetivo.

Namorado. Na boca dele o gosto fica muito melhor mesmo, não tem nem comparação.

— Ocê quer a minha benção? Por quê? — fechei os olhos já sabendo que mamãe conseguia assustar quando queria.

Por mais que eu conseguisse enxergar a diversão nos seus olhos, o professorzinho não era tão bom em ler ela como eu. Então, já que ele quis se meter no meio desse bololo todo, ele que se vire.

— Oxe, aqui não é assim que funciona, não? — todo perdidinho, tadinho.

Confesso que fiquei com um pouco de pena, mas deixa sofrer. Desse mal, ele não morre. Encostei meu corpo no balcão da cozinha, os braços cruzados em frente ao corpo assistindo o fogo cruzado entre os dois.

Que de fogo não tinha nem a cara.

— Não foi isso que eu perguntei, menino. — mãe se aproximou dele, afastando a cadeira da mesa para que ele se sentasse. — Tô perguntando pr'ocê o porquê você quer a minha benção.

Minha véia sabe ser difícil quando quer botar susto em alguém, eu sei bem disso.

Mordi meu lábio inferior tentando segurar uma risada, vendo o quão nervoso Alexandre parecia ter ficado do nada. Chegou todo em uma pose na cozinha, que foi por terra com algumas poucas palavras de mamãe.

Ah, dona Lilian...

— Vixe, aí é foda. — ele coçou a cabeça nervoso, e eu quase desisti da ceninha e pedi pra minha mãe parar. Mas é na hora do vamos ver que se cria um homem de verdade. — Giovanna tá sempre falando da senhora, de como vocês se dão bem, de como ela se importa com a sua opinião. Não quero ser só mais um que passa na vida dela, não, viu? Se eu quisesse bagunça não tinha invadido a cozinha, mesmo depois dela ter me pedido pra sair escondido.

Talvez tenha sido nesse momento que ele conquistou a sogra, já que não existe nada no mundo que mamãe preze mais do que a sinceridade. E ele estava sendo sincero até demais em suas palavras.

— Ocê pediu pro rapaz sair fugido daqui, Giovanna? — facin facin o feitiço vira contra o feiticeiro.

Dei um sorrisinho amarelo, sem saber muito bem como agir. Resolvi usar como escudo o corpo da única pessoa que não poderia nem sonhar em ficar contra mim, parando atrás da cadeira de Alexandre.

— Eu queria conversar a sós c'ocê primeiro, uai. Não queria que fosse tudo no susto assim. — fui sincera, mas um trisquim de medo passava por cada parte do meu corpo. Medo de mãe aos quase 30, é foda. — Mas o Alexandre não sabe ir com calma, já sai atropelando tudo que eu falo pra ele.

Aproveitei da minha fala, pra deixar um beliscão bem forte no seu braço, daqueles dados sem dó.

— Ai, desgraça! — ele reclamou, me olhando com os olhos arregalados. — Mão dura da porra, viu.

ImponderávelOnde histórias criam vida. Descubra agora