Ficou pela metade, ficou pra depois

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Bendita foi a hora que eu achei que seria de bom tom ir atrás daquele indivíduo de índole duvidosa, em um lugar duvidoso, depois de ter passado o dia todo bebendo drinks duvidosos.

O resultado não poderia ser outro: me fodi, e não foi sozinha.

Já fazia três dias do acontecido e a minha mente insistia em repetir cada toque em looping, várias e várias vezes ao dia. Já sabia de cor onde e como ele tinha me tocado, cada gemido que saiu da minha boca e cada aperto que ele me deu.

O trem tinha sido intenso, e bom. Muito bom.

Desde lá, eu vinha fazendo o impossível para tirar essas imagens malditas da minha mente, e pelo menos fingir que eu não tinha cometido tal ato de infidelidade. Tá certo que eu e Rafael não temos um namoro oficializado, de aliança e tudo mais.

Mas ele não deixa de ser meu alguma coisa, seja lá o que essa coisa for. E o que mais doía no fundo do meu âmago, é que eu não conseguia sentir um pingo de arrependimento.

Me arrependi por ter feito com quem fiz, porque aquele homenzinho não merecia ter tido o privilégio de me tocar. Mas não me arrependia do que eu fiz, ah, isso eu não me arrependia mesmo.

Ainda mais se for colocar na balança há quanto tempo eu não tinha uma transa boa, daquelas que a gente esquece até o nome e fica de pernas bambas.

Talvez seja esse o motivo de hoje, plena terça-feira à noite, eu ter chamado Rafael para vir assistir um filme e tentar salvar essa droga desse relacionamento de alguma forma. Fosse pelo peso na consciência, fosse pela necessidade de apagar aquelas memórias, substituindo-as por outras.

— Gostei que ocê me chamou pra vir assistir um filminho agarradinho. — Rafael me abraçava pela lateral no sofá de casa.

E eu juro que estava me esforçando, massivamente, para que as coisas acontecessem da melhor forma. Queria me sentir pelo menos um pouco da forma como eu tinha me sentido com o professorzinho, nem que fosse só um tiquin de nada.

Mas querer não é poder.

— É... Fazia tempo que a gente não fazia alguma coisa. — respondi, sorrindo amarelo em sua direção. — Pode dar play no filme.

Me ajeitei melhor no sofá, me mantendo perto dele, mas longe o suficiente para eu não me estressar mais cedo que o planejado e mandá-lo embora daqui. Não é que eu tenha algo contra Rafael, só acho que as coisas desandaram nesse relacionamento tem tempo.

Nós dois não combinamos em nada, porém, não é por aqui que os opostos conseguiram se atrair. Acredito que só estamos juntos porque é cômodo, porque já estamos acostumados a ter o outro por perto.

Mas falta aquele tesão, aquela vontade de estar perto da pessoa, de dividir a vida com ela.

As mãos de Rafael acariciavam minha perna com delicadeza, enquanto eu tentava prestar atenção no filme de comédia que ele havia escolhido. Mas meu foco foi direcionado ao meu próprio celular quando ele acendeu do meu lado, mostrando uma mensagem de Alexandre.

A minha sorte é que eu sempre deixo escondido os conteúdos, senão já teria que começar a me explicar agora mesmo.

— Preciso dar uma olhada nisso, é lá do colégio. — pedi com calma, já me levantando do sofá e indo até a cozinha.

Rafael, morto como sempre, só assentiu com a cabeça e me deixou sair dali sem muito esforço. Entende o que eu digo quando falo que falta alguma coisa?

Desbloqueei o celular, me deparando com a mensagem que eu já esperava receber desde o momento que subi as notas da recuperação no site do colégio.

A maldita aposta que eu tinha feito em um momento de fragilidade, bêbada, totalmente bêbada.

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