Tentei de todas as formas me livrar daquele compromisso que iria atestar de vez o meu mau caratismo, a minha falta de vergonha na cara e de pudor. Não que a minha situação já não estivesse pééééssima, mas sempre dá pra piorar.
Dá pra piorar em um lugar que me lembrava em tudo a noite que saímos juntos, das danças coladinhas com os corpos se esfregando como se não tivessem outros espectadores no lugar. Tudo era uma lembrança, mas agora acompanhada de Rafael ao meu lado.
Benzadeus, muié de sorte que eu sou!
— Minha cabeça vai explodir, bem. Num é melhor deixarmos pra outro dia? — tentei por mais uma vez convencer o meu namorado de desistir daquela maldita saída.
Só faltava eu ajoelhar aos seus pés e fingir um desmaio para atestar minha doença, mas o idiota parecia nem ligar.
Vê se pode que até esse trem caiu naquele papo furado de Alexandre... Que coisa doida! Doida pra porra!
— Ô, amor. Já tamo aqui, já. Logo ocê melhora! — desceu do carro sem mais nem menos.
Nem fez a gentileza de abrir a porta para que eu pudesse sair, nem o básico do básico. Isso que ele acha que eu tô com dor, imagine se soubesse que era tudo fingimento para eu não ter que passar a noite dividindo a minha atenção entre os dois homens que dividem a minha cama.
Aliás, dividem uma ova. Alexandre (infelizmente) ainda não tinha experimentado o meu colchão de látex europeu produzido na Alemanha com molas de alta durabilidade e conforto altíssimo.
É... eu seria uma ótima vendedora também.
Apesar que nem Rafael andava experimentando nada ultimamente, nem cama, nem banco de carro, nem rapidinha no chuveiro. Nem rapidinha, sendo beeeem sincera.
— Me espera, pô! Que pressa é essa? — reclamei, tendo que correr um pouco pela calçada para alcançá-lo.
— Já estamos atrasados, né? Ocê demorou mil anos pra se arrumar.
Ao invés de reclamar da demora, poderia ao menos ter tecido algum mísero elogio ao vestido justo que eu usava, que combinado aos saltos altos pretos me deixava ainda mais sexy. O batom vermelho era o lembrete de que eu não podia fazer merda hoje, pois ia ficar tudo MUITO na cara.
Literalmente falando.
Logo na entrada do bar já era possível ouvir o sertanejo torando, alguns casais dançando agarradinhos na beira da calçada e vários garçons zanzando de um lado para o outros servindo todo mundo.
De maneira automática, meu olhar começou a buscá-lo no meio da multidão, sabendo que pelo menos daqueles lábios atrevidos me sairia um elogio, nem que fosse às escondidas.
— Ó seu professor ali no canto com uma morena bonitona. — aparentemente ele estava bem apto a elogiar outras mulheres, exceto eu.
As divindades que me perdoem, mas tem homem que merece o chifre que a gente bota na cabeça. Num tem base uma sonsice dessa, uma mornice assim.
— Bora lá. — o meu desânimo deve ter ficado bem claro na minha feição, mas ele jamais notaria, porque ele não me nota.
Devo ser um daqueles troféus que os homens costumam carregar consigo para se fazer melhores que os outros, porque de fato não me sinto nada além disso junto de Rafael. E ele é quem me faz sentir esse menosprezo todo.
Mas não vou me deixar abater com esses pensamentos, ainda mais sabendo o que eu boto na sua cabeça dia sim dia não desde que esse professor chegou em Minas. Xô trem ruim!
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Imponderável
FanficMapas, clássicos, classes e conversas. Quando histórias tão diferentes se cruzam para serem escritas, o imponderável acontece. Uma coordenadora de um colégio tradicional em Belo Horizonte tendo que aprender a driblar as investidas do seu novo profes...