1. Otávio: antes da festa.

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Na foto: Otávio Cruz.


            ─Sabia que até a Olívia com braços e pernas amarrados se arruma mais rápido do que você?

Aquela era a centésima vez que Mateus fazia uma piadinha sobre o tempo que eu estava passando no banheiro. Ele estava do outro lado da porta, é claro; provavelmente bagunçando minha estante de revista em quadrinhos, enquanto resmungava sobre o quanto pegava mal chegar muito tarde numa festa da faculdade.

"Somos os olhos da festa", ele dizia, "não podemos perder um único segundo sequer. Como espera que façamos a melhor festa que esse universo já viu se nem sabemos como começar uma?".

Aquele era nosso último ano no ensino médio; mais alguns meses e estaríamos na faculdade. Se tudo saísse como planejado, eu seguiria na carreira jornalística e Mateus tentaria alguma engenharia que eu me despreocupo em saber qual. Suas opções de cursos mudavam a todo segundo, o que não era tão espantoso, já que se preocupava mais em planejar uma mega festa do que em passar no vestibular.

─Ainda são oito horas, Mateus. Nenhuma festa começa antes das oito.

─Mas precisamos estar do início ao fim, cara! Não percebe como somos privilegiados? Ainda estamos no ensino médio e já fazemos parte da organização de uma festa universitária!

─Primeiro: Não somos privilegiados; apenas tivemos a sorte do seu primo babaca dar uma festa. Segundo: mesmo que chegássemos lá às dez, continuaríamos sendo os primeiros a chegar.

─Qual é, cara. Ele não é um babaca.

─Não? Em toda foto que ele posta existe uma legenda narcisista, algo sobre seus "músculos definidos" ou o quanto ele gosta de festas e não está nem aí pra nada. O cara é tipo um saco plástico ambulante.

Mateus riu.

─Um saco plástico ambulante?

─É. Vazio. Sem conteúdo.

─E aquele seu papo sobre não julgar as pessoas, sobre cada um ter suas personalidades e singularidades? – Ele tentou fazer uma imitação da minha voz, mas foi um fracasso. Todo mundo sabia que a voz dele era mais aguda do que a minha.

─Não se aplica ao Keven. – Respondi.

Espalhei a loção pós-barba na palma da minha mão e passei em meu rosto. Nenhum sinal de pelo por ali, felizmente. Embora as garotas não consigam chegar a um impasse do que gostam: barba ou ausência de barba, eu sempre prefiro não arriscar. Um rosto barbeado não tem risco: você não tem a barba, mas tem o sinal de que um dia teve e que ela pode crescer novamente. Satisfazendo os dois gostos, sendo o mais imparcial possível.

Acho que eu estava passando tempo demais com Mateus. Tudo o que eu fazia, desde o pequeno ato de se barbear até o modo como caminho pelas ruas passou a ter muita importância. Isso porque eu estava dando muito ouvidos pra suas bobagens sobre o que as garotas gostam. Mas o caso era: eu precisava de uma garota. Naquele dia completava-se exatamente um ano e dois meses que Isabela tinha me deixado – e desde então, nenhuma outra garota conseguiu dominar minha mente.

Ao menos não como Bela.

Eu a conheci há quase dois anos. Nos encontramos por acaso numa ida ao cinema com Mateus e Olívia. Ela era bem baixinha, do tipo que é preciso curvar a cabeça para olhar se estivéssemos frente a frente. Mas ainda assim, ela brilhava. Numa multidão, cercada por diversas pessoas, mesmo quase sendo engolida, ela era o foco. Talvez fosse o sorriso largo, os olhos apertados ou até mesmo seus cabelos; onde estivesse, ela era o ponto luminoso. Ninguém era páreo pra tamanho magnetismo.

Eu, você e o tempo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora