I.

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Era um café caro, com pãezinhos caros, numa rua cara de São Paulo.

Era o quinto apartamento que ele visitava numa semana e, sinceramente, estava quase voltando e aceitando a proposta do proprietário de um deles, mesmo que fosse do outro lado da cidade e ele demorasse três horas no transporte público. Era o que podia pagar.

Sentado no Starbucks da Rua Haddock Lobo, próximo à Avenida Paulista, ele só estava ali porque, se você compra um café (caro), pode usar o wi-fi por duas horas, e ele precisava muito desse wi-fi, já que não havia pagado sua conta de celular e estava sem internet fora do WhatsApp.

Por sorte, cobrou um favor de Larissa e ela patrocinou seu café, junto com a notinha com a senha do wi-fi. Capitalismo de merda.

Rolava a página infinita do site do Quinto Andar, buscando qualquer coisa que fosse próxima de Pinheiros, barata e que aceitasse o morador imediatamente. Precisava sair de onde estava. Com urgência.

Um dos mil anúncios chamou sua atenção, mais do que deveria.

Apartamento para alugar com 30m², 1 quarto e sem vaga.
Total: R$ 1.158.
Descrição: Procura-se alguém para dividir apartamento meio período. Imóvel aconchegante para alugar com 1 quarto e 1 banheiro. O condomínio fica localizado na Rua Barata Ribeiro, no bairro Bela Vista, em São Paulo. O apartamento seria seu das 18h às 8h, e aos finais de semana e feriados (a combinar). O proprietário trabalha em plantões à noite, precisa apenas dormir durante o dia.

As fotos que Diego viu do apartamento pareciam mesmo aconchegantes, e o valor estava ótimo pela localização. Não custava tentar, ainda que a ideia de dividir apartamento com alguém não fosse boa, já que ele não entendeu bem a dinâmica.

Se só tinha um quarto?

Torcia para que o número de quartos no anúncio estivesse errado, porque ele de fato não tinha mais tempo (e dinheiro) e aquele anúncio parecia perfeito demais para ser verdade. Um apartamento já mobiliado o ajudaria mais do que qualquer coisa, visto que tudo que tinha era uma air fryer e um sonho.

Ele mandou mensagem para o Quinto Andar, que contataria o proprietário e retornaria em algumas horas.

Aproveitou que ainda tinha alguns minutos de wi-fi para verificar seu email, esperando encontrar qualquer proposta de show que pagasse por noite e que ele pudesse fazer para ganhar algum dinheiro, mas nada de e-mails para jobs. Ele suspirou profundamente, fechou o notebook da empresa e o enfiou dentro da mochila.

Enquanto saia, seu celular tocou.

— Oi amiga.

Parou na porta do Starbucks para não ser roubado ali. Se levassem seu celular, Diego choraria feito criança por dias.

— Achou algo? Como foi no apartamento?

— Uma merda. Juro, tipo, muito caro, para um quarto e uma cozinha. Não me importo com espaços pequenos, mas pelo preço jamais conseguiria.

Do outro lado da linha, pensou ter escutado Victor falar algo como "pede pra ele vir pra cá", num sussurro. Diego bufou.

— Não, Victor, não vou morar com vocês!

— Amigo, sabe que pode, não é? Por um tempo, pra você sair de lá logo!

— Se eu for morar com vocês, nunca vou acertar minha vida. Agradeço muito, mas vai dar certo. Achei um bom e acabei de mandar para o Quinto Andar, nos resta torcer.

A sequência de protestos foi seguida, e Diego apenas desligou a ligação, enfiando o celular no casaco, ajeitando a mochila nas costas. Precisava ir para "casa", arrumar suas coisas era tudo que podia fazer. Era sábado à noite e sabia que o ex não estaria lá, o que facilitaria todo o processo.

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora