XIV.

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Ela não falou.

Não falou para ninguém sobre a mensagem que havia recebido, mas mandou uma mensagem para quem realmente poderia ajudar.

Seu advogado, Bruno Boer.

Bruno passou as orientações, e ela as seguiu. Controlar o nervosismo foi a pior parte, mas se o plano de Bruno desse certo, aquele inferno acabaria hoje.

Quando Diego entrou no carro, Amaury estava colocando o endereço da Audio Club no Google Maps. Lennon e Larissa, no banco de trás, conversavam empolgados sobre o show, e Diego, montada, sentou-se no banco do carona.

O perfume que Amaury sentiu era o mesmo de quando a conheceu pela primeira vez, no camarim. O cheiro dela era marcante. Único. Incendiou todo o carro alugado, e Amaury pensou seriamente em comprar aquele automóvel apenas para que o próximo a usar não sentisse aquele cheiro.

Quando seus olhos encontraram os de Diego, logo desceram por toda a drag, escaneando cada detalhe. Estava irreal de tão perfeitamente linda, e ele não soube o que dizer, porque não esperava que ela fosse atender ao pedido dele de usar aquela lace específica. Foi um pedido bobo, mas ela aceitou. Simplemente aceitou.

O doutor abriu um sorriso e ela, bom, ela piscou para ele, uma ação capaz de enlouquecer qualquer um.

Todos os sistemas de Amaury ficaram nervosos, e ele segurou o volante com força, resistindo ao impulso de avançar e tocar nela, mesmo sabendo que não podia.

Já tinha beijado Diego antes da maquiagem — beijado muito, fazendo-o perder a hora —, pois sabia que depois ela seria uma arte intocável. Intocável até o fim da noite.

— Você está... Simplemente maravilhosa demais.  — ele conseguiu dizer, tocando a coxa por cima da meia-calça.

— Arte pura. — Diego murmurou, tombando a cabeça de lado.

— Como?

— Foi o que você disse da primeira vez que ficamos, no camarim. Me chamou de arte pura.

Era uma lembrança que Diego jamais esqueceria, e naquele momento, usando toda força que tinha em si para parecer o mais calmo possível, gostou de pensar nela. De ter o autor da frase ali, olhando para ela como se fosse a obra mais cara em uma exposição, cheia de enigmas que ele amaria desvendar, em puro lirismo.

— É o que você é, meu amor. Você é arte por inteiro, de dentro para fora.

O sorriso que Amaury abriu para Diego fez tudo voltar aos eixos, dando uma força vinda dele que Diego se perguntava se Amaury sabia o efeito que aquele sorriso tinha.

Era isso que Diego precisava.

Dele, ao seu lado, sorrindo daquele jeito. Não precisava de nada mais que isso para ter certeza de que era o que queria pelo resto da vida, e se fosse para viver mais um dia lutando no inferno que Dante estava criando, lutaria.

Precisava fazer isso por si mesmo, antes de tudo. Precisava lutar por si.

· ✧ .

Assim que chegou na Audio Club, Diego encontrou Bruno no camarim, junto com Bianca. Todos os seus amigos estavam ali, e Amaury estava na balada, com Samuel que também já havia chegado e dado uma passadinha para desejar bom show a Diego antes de ir beber com Amaury.

A drag preferiu assim, preferiu ter Amaury entre as pessoas que assistiriam. Achava que não conseguiria se concentrar no plano com ele por perto. Não que se sentisse fraco, mas não conseguia esconder nada do doutor, nada mesmo. E se tivesse que mentir para ele, perderia noventa por cento de sua coragem.

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora