V.

1.1K 180 278
                                    

Era uma campanha até que simples, e Diego sinceramente não entendia por que a Sabrina, do Marketing, estava fazendo aquela tempestade toda e provava que odiava tanto. A verdade é que, quando ele chegou na agência, ocupou uma vaga que, aparentemente, ela queria. Diego era bom com os clientes, tinha jogo de cintura e sempre era mandado para as reuniões presenciais de engajamento nas filiais por saber lidar bem com os funcionários.

E Sabrina não.

Ela era mais nova que Diego e ainda não tinha experiência. Ele poderia ensinar tudo que sabia, mas ela não era fácil. Os designers frequentemente reclamavam dela, e a equipe de social media também. E Diego, que era responsável por fazer a ponte entre todos eles e o cliente, enlouquecia.

Mas, na atual situação, até gostava. O corre-corre da agência não o deixava pensar em mais nada a não ser o trabalho. Isso era ótimo.

— Acho que ela não dura mais um mês. — Caio comentou, girando a cadeira para dividir seu fondue com Diego.

Caio era designer, um dos seus amigos mais antigos no trabalho. Ele e Diego já haviam ficado uma vez, numa das confraternizações da empresa, mas acabou que, no final, foi só isso, uma única vez. Tinham mais química sendo só amigos mesmo. Suas mesas no trabalho eram próximas, então era comum que dividissem comida ou fofocas.

— Eu sinceramente espero que não. Ela tem um gênio ruim, mas é boa no que faz.

Diego aceitou a colher para pegar chocolate com morango do fondue de Caio. Nesse momento, Sabrina passou por eles, parando diante da mesa. Parecia até assombração, Diego tinha certeza que se fosse ao banheiro a noite e falasse o nome dela três vezes de frente para o espelho, ela apareceria.

— Diego, posso falar com você rapidinho? — a voz esganiçada o fez quase bufar.

Ela era uma garota alta, mais alta que Diego — o que não era muito difícil — e se vestia como uma Faria Limer, ou "esquerda cirandeira", como ele e Caio a nomearam. Diego não admitiria, mas parte do motivo de não gostar muito dela e não se esforçar para isso era porque ela era tão burguesa que dava nojo. Ela ia falar algo mais, mas a voz de Paula, gerente do departamento, a interrompeu.

— Diego, pode vir à minha sala um minuto?

Prontamente, ele pegou seu caderninho e se levantou. Com certeza ia ser demitido. Foi tudo que passou pela sua cabeça quando passou por Sabrina, falando um "já volto" silencioso para seja lá qual fosse a demanda que ela ia pedir.

Se fosse demitido pelo menos se livraria dela, né? A psicóloga havia dito que ele precisava ser mais otimista, ali estava o máximo de otimismo que ele conseguia.

Caio voltou para seu lugar, e Diego viu por cima do ombro quando a garota falou algo para ele e ele assentiu, anotando no papel alguma coisa.

Paula o esperou entrar na sala e fechou a porta, dando a volta em sua mesa enorme.

— Pode se sentar. — ela pediu, fazendo o mesmo. — Diego, é o seguinte, tenho recebido bons elogios sobre suas visitas às filiais e gostaria de te oferecer uma proposta diferente.

Diego não falou nada. Ficou encarando Paula como se, a qualquer momento, ela fosse rir e dizer que era brincadeira e ele estava demitido. Mas ela não o fez, então ele tinha que falar algo.

— Obrigado. Eu acho. — riu nervoso, puxando a manga da blusa que usava. — Que proposta?

— Precisamos de uma pessoa para estar full time com o time da Zona Leste de São Paulo, para implantar procedimentos na equipe deles. São todos recém-contratados e tudo está um caos por lá.

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora