XXI.

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A última coisa que Amaury se lembra era de Diego desacordado, com um filete de sangue escorrendo pela testa, longe, caído sobre o asfalto.

Ele estava longe, longe de Amaury, que, preso ao cinto, tentou se mover e, num esforço maior do que seu corpo conseguia aguentar, sentiu a visão ficar turva. Antes de desmaiar, conseguiu ouviu o barulho da sirene se aproximando.

· .

Quando chegaram ao hospital em Alfenas, Amaury estava delirando. Não conseguia formar palavras, mas conseguiu sinalizar para os bombeiros, numa tentativa falha de dizer que precisava ficar com Diego. Não adiantou muito.

Sua maca foi levada para uma sala e Diego para outra. Ele sentiu o medicamento fazendo efeito quando alguém administrou o que parecia morfina.

Pensou ter escutado uma voz conhecida entre os médicos, alta, dando instruções e falando seu nome e o de Diego, mas não conseguiu identificar quem era. A dor que sentia pelo corpo era quase ensurdecedora, mas o desespero no peito o deixou angustiado.

Precisava saber sobre Diego e fez um esforço maior do que deveria ao tentar erguer o corpo da maca, sentindo várias mãos o forçando a deitar novamente.

Ele desmaiou de novo.

· .

No hospital de Alfenas, em Minas Gerais, ninguém sabia que Leo conhecia os pacientes que deram entrada no trauma há algumas horas.

Ele forneceu o número dos familiares de Amaury e Diego para que o hospital avisasse do ocorrido e fossem para lá o mais rápido possível. Conseguiu esses números no celular do ex, que foi entregue pelos bombeiros do resgate.

Por sorte, a senha 012345 do celular de Amaury ainda era a mesma de anos atrás.

Leo conseguiu conter o choque ao ver Amaury alucinado e Diego desacordado. Sabia que uma palavra poderia resultar em seu afastamento. Mesmo assim, ele era um médico íntegro e realmente queria estar envolvido no caso.

Queria ajudar.

Enquanto Diego era preparado para a cirurgia, Leo deu instruções precisas a uma das enfermeiras para ligar para um número específico que ele ditou. Pediu que ela fosse rápida, pois a chegada de Dona Fátima estava prevista e o tempo disponível era crucial para preparar Diego.

Ele iria precisar de sangue e, embora Amaury fosse O negativo, compatível com o AB negativo de Diego, ele não podia doar nas condições em que estava. No entanto, Dona Fátima poderia. E Leo já sabia disso quando deu instruções à enfermeira para levar Dona Fátima o mais rápido possível assim que ela chegasse para realizar o procedimento.

O hospital pequeno não contava com um estoque de sangue suficiente, e Leo não queria esperar por uma emergência maior durante a cirurgia para agir. Apesar da situação crítica, ele garantiu que nada sairia do controle.

Devia isso a Amaury.

Durante um período que pareceu longo demais, Diego foi mantido sedado e sob rigorosa observação. O hospital não tinha os melhores recursos, mas foi possível realizar exames pré-operatórios emergenciais, incluindo exames de sangue e imagens para avaliar a extensão das lesões e preparar a equipe para garantir a melhor abordagem cirúrgica.

Todos estavam em choque com o acidente e consideravam um milagre que tivessem chegado vivos. O cirurgião geral Amaury Lorenzo era conhecido por toda a equipe médica, e quando todos souberam que Diego era namorado do doutor, houve uma certa comoção com o caso.

Embora não fosse sua especialidade, não havia outros médicos disponíveis naquela noite, então Leo entrou na sala com o cirurgião geral.

Diego era o paciente com mais traumas da noite. Na sala, havia dois médicos e um número excessivo de enfermeiras, tornando o espaço ainda mais apertado. A equipe agiu com a máxima eficiência, Diego havia perdido uma quantidade alarmante de sangue.

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora