XIII.

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As palavras atingiram Amaury como um furacão, deixando seu interior completamente revirado, da forma mais positiva e doce do mundo. Ele abriu e fechou a boca três vezes e teria dito o que sentia, se Diego não o tivesse calado com um beijo.

A língua macia invadiu sua boca, pedindo passagem, exigente e apressada. Amaury agarrou o menor pela cintura, colando o corpo pequeno no seu enquanto chupava o lábio inferior de Diego, que soltou um gemido baixo que terminou de revirar tudo dentro de Amaury.

O doutor se afastou minimamente.

— Diego, eu...

— Não, não, não... — o menor rapidamente escondeu o rosto no pescoço de Amaury, o apertando. — Não fale...

— O quê? Por quê?

— Porque não quero que fale porque eu falei.

— Não vou falar porque falou, vou falar porque é a verdade.

Amaury podia sentir o corpo de Diego tremer. O menor negou novamente com a cabeça, o apertando ainda mais, fugindo de seus olhos. Não entendeu porque ele não queria ouvir, mas não falaria. Respeitaria o desejo, estranho e confuso, de Diego. 

Mesmo que seu coração estivesse gritando para dizer o quanto estava apaixonado, o quanto já imaginava os dois juntos, dizer que já se pegou olhando alianças nas pausas entre plantões, e que se Diego aceitasse queria levar ele para Minas, e apresentar ele pra família inteira. 

Mas Amaury não tinha pressa. Havia encontrado amor ali, e seus sentimentos por Diego não eram frágeis. 

O maior assentiu, respirando fundo o cheiro de Diego.

— Tá bom, então eu num digo... — sussurrou. — Mas... Pode me avisar? Quando estiver pronto para ouvi... pode me avisar?

Diego se afastou, encarando os olhos escuros que estavam com um fio de lágrima na linha d'água, percebeu que os seus próprios estavam assim também.

Ele não queria ouvir porque tinha medo de que, no momento em que as palavras fossem ditas, todo o encanto se quebrasse. Ele confiava em Amaury com todo seu coração, mas não estava pronto para um amor correspondido. 

Não estava pronto para a reciprocidade, para o mínimo, para selarem o que sentiam juntos. Precisava apenas que o outro soubesse, pois o processo de falar em voz alta o que sentia já havia sido um grande passo para ele.

O recíproco é muito difícil quando sempre se esperou por isso, e nunca o teve. Diego não saberia lidar com isso, não ainda. Mas sentia. Sentia em cada célula de seu corpo os sentimentos de Amaury. E sabia, no fundo, sabia, que o maior podia entender.

Ele sempre entendia.

—  Eu aviso... —  passou a língua pelos lábios de Amaury, e percebeu quando o maior suspirou, fechando os olhos. — Meu grande amor...

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— AFASTA!

O doutor Lorenzo estava numa sala cheia de enfermeiras e residentes, em uma situação de emergência. O desfibrilador estava contra o peito de Maria e descarregou a carga elétrica por todo o corpo pequeno, fazendo-o saltar sobre a maca.

Ele afastou o aparelho e olhou para o monitor.

Os batimentos voltaram.

Rapidamente, a equipe tomou a frente. Enquanto uns administravam o suporte de respiração, outros empurravam a maca, a transferindo para outra sala, onde seria observada.

Amaury deu instruções a um dos residentes para que adicionassem as informações sobre a parada imediatamente ao prontuário, dando mais especificações sobre o que deveria ser realizado na paciente nas próximas horas. Seriam horas importantes, capazes de decidir o destino de uma garotinha de cinco anos.

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora