IX.

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A semana havia recomeçado, e com ela a sensação de desamparo quando Amaury precisou sair para trabalhar e deixar Diego. O fim de semana foi mais do que ele esperava que seria. Se fosse sincero consigo mesmo, notaria que não se lembrava da última vez em que descansou de fato.

Não sabia dizer quando teria outra oportunidade, então aproveitou ao máximo para beijar Diego e colar seu corpo o quanto podia e o quanto desejava, ainda que quisesse mais.

Aparentemente, ter um final de semana tranquilo muda seu humor, pois até liberou os residentes da chamada oral que geralmente fazia às segundas. Amaury liberou.

— E aí... comeu?

A pergunta direta demais de Samuel tirou Amaury dos devaneios em que se encontrava, ainda preso no apartamento pequeno no quinto andar. Ele estreitou os olhos e fechou a cara.

— Você sabe que não precisa ser tão baixo, né?

— Tá bom, desculpa. — Samuel riu, erguendo as mãos em rendição. — Fez amor com seu querido colega de apartamento?

— Não.

— Como não? Sua pele está ótima!

Amaury revirou os olhos, se recostando na cadeira. O refeitório ainda não estava cheio, mas estava começando a encher. Ele achou que ali não era um bom lugar para falar sobre nada, mas conhecia bem Samuel. Fofoqueiro como é, o perturbaria o dia inteiro.

— Não, não fizemos isso que sua mente pecaminosa está pensando. Foi só... nós, juntos. Vimos uma série, pedimos comida, conversamos bastante. Rolou umas coisas, mas sexo não.

— Eu sempre soube que, da turma, você era o mais lerdo mesmo.

— Não é tão simples assim, cara.

— Como pode comer alguém ter se tornado uma grande questão, doutor Lorenzo? Faz tanto tempo assim que você não come ninguém?

Samuel levou um tapa na nuca, o gesto fez barulho chamando a atenção dos outros médicos e residentes do hospital. Uma enfermeira riu.

— Diego não é alguém qualquer. — sussurrou Amaury para o neurocirurgião. — Ele é alguém maravilhoso que acabou de sair de um relacionamento complicado. Eu li o boletim de ocorrência.

— O que exatamente isso significa?

— Significa que ele não me contou tudo, e eu não quero ultrapassar limites que ele nem sabe que tem.

— Mas cara, vocês já ficaram antes.

— Eu sei, mas... Não foi do jeito que eu gostaria e foi antes de conhecer ele. Sei lá, eu só não quero ultrapassar os limites. Não dá, não assim.

Samuel não falou mais nada por um minuto, até voltar a falar e tirar a paciência que Amaury havia adquirido no final de semana.

— Cara, mas como você conseguiu não... Tá, eu vou parar.

· ✧ .

"di,
acabei lendo, sem querer, um bó
gostaria de saber mais sobre se não se importar...
amaury"

"oi amaury,
não me importo em contar... eu queria ter te contado antes, mas você me distrai demais pessoalmente. o que aconteceu foi que meu ex acabou sendo violento, ele era abusivo mas nunca tinha tentado nada, sabe? então um dia ele teve um acesso de ciúmes e meio que socou a parede atrás de mim, passou de raspão pelo meu rosto. esse é um resumo, acho que é o que consigo falar sobre. depois disso eu abri um bó e acabei fazendo alguns exames de corpo de delito. enfim, resultou que o bó me ajudou a conseguir a medida protetiva agora. meu amigo Bruno é advogado e me ajudou. desculpa não conseguir falar mais sobre isso, prometo que te conto mais um dia. talvez a terapia me ajude (estou fazendo).
bjos diego."

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora