Quando o episódio acabou, eles realmente foram dormir.
Diego foi para o banheiro, escovou os dentes e pulou todas as etapas de skincare que geralmente fazia. Amaury precisou atender uma ligação de trabalho, estava na cozinha, e parecia sério demais. Diego podia ouvir a voz dele no quarto quando se deitou — do seu lado da cama — enquanto "esperava".
Sentia-se como um adolescente, não imaginou que ficaria nervoso apenas por dormir. Mas dormiria com Amaury, o que era, de certa forma, empolgante e apavorante, e entre outras mil coisas.
Amaury, no telefone na cozinha, se segurava muito para não sair correndo para o hospital. Não que quisesse, mas sentia que precisava. O residente do outro lado estava fazendo perguntas que ele deveria saber, e isso deixou o doutor ansioso. Depois de repassar um procedimento simples que aquele adolescente deveria saber, ele finalmente desligou o telefone.
Ele passou no banheiro antes de ir para o quarto.
Era estranho, ao mesmo tempo que não era, estar em seu quarto com alguém ali. Ele se deu conta de que raramente levava pessoas a sua casa, sempre em relacionamentos apenas com sexo em lugares insalubres. Ter alguém em sua cama depois de um dia inteiro no sofá, regado a beijos, abraços quentes e pipoca, era definitivamente algo novo.
Foi a melhor folga que Amaury teve em um bom tempo, e ele nem sabia que precisava disso. Mal estava pensando em Leo no Brasil, e só pensou nisso porque recebeu uma mensagem no celular logo depois de terminar a ligação. Ele nem abriu, apenas deixou o celular o mais longe possível da cama.
Agora, deitados cada um de seu lado da cama, tinham apenas a luz do varal de luzinhas que Diego havia colocado no quarto porque, às vezes, durante a noite, precisava de um pouco de luz para conseguir dormir. Eles estavam morrendo de sono, mas, ainda assim, não queriam dormir.
— Aconteceu algo? — Diego quis saber, com a bochecha contra o travesseiro.
— Não, nada sério. — Amaury estava deitado com a barriga para cima, mas virou a cabeça para encarar o ruivo ao seu lado. — Residentes, sabe? Muito parecido com a série, mas na vida real, com pacientes reais, é bastante preocupante.
— Você... não vai para o hospital, vai?
A pergunta saiu mais manhosa do que Diego tinha planejado, e ele se sentiu acuado quando Amaury sorriu, negando com a cabeça.
— Num vou, não. Vou dormir aqui. Exatamente onde eu deveria estar em um dia de folga.
A coberta enorme que os cobria permitia que, por baixo dela, Amaury tomasse uma das mãos de Diego na sua, brincando com seus dedos enquanto seus olhos escaneavam o rosto do rapaz.
— Como você escolheu que queria ser médico? — Diego perguntou, em partes porque queria saber e em outra porque estava com vergonha e queria mudar de assunto.
— Pra ser sincero, eu queria ser dançarino. — ele sorriu com a cara de surpresa de Diego. — Mas quando eu tinha uns... quinze anos, acho, eu sofri um acidente e quebrei a perna. Acabei ficando no hospital para observação.
— Imagino que dona Fátima tenha surtado.
— Ah, surtou sim. E prometeu de dar uma surra quando eu saísse de lá. Mas no tempo que fiquei lá, foi incrível ver como tudo funcionava dentro de um hospital, e eu vi um doutor dar uma boa notícia a uma família. Não sei até hoje do que se tratava. Mas a família ficou tão feliz que eu... eu quase vi Deus naquele médico.
— Isso é... Isso é muito bonito. — Diego já estava mais próximo dele, puxando o travesseiro.
— Acho que sim... — ele enlaçou os dedos na mão de Diego. — Acho que foi quando eu decidi que queria isso. Salvar pessoas, ou pelo menos tentar. Minha mãe não me bateu naquele dia pois eu usei isso pra distrair ela.
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quinto andar | dimaury
FanfictionAmaury, um médico geral do SUS, e Diego, um publicitário e drag queen, dividem o mesmo apartamento sem nunca se encontrarem. Se comunicam apenas através de post-its enquanto vivem suas vidas em horários opostos. Entre as trocas escritas, descobrem q...