XII.

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"oi, amaury
dona fátima ligou, ela pediu pra você ligar pra ela e
pediu pra eu te falar que você tem mãe.
bjoos diego."

"eu liguei pra ela semana passada
amaury."

"oi amaury,
semana passada já passou, você não ligou essa semana.
LIGA PRA SUA MÃE HOJE!
bjoos diego."

· ✧ .

Diego abriu mais um boletim de ocorrência. Bruno o orientou a abrir mais um, já que Dante havia quebrado a medida protetiva.

Já estava ficando experiente nisso, apesar de ser algo de que não deveria se orgulhar. Mas quando se passa muito tempo para perceber que está preso e finalmente sai dessa situação, passos pequenos se tornam grandes conquistas.

— Segundo o artigo 24-A da Lei Maria da Penha, ele pode pegar de três meses a dois anos de detenção. Vou marcar uma audiência. A sua medida protetiva pode ser prorrogada, agora que ele a quebrou. — Bruno falava rápido, e Diego fingia que estava entendendo alguma coisa. — Vou incluir o novo boletim de ocorrência no processo.

— Espera. Então ele vai ser preso?

— Vai depender do juiz, mas temos as provas de que ele te ligou. Já solicitei a gravação para a operadora. — Bruno suspirou, com um semblante cansado. — Nos resta aguardar agora. A lei nem sempre é como gostaríamos, mas você fez bem, amigo. Fez mesmo.

Estavam no apartamento, Diego estava em seu horário de almoço em seu primeiro dia de home office, e por algum motivo, Amaury não tinha voltado do plantão. Diego percebeu que era mais comum Amaury dobrar plantão do que ele pensava.

— Já conversou com seu boy sobre você trabalhar de casa? — Bruno perguntou, enquanto comia com Diego. 

O menor tentou reproduzir a receita do macarrão de Amaury, mas esqueceu de temperar. Não estava ruim, mas também não estava bom. Estava comível.

— Ainda não... — encolheu os ombros. — Eu queria falar pessoalmente, mas não tive oportunidade.

— Sei... Estava com a boca ocupada, aí esqueceu do que era importante.

— Oh, Bruno! Pelo amor de Deus, né! — Diego bufou, mas acabou rindo. — Eu deixei um post-it na mochila dele quando ele saiu pro trabalho, espero que ele veja.

— Já pensou que, de repente, você poderia, sei lá, mandar uma mensagem no WhatsApp? Tipo, é só mandar uma mensagem!

— Poderia. — Diego parou por um minuto, como se aquela fosse a maior ideia do mundo. — É mesmo, né? Eu não sei por que a gente nunca conversou por mensagem, acho que acostumamos com post-its.

— Sabe quem também se comunicava por post-its?

— Quem?

— Os Incas, amigo. Os Incas!

· ✧ .

Quando Amaury chegou no hospital, encontrou uma sequência de post-its verdes colados em um dos seus livros quando o tirou da mochila. Foi inevitável abrir um sorriso.

"oi amaury,
eu queria ter te contado pessoalmente, mas não deu. eu fui meio que promovido no trabalho, e agora tenho alguns dias de home office. sei que nosso contrato diz que o apartamento é seu de dia, mas às vezes eu vou estar aqui. prometo não perturbar seu sono, eu fico na sala trabalhando quietinho. às vezes posso sair para trabalhar em outros lugares se preferir. desculpa não ter avisado antes.
bjoos, diego."

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora