XXIV.

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QUATRO DIAS DEPOIS

Amaury quase ganhou uma cama no quarto de Diego, porque os últimos dias de Diego ali foram com Amaury supervisionando o trabalho das enfermeiras. Ele até ajudava com a medicação e a alimentação do paciente. Não podia fazer muito com um braço só, mas gostava de ser útil.

As enfermeiras é que não gostavam.

A família deles já estava mais tranquila quanto aos dois, de modo que, no terceiro dia, não precisavam mais ir ao hospital. A família de Diego esperou para que pudessem voltar juntos para São Paulo.

Receitas, medicamentos e prescrições médicas, assim como a guia para a fisioterapia — para os dois — foram tudo o que foi passado antes de partirem de vez.

— Acho que é isso... — Leo anotava no prontuário dos dois. — Diego não deve fazer nenhum esforço e vai ser útil ter um médico em casa, pois não vai precisar ir à UPA para a troca do curativo no peito ou retirada dos pontos. Vai ser bem tranquilo.

— Obrigado, Leo. — Diego respondeu, assentindo.

Amaury ainda não conseguia entender como Diego podia ser tão... ele mesmo. Diego havia conquistado boa parte da equipe médica e até se aproximou de Leo, o que era tão estranho para Amaury que ele decidiu simplesmente aceitar.

Mas o mais curioso eram as enfermeiras, trocando números com Diego e prometendo ir ao seu próximo show. Ele convidou todo mundo, mesmo sem ter uma data ou previsão de quando estaria recuperado.

Até Leo foi convidado. Não havia muitos motivos para Diego não se dar bem com Leonardo, mas não era como se tivesse motivos também.

— E Amaury... Você precisa continuar tomando seus remédios por...

— Por duas semanas, e depois voltar para refazer alguns exames. — Amaury interrompeu, pois foi mais forte do que ele. Acabou ganhando um soquinho de Diego, no ombro bom. — Ai!

— Deixa o doutor falar! Você parece a Hermione interrompendo ele, coitado!

— Mas eu já sei de tudo isso que ele está falando, amor.

— Eu sei, meu bem. Mas finge que não sabe, pelo menos! Vai Leo, fala.

— Tudo bem, Diego. Eu me acostumei com seu namorado fazendo isso, ele sempre foi assim. — Leo falou distraidamente, carimbando receitas.

— Bom... É noivo agora. — Amaury corrigiu, e Diego sentiu as bochechas ficarem vermelhas.

Leo ergueu os olhos para os dois, franzindo o cenho até seu olhar pousar sobre as alianças que ambos estavam usando. Diego achou que ele já tivesse notado, mas aparentemente não. Percebeu muito rapidamente uma fagulha de surpresa misturada à frustração no olhar do médico. Diego aprendeu a ler Leo muito rápido.

— Ah. — exclamou, pigarreando. — Parabéns! Fico feliz.

O menor quis rir, porque, sinceramente, a situação era tão estranha que a temperatura no quarto caiu para menos mil graus. Leo parecia completamente desnorteado, olhando de um para o outro e para as receitas, como se de repente tivesse esquecido o que estava fazendo.

— Obrigado. — Amaury respondeu, se levantando. — Acho que podemos ir agora, né?

— Podem, sim. — Leo entregou um envelope com tudo que precisariam para Amaury. — Vou pedir uma cadeira de rodas para Diego. Boa recuperação para os dois. E, se precisarem... Bom, acho que não vão, mas se precisarem, podem ligar.

Ele conseguiu sorrir, mas antes de sair do quarto, Diego o chamou. Não entendeu muito bem suas próprias ações, mas faria aquilo com qualquer um, fosse quem fosse.

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora