Amaury tinha dito vinte minutos, mas demorou um pouco mais.
Antes de entrar no apartamento, ainda dentro do carro na garagem do condomínio, ele ligou para dona Fátima. Havia falado com ela alguns dias antes, e ela tinha conversado mais com Diego do que com ele, então não se surpreendeu quando ela atendeu e a primeira coisa que fez foi perguntar sobre Diego.
— Ele está no apartamento agora, preparando nossas coisas. A gente vai ver a família dele, e depois vamos aí, mãe. De férias!
Ele escutou um grito de comemoração de dona Fátima do outro lado da linha, seguido de uma risada alta.
— Ah, finalmente! Já faz meses que não vêm, filho. Diego vai adorar a paz daqui!
— Acho que vai, sim. — ele sorriu. — Mãe, eu queria te pedir uma coisa...
— Pode pedir, querido. O que é?
Alguns anos atrás, Amaury tinha pedido para a mãe a aliança de sua avó. Era uma joia que estava na família há gerações, e sua avó a havia deixado para ele, para o dia em que tivesse um compromisso.
"Encontre alguém que te faça rir, Amaury Thiago. Encontre alguém que te faça rir!", foi o que a senhora falou ao neto quando lhe mostrou a aliança fina, prateada, com pequenas pedrinhas brilhantes entalhada.
Anos atrás Amaury a poliu, pois achou que Leo era a pessoa certa para usar.
Mas Leo nunca foi capaz de fazer Amaury rir.
Na época, dona Fátima se recusou a entregar a aliança, falou que não confiava naquele rapaz que Amaury havia arrumado. Ela simplesmente tirou a aliança de Amaury, e ele nunca mais a viu, e também não tocaram mais no assunto.
Meses depois, Leo o traiu. Por sorte, ele não gastou com alianças, já que o ex havia comprado as deles e ficou com elas depois de tudo, já que não significavam nada.
Agora era diferente. Tão diferente que Amaury queria desesperadamente que Diego usasse aquela aliança. Sua avó ia amar conhecer o pequetito, ele pensou que Diego usando a aliança a deixaria sempre próxima a ele.
A eles, na verdade, já que não pretendia sair do lado de Diego até que fossem idosos, até que deixasse de respirar.
— Eu preciso da aliança da vovó. — ele engoliu em seco. — Eu preciso dela agora e é pra valer, mãe.
Dona Fátima não respondeu por vários minutos, e ficou um silêncio na linha. Amaury começou a batucar os dedos no volante, ansioso. Se a mãe não entregasse a aliança, seria um sinal para ele dar dois passos para trás e rever todos os seus sentimentos. O que seria impossível.
Mas o que veio a seguir foi outro grito. Ouviu a mãe falar algo com o pai, depois a voz da irmã e o que pareceram ser suas tias. Parecia final de Copa do Mundo, porque houve toda uma gritaria do outro lado da linha.
— Finalmente! O Diego vai amar!
Amaury ria.
— Eu num disse que era para o Diego...
— Meu filho, se fosse para outra pessoa, eu não entregaria. Óbvio que sei que é para o Diego. — ela estava com a voz embargada de emoção. — Eu sabia que você pediria, então seu pai e eu pedimos para um amigo da família fazer outra.
— Como assim, outra?
Era uma aliança, uma só. Não tinham um par. Amaury se perguntou em que momento dona Fátima pensou em tudo aquilo.
— Outra, querido, assim você e Diego podem usar juntos. Foi um amigo do seu pai que fez aqui em Minas, ele usou nossas alianças de namoro para fazer a sua! Agora Diego tem um pouquinho da sua avó, e você um pouquinho da gente.
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quinto andar | dimaury
FanfictionAmaury, um médico geral do SUS, e Diego, um publicitário e drag queen, dividem o mesmo apartamento sem nunca se encontrarem. Se comunicam apenas através de post-its enquanto vivem suas vidas em horários opostos. Entre as trocas escritas, descobrem q...