XVI.

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O celular de Amaury tocou tão alto que ele precisou de alguns minutos para entender onde estava. Tateou em busca do aparelho e acabou acordando Diego, que resmungou alguma coisa, acordando junto, rolando na cama.

— Alô?

Amaury? — era Samuel. — Onde você está agora?

— Em casa, por quê? Aconteceu alguma coisa?

Quando se é médico e recebe uma ligação como esta, você automaticamente se levanta e começa a se vestir, pois sabe que vai ter que ir para o hospital. Amaury levantou rápido, buscando as roupas pelo quarto que estava uma bagunça mesmo antes de saber do que se tratava. Diego se apoiou nos cotovelos, olhando toda a agitação do doutor, ainda sonolento, sem entender nada, nem seu nome nem onde estava.

Dante deu entrada no hospital, parece que a viatura se envolveu em um acidente na madrugada, a polícia não deu detalhes.

Amaury parou, com a calça nos joelhos. Ele encarou Diego, que a essa altura já estava desperto, vendo algo despretensiosamente no próprio celular.

— Ok. — foi tudo que disse.

Eu preciso que me acompanhe em uma cirurgia. — Samuel diminuiu o tom. — Cara, eu não ia te pedir isso, mas não há nenhum cirurgião de plantão hoje e você está mais perto. Os dois policiais que o tiraram de lá ontem também vão precisar de cirurgia. Foi mal, cara.

— Samuel, tudo bem. Sou médico, fiz um juramento, lembra? Chego em vinte minutos, pede pra Marta preparar a sala, estou indo.

Não deixa o Diego entrar na internet e nem ligar a televisão, saiu em todos os jornais! Foi na Marginal Pinheiros, algumas pessoas ficaram feridas e outros acidentes aconteceram. Está tudo parado, então vem por dentro.

E desligou o celular.

Amaury tinha duas opções: a primeira era não falar nada a Diego e ir para o hospital fazer seu trabalho. E a segunda era contar que o ex dele estava em estado grave, e causar uma preocupação ou remorso em Diego, ou qualquer outro sentimento que se sente quando uma pessoa que você não gosta vai para a sala de cirurgia.

Antes dele pensar naquilo, Diego já estava sentado na cama, com os olhos arregalados.

— Eu vi no Twitter. — ele estava pálido, e não como fica quando acaba de acordar. Pálido em choque. — É o Dante, não é?

— Diego, eu... — Amaury assentiu, enquanto vestia o sapato. — Sim. Sim, Samuel me ligou. O estado é grave, não sei o quanto, mas... Ele vai passar por uma cirurgia.

— E você vai operar ele?! — Diego saltou da cama, completamente pelado, desnorteado procurando as próprias roupas. — Você? Num tem outro médico em São Paulo?!

— Eu. — Amaury jogou a camisa para ele, indo para o banheiro. — E o Samuel. Levaram ele para o nosso hospital, e eu estou mais próximo. É meu trabalho, Di. 

— Eu sei, doutor! Mas... Você tem certeza disso?

Amaury já estava lavando o rosto e escovando os dentes, mas parou com a pergunta, aparecendo na porta do banheiro para encarar Diego, que já tinha vestido a roupa e estava correndo para a sala atrás dos sapatos.

— Sim, eu tenho. Por que a pergunta? — gritou do corredor, enquanto secava o rosto.

— É que... Dado todo o contexto, isso... Operar ele, vai te fazer bem, amor? — Diego gritou de volta, da sala. — Digo, seu psicológico, como... Como você vai lidar com isso, Amaury? Tipo, ontem mesmo você deu um soco nele e hoje a vida dele vai estar nas suas mãos!

quinto andar | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora