Sofrimento

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Matteo


Eu não entendia muito bem o valor do sentimento até Élio aparecer na minha vida de forma tão repentina. Nunca imaginei que em minha miserável existência eu pudesse viver um amor tão verdadeiro e intenso... O que eu mais me lamentava era a forma como ele havia me deixado. Não somente a mim, mas também a todos que o amavam incondicionalmente. Nossos amigos, Grace...

O jeito precoce e totalmente doloroso como o pequeno havia morrido me assombrava todos os dias. Era ainda pior durante a noite, quando eu deitava minha cabeça no travesseiro. Dormir se tornou uma tarefa impossível. Eu estava acabado. Poderia dizer que meu corpo estava definhando. Parecia ser o início do meu fim.

Cinco dolorosos dias haviam se passado desde o sepultamento do maior tesouro que eu já obtive em minha existência em preto e branco. Cada vez mais eu tinha certeza que o colorido que Élio havia trazido durante o breve momento em que esteve presente em minha vida, jamais voltaria. Eu estava sem esperanças de voltar a esboçar um mínimo sorriso que fosse.

Eu já não saía mais de casa. Não conseguia. Meus amigos bem que tentavam entrar em contato comigo, mas eu não os dava qualquer resposta.

Preferia ficar trancado em minha enorme e silenciosa casa. Não queria ver ninguém... Não queria falar com ninguém. Eu sei que eles deviam estar super preocupados comigo, mas minha dor interna era maior do que qualquer outro sentimento. Eu precisava ficar sozinho, com minha dor... A dor da ausência do Élio era muito persistente e não havia nada que eu ou qualquer outra pessoa pudesse fazer para que ela parasse de ser sentida.


Era manhã do sexto dia desde a despedida final do meu amor. Eu estava deitado em minha cama. Assim como nas noites anteriores, eu sequer conseguia pregar os olhos... Com certeza eu estava com uma aparência de morto-vivo ainda pior.

Meu telefone começou a tocar. Ele estava ao lado do travesseiro e eu apenas o peguei e li no visor: Diretora Ofélia.

Eu não atendi. Assim como não atendi às várias ligações anteriores de meus amigos que pareciam não se cansar de tentar entrar em contato comigo. Mas as chamadas da feiticeira-mor se mostravam insistentes. Atender? Não... Eu não queria e não conseguia falar com ninguém. Minha dor era mais fortes do que a persistência das chamadas da velha feiticeira.

Não suportando mais tanto incômodo, me levantei da cama e fui para o banheiro. Escovei os meus dentes, em seguida entrei embaixo do chuveiro e fiquei lá por longos minutos enquanto a água quente percorria todo o meu corpo. Seria maravilhoso se aquela mesma água levasse ralo a baixo toda a dor e sofrimento que eu estava sentindo, mas infelizmente, aquilo não era possível... Infelizmente essa magia não existia.

Depois de um bom tempo, saí do banheiro enrolado em um dos meus roupões pretos. Caminhei até à janela e abri as cortinas. O dia lá fora estava nublado. Uma leve brisa soprava balançando os galhos das árvores, e mesmo sem poder sentir, eu imaginava que com certeza o frio se fazia presente. O frio que era marca registrada de Avonlea.

Fiquei parado de pé em frente à janela olhando aquele dia triste e escuro lá fora... Consegui perceber o exato momento em que tímidos flocos de neve começaram a dançar no ar. Agora eu tinha certeza que o dia estava realmente frio lá fora, a tristeza em meu interior só fez por aumentar, pois a neve me lembrava dos momentos mais felizes que eu já havia "vivido".

Momentos ao lado do meu pequeno, que agora, já não estava mais entre nós.

Élio... Até quando eu conseguirei suportar a dor de sua ausência? A pior de todas as dores... Pior que qualquer dor física que eu me recorde de já ter sentido em toda minha cruel existência...?

O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}Onde histórias criam vida. Descubra agora