Sandy
Ilustração de Sandy na Mídia
Depois da morte de Élio e Mare, eu pedi para a feiticeira-mor me mudar de escola, pois a dor de ter que olhar para os corredores onde vivi momentos bons com meus amigos era de mais para mim. Eu estava saindo do colégio naquele início de tarde. Flocos de neve pairavam pelo ar com uma leve brisa que se fazia presente naquele dia escuro e triste. Lembrar de minha melhor amiga, e também do doce e amoroso Élio fazia com que tudo ficasse ainda mais pior. A sensação de perda que não só eu, mas todos nós que éramos muito próximos aos dois sentíamos, estava nos consumindo.
Caminhei até próximo à saída do portão principal e logo avistei o Jeep do meu namorado estacionado um pouco mais à frente. No banco de trás, Gregori estava acomodado e olhava para o céu. Seu semblante era vazio.
Observar aquela cena a uma certa distância, fez-me lembrar da última vez em que aquele veículo estava completo, onde Élio e Mareena também se apertavam nos bancos traseiros dividindo espaço com Gregori e Matteo.
Matteo não respondia às nossas mensagens, não atendia às nossas ligações... Desde o velório do Élio ele havia desaparecido. Não falava mais com a gente. Eu sinceramente, temia que ele pudesse acabar fazendo alguma besteira. Renan havia me contado que ele não estava indo nem para a escola mais. Precisávamos fazer alguma coisa para pelo menos tentar fazer com que nosso amigo saísse de dentro de casa. Ele não podia ficar mais tempo sozinho.
- Oi... - Cumprimentei os garotos enquanto abria a porta do Jeep e me acomodava no acento ao lado de Renan.
- Como foi o dia? - Quis saber meu namorado depositando um leve beijo em minha bochecha.
- Não há muito o que falar... A chatice e tristeza de sempre... Como se tivesse um vazio no tempo, e algo faltando.... - Respondi abaixando a cabeça.
- É porque realmente está faltando algo. - Gregori disse. - Ou melhor...Faltando "dois alguém"!
- Greg... Pega leve maninho. - Pediu Renan ao amigo.
- Não é nada, amor... Sabemos como é difícil essa situação. Eu só me expressei mal, Greg... Foi mal...
- Sem problema, Sandy... Eu sei que não fez por mal. É que eu realmente não estou sabendo lidar com a perda daqueles dois imbecis! - Gregori soltou um risinho melancólico. - Quem poderia imaginar?! Que eu sentiria tanta falta deles eles. No início a gente só fazia por brigar. Quantas vezes eu machuquei o Élio...
- Greg... - Renan cortou o amigo. - Eu também fui o maior cuzão com o carinha... Eu sei o que tá sentindo. Mas por favor meu chapa... Não se martirize tanto!...
- Isso mesmo, o que foi feito, foi feito! - Falei. - Passado é passado! Não adianta vocês ficarem se lamentando por certos tipos de comportamento idiotas agora. O importante é que no decorrer de toda história, Élio e Mare perdoaram vocês dois... E uma amizade linda nasceu.
- Olhando por esse lado... Vocês tem razão. Concordou Gregori.
- Claro que tenho. - Fui direta. - E não só vimos uma grande amizade nascer, como também fomos testemunhas de um amor que até então, muitos julgariam improvável: o amor entre Élio e Matteo. - Nessa hora eu já podia sentir meus olhos cheios de água. - Me sinto muito feliz por ter feito parte da história de amor dos dois. Mesmo que tenha sido breve, foi intensa e sincera.
- Verdade. - Concordou meu namorado. - Quem diria né? Que um garoto humano pudesse virar nossas vidas de ponta a cabeça e dominar o coração impenetrável de Matteo...?
- Falando nele... - Gregori mudou de assunto. - Matteo não atende minhas ligações, não responde nenhuma das minhas mensagens...
- Não é só com você. - Tranquilizei-o. - Ele está fazendo o mesmo com todo mundo.
- Bem... Vocês acham... Acham que seria uma boa ideia a gente ir até à casa dele?
- O que você acha, amor? - Renan me olhou com dúvida.
Eu fiquei em silêncio por alguns instantes enquanto encarava os flocos de neve caindo. Eu sabia que Matteo estava muito triste, mas também pensava que ele não podia se isolar do mundo e se afastar dos seus amigos. Aquilo só o faria se sentir ainda pior. Todos nós precisávamos de apoio. Se ficássemos todos juntos, seria muito mais fácil enfrentar tudo isso.
- Sandy!... - Gregori tirou-me de meus devaneios.
- O quê?! - Perguntei atordoada.
- E então... O que você acha? É ou não uma boa ideia irmos até à casa do Matt?
- Olha... Sinceramente, não sei se é uma boa ou má ideia... Eu compreendo que Matteo queira ficar um tempo sozinho com sua dor... Mas na minha opinião, deveríamos ficar juntos. Seria bem mais fácil e menos doloroso passarmos por essa situação de luto.
- Então é o que faremos... Vamos tentar unir o que resta de nosso grupo. - Disse Renan girando a chave na ignição.
- Se ele não nos atender... Derrubamos a porta! - Completei. - Ele não pode mais ficar sozinho. Nós precisamos nos unir novamente. Mesmo que a sensação de vazio não passe por completo, uma parcela passará com o tempo se permanecermos juntos.
- Verdade Sandy... Pode não passar nunca, mas será mais suportável se permanecermos perto uns dos outros. - Concordou Gregori.
- Bom... Agora temos que convencer o cabeça dura do Matteo disso. - Disse Renan dando a partida e acelerando.
Meu namorado dirigia rumo à casa de Matteo. Ao longo do caminho eu observava a paisagem daquele início de tarde.
Olhar aqueles flocos de neve espaços pairando pelo ar me fazia lembrar dos momentos incríveis que passávamos todos juntos em dias ou noites de nevasca na casa do Élio. A saudade só fazia por aumentar a cada instante.
Ah como eu queria que o tempo voltasse... Como eu queria poder reviver àqueles momentos novamente. Eu faria qualquer coisa para poder voltar no tempo e ter meus dois amados amigos de volta.
Eu aproveitaria muito mais cada minuto ao lado deles, faria muito mais por eles, diria o quanto eles eram especiais para mim. Tentaria ser mais aberta com relação aos meus sentimentos...
Eu só queria meus amigos de volta. Pena que isso era algo impossível de acontecer. A única coisa que restava a mim e aos outros, era nos conformar e aceitar a vontade do destino. O destino cruel que já havia escrito que perderíamos duas das pessoas que mais amávamos no mundo
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O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}
General FictionA vida é uma caixinha de surpresas, que nos vive pregando peças às vezes boas e às vezes nem tão boas... O segundo livro da Saga O Híbrido.