Gregori

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Élio

O loiro platinado me olhava confuso depois da minha constrangedora cena com a lixeira. Ele coçava a nuca e parecia estar com seu pensamento distante.

Eu caminhei de volta até a banqueta, onde estava sentado antes, e me acomodei novamente. Comecei a sentir uma certa fraqueza. Olhei para o sanduíche em que eu havia dado apenas uma mordida, torci a cara e empurrei o prato na direção de Gregori.

Dei um suspiro na hora, e degluti seguidas vezes na tentativa de manter meu suco gástrico dentro do meu estômago, em seguida olhei para o rapaz e disse:

- É melhor você tirar isso daqui... Até o cheiro não está mais me caindo bem.

- Nossa! - Ele exclamou, pegou o prato e saiu em direção à pia.

Fiquei o observando à distância. Gregori, depois de deixar o prato sobre a pia, foi até o freezer, abriu a porta e começou a dizer:

- Eu posso estar enganado, mas devido ao que aconteceu com você naquela noite, acho que não há outra explicação pro que acabou de acontecer aqui.

- O que quer dizer com isso? - Perguntei enquanto o vi afundar seu rosto dentro do freezer.

Gregori apanhou lá dentro alguma coisa que eu não consegui enxergar o que era. Ele estava cobrindo a minha visão com suas costas. Logo depois, ele foi até o armário, tomou posse de um copo, e em seguida retornou para a pia. Ainda sem conseguir ver o que ele tinha pêgo, continuei a observar cada movimento que ele fazia.

Alguns instantes depois, ele virou-se para mim, e caminhou de volta até a bancada, em uma das mãos ele segurava o copo. Assim que se aproximou, ele debruçou-se e ergueu o copo à altura de minhas narinas dizendo:

- Aqui... Tenta beber isso.

Quando abaixei a minha visão, vi que dentro do recipiente em sua mão havia um líquido viscoso vermelho, era sangue. Deduzi assim que o cheiro finalmente invadiu minhas narinas e me fez salivar. Fiquei assustado com o cheiro daquele liquido ter me causado aquela sensação. Olhei para Gregori e perguntei:

- Mas... Por que parece tão gostoso? O que foi que aconteceu comigo, Greg? Por que esse cheiro me abriu tanto o apetite?

- Eu sabia! - Ele pousou o copo sobre a bancada e voltou a ficar na posição ereta.

- O quê?... - Eu o encarava sem piscar. Engoli em seco. Eu estava assustado com aquilo. - O que aconteceu comigo?

- Você não se lembra? - Ele quis saber.

- De quê?

- Mattei te mordeu, oras! - O rapaz franziu o cenho.

- Mas... Mas... Eu não pensei que fosse ser assim! Eu não pensei que fosse me transformar! Eu não queria isso, Gregori! Não queria! - Conforme eu ia chegando ao fim da frase, eu aumentava meu tom de voz.

Levantei-me da banqueta e saí correndo da cozinha. Eu só queria sair dali naquele momento, minha cabeça estava dando voltas. Eu parecia estar ficando fora de mim. De uma hora para outra, o meu sonho parecia ter se tornado um pesadelo... Eu continuava a correr, agora eu cruzava o grande salão em direção à porta de saída. Eu estava bem... Eu estava me sentindo tão bem, mas aquela revelação parecia ter me puxado para baixo.

Saindo pela porta da frente, me deparei com o jardim. Percebi que o mesmo estava bastante danificado. Minha visão em seguida encontrou a cidade mais ao longe, me surpreendi com vestígios de tanta destruição.

- Céus! O que foi que aconteceu???!!! - Falei comigo mesmo. Eu estava perplexo com aquele cenário.

Caminhei para mais longe do prédio do Ministério, avistei um banco de madeira debaixo de um grande carvalho que estava quase sem folhas. Me sentei ali, e fiquei observando a cidade mais abaixo. Eu podia notar que muitas pessoas estavam trabalhando em reparos, retirada de lixo e até demolição. Observando à aquela distância, as pessoas pareciam pequenas formigas em uma colônia, trabalhando incansávelmente.

O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}Onde histórias criam vida. Descubra agora