Amigos

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Matteo

A

noite já havia chegado. Meus amigos haviam passado a tarde inteira comigo. De certa forma, eu já tinha me esquecido de como era bom tê-los por perto. A insistência deles, acabou por me fazer lembrar do porque éramos tão ligados. Aquela dor que eu sentia jamais passaria, mas eu sabia que com eles por perto, o fardo não seria tão pesado. Eu sabia que eles eram capazes de fazer qualquer coisa por mim, assim como eu era capaz de fazer tudo por eles.

Eu continuava sentado na mesma poltrona de mais cedo. Renan, Sandy e Greg se acomodavam no sofá maior a minha frente. Eu ainda não conseguia olhar para eles, meu pensamento estava distante. Eu encarava o teto com minha cabeça apoiada no encosto da poltrona. Os outros três assistiam TV em um volume muito baixo, uma hora ou outra eles trocavam algumas palavras e também tentavam fazer com que eu interagisse, mas eu preferia ficar quieto... Ainda não estava preparado para conversar. Mas só de saber que eles estavam ali comigo, me fazia um bem danado.

- Matt... - Começou Sandy. - Eu sei que você não está muito afim de conversar... Mas eu preciso te perguntar...

Sem emitir qualquer som e ainda encarando o teto, apenas levantei minha sobrancelha direita, como que permitindo que ela desse continuidade ao assunto. 

- Você não pensa mesmo em voltar para a escola? Não pensa mais em tentar se enturmar e ter uma vida "normal"? - Quando ela disse a última palavra pude notar com minha visão periférica que ela fez o sinal de aspas com os dedos no ar.

Eu suspirei fundo e, em seguida, me ajeitei na poltrona. Agora era a primeira vez que eu olhava diretamente para os meus amigos sentados ali, na minha frente.

- Eu sei que tá sendo difícil pra você, Matt... Mas você se privar de tentar ter uma vida "normal", só vai te consumir e te deixar cada vez pior. - Continuou Sandy.

- Vida normal?! - Retruquei. - Cai na realidade. Que vida?! Se antes eu já não via muito sentido em "me enturmar" imagine agora.

- Matteo... - Renan interveio. - A gente só quer que você volte a conviver com a gente, cara... Pra quem sabe, no futuro, quando você se sentir mais à vontade, você poder sair e se divertir sem temer nada.

- E o que eu devo temer se não voltar para a droga de uma escola onde tem um bando de humano que nem sequer sabe quem somos de verdade! Isso tudo não faz sentido galera! Ficar batendo na mesma tecla todo ano... Todo ano é como se fosse nossa primeira vez... Eu cansei. Vocês não? Não acham que já está na hora de vivermos nossas vidas como bem entendermos? 

- Cara, você está se ouvindo? - Greg entrou na conversa. - Como podemos viver nossas vidas como bem entendermos?! Existem leis. O Ministério da Magia presa muito por essas leis, e nós temos que respeitar! Do contrário, tudo seria um caos.

- São essas mesmas leis que garantem o nosso bem estar e de todas as criaturas mágicas, Matteo. Sempre foi assim. É graças ao Ministério e essas leis, que podemos andar por aí como seres humanos normais. E é assim há séculos. - Completou Sandy.

- Vocês se esquecem rápido das coisas, não é?! - Perguntei em um tom sarcástico.

- O que você quer dizer? - Replicou Greg.

- Parece que vocês se esqueceram que foi esse mesmo Ministério que jogou com as nossas vidas e a de outros inocentes... Parece que se esqueceram que por causa desse maldito Ministério, o Clã Dos Vampiros foi dizimado... Por causa desse mesmo Ministério, Élio e Mareena estão mortos!!! - Soltei tudo de uma vez.

Um breve silêncio pairou. Pude perceber que Sandy engoliu meio que em seco. Os outros dois me encaravam apáticos. Eu sabia que, de certo modo, havia atingido a ferida deles.

Gregori se levantou de onde estava e enfiou as mãos nos bolsos, ele fazia isso quase que automaticamente. Em seguida, ele caminhou até a grande janela de vidro e ficou encarando a noite lá fora totalmente em silêncio.

- Matteo... - Sandy começou mais uma vez a dizer. - Eu sei... Você tem todos os motivos do mundo para odiar o Ministério, nós também temos. Sabemos que no início, eles jogaram muito com a gente e esse tipo de coisa é imperdoável... Mas se tornar inimigo deles não é uma boa idéia... Só pense bem nisso!

- É verdade, meu parceiro... - Renan entrou na conversa. - Você, melhor do que ninguém, sabe o que acontece quando alguém burla alguma lei no mundo mágico. Tome como exemplo o que aconteceu com o seu pai.

- Não quero meter meu passado na conversa! - Fui direto.

- Mas não há como não meter seu passado na conversa, meu amigo... Eu sei que você está com ódio agora, mas tente acalmar seu coração. Assim, quem sabe, você tome uma decisão que não te prejudique diante do Ministério. Só queremos o que é melhor pra você, queremos o seu bem. - Sandy disse calmama.

- Toda essa revolta só vai te fazer mal, e já tivemos coisas ruins demais em um curto período de tempo. - Greg agora falava enquanto continuava a olhar a noite através das grandes janelas de vidro. - Só queremos nosso amigo de volta, junto da gente... Para que possamos ao máximo tentar seguir em frente depois de toda a desgraça que aconteceu.

- Gregori... - Eu ia começar a falar mas ele me interrompeu.

- Não, Matteo... Eu não quero ver mais ninguém que eu me importo sofrer ou morrer... Já perdemos coisas importantes demais. Eu nunca vou me esquecer de quando Mareena me disse, aqui nessa casa que eu não me importo e não amo ninguém além de mim mesmo. E ela estava errada! Eu me importo com você, eu me importava com ela, eu me importava com o Élio! - O loiro desabafava em tom de lamento. - Eu amo vocês, e não quero que nada de mal aconteça a nenhum de vocês, me entende? Agora restaram poucos de nós. Não faça algo que o Ministério desaprove e queira te punir, eu não aguentaria isso!

- Está vendo? - Sandy me olhou. - Até o Gregori está te implorando que não faça nenhuma besteira... Por favor, Matteo... Volta pra escola. Volta pra sua rotina antes que a Diretora Ofélia resolva vir até você. Ela é paciente, mas quando tem que ser rigorosa, ela é.

- Eu preciso pensar, pode ser? É tudo muito recente ainda. Eu preciso pensar... Espero que vocês me entendam. - Pedi quase implorando.

- Já é um começo... - Disse Renan. - Só não faça nenhuma besteira nesse meio tempo, okay? 

- Não precisa se preocupar com isso... Eu prometo que não vou fazer nada que possa prejudicar a qualquer um com quem eu me importo. - Tranquilizei eles.

- Amigo... Só quero que você se lembre que nós também temos todos os motivos do mundo para odiar o Ministério da Magia. - Sandy falava triste. - Mas se eles julgaram que esse plano era o melhor para eles conseguirem prender o Lucius, não há mais nada que possamos fazer. Agora já está feito e o mais importante é que enfim aquele desgraçado está preso!

- Já que tocou no nome desse desgraçado... - Gregori se virou para nossa direção. - Ele vai ser executado ou algo assim? Porque pelo que eu saiba ele infringiu uma infinidade de leis.

- Isso nós vamos saber no dia do julgamento dele. - Respondeu Renan.

- Por mim, aquele desgraçado nem devia ser julgado. Ele matou várias pessoas e usou feitiços proibidos! - Disse.

- Por mim também, mas vocês sabem... O Ministério tem que fazer tudo como manda a "lei" - Sandy disse com um tom de deboche. - Nenhum ser mágico, por pior que seja, pode ser executado sem passar por um julgamento.

- É esperar pra ver, então... - Terminou Renan.

Eu esperava do fundo de todo o meu ser que a justiça fosse feita e que aquele mago desgraçado que acabou com nossas vidas fosse condenado a morte... A morte era um preço pequeno demais pra ele pagar diante de todo o mal que nos causou.

Eu só queria vingança, queria justiça! Queria ver Lucius pagar por tudo de ruim que fez a mim e a todos que eu amava, o ódio por aquele ser maligno estava me consumindo...

O Híbrido: Despertar do Híbrido {Livro 2}Onde histórias criam vida. Descubra agora